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A FUNÇÃO NEUROPROTETORA DA COQ10 E DA CREATINA

Por Isabella Brescia

A creatina (ácido acético metilguanidina) é um composto de aminoácidos presente principalmente nas fibras musculares e no cérebro, sintetizado no fígado, rins e pâncreas. Esse processo envolve a participação de três aminoácidos: arginina, glicina e metionina. Outra forma de obtenção deste aminoácido é derivada da dieta, encontrada em maior quantidade nas carnes. Alimentos como vegetais podem apresentar creatina, mas em quantidades muito pequenas.
A busca por resultados cada dia mais competitivos, mais rápidos e significativos no meio esportivo, levou a creatina a ganhar espaço na mídia durante as Olimpíadas de Barcelona em 1992, onde os vencedores da prova de 100 metros rasos e a campeã dos 400 metros com barreiras confirmaram o uso do suplemento para fins ergogênicos e saíram vitoriosos.
Pesquisas mostram que o papel da creatina não se restringe apenas aos efeitos ergogênicos. Suas propriedades oferecem esperança quanto ao valor terapêutico em processos de neurodegeneração, envolvendo o déficit bioenergético do sistema nervoso. O sistema que envolve creatina/fosfocreatina, catalisada pela enzima creatina quinase (CK), desempenha papel fundamental na manutenção do equilíbrio energético do cérebro. Alterações da enzima CK associada à diminuição do metabolismo energético, tem sido relacionada a algumas doenças que afetam o SNC, como a Doença de Huntington, Alzheimer, Parkinson e Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA).
As doenças neurológicas possuem perda neuronal e disfunções que abrangem uma grande variedade de doenças, dependentes da localização e progressão da desordem. Mas, apesar das particularidades de cada uma, há cada vez mais provas sugerindo a semelhança nos processos bioquímicos envolvidos no fenótipo das patologias. Esses processos incluem: estresse oxidativo, mutações e disfunção mitocondrial.
A necessidade diária de creatina de uma pessoa adulta é cerca de 2g, sendo 1g obtida através da alimentação e 1g produzida pelo fígado. Estudos mostram que vegetarianos precisam sintetizar toda a creatina que necessitam. Em contrapartida, o excesso de suplemento diminui os níveis de enzimas aminotransferase no fígado, diminuindo a síntese da substância.
Estudo relatou que a combinação de Creatina com a Coenzina Q10 (CoQ10) exerceu efeito de neuroproteção significativo. Um grupo de ratos administrados com: creatina a 2%, CoQ10 à 1%, outro com a combinação das duas e ainda um grupo controle, administraram estes respectivos compostos uma semana antes da aplicação do 3-NP (ácido 3 – nitropropiónico, que reproduz as características da Doença de Huntington quando testados em animais, provocando prolongadas deficiências de energia, incluindo degeneração estriatal, podendo assim ser modelo experimental útil). Ao final do estudo observou-se que a quantidade de lesões degenerativas reduziu 47% no grupo tratado com creatina, 38% no grupo CoQ10 e a combinação de ambas diminuiu 87% o volume das lesões. O grupo controle sofreu uma profunda perda de neurônios do estriado, mostrando a possível aplicabilidade de ambas às substâncias em doenças neurodegenerativas.
Com o envelhecimento, os indivíduos apresentam morte celular progressiva das células que produzem a dopamina, mas em algumas pessoas esse ritmo ocorre aceleradamente. A doença de Parkinson tem como característica a diminuição intensa da produção do neurotransmissor dopamina da substância negra, levando a perda da função muscular. Suas manifestações clínicas incluem tremor de repouso, bradicinesia, rigidez muscular, alterações posturais e de marcha. As causas da doença de Parkinson ainda são obscuras, mas acredita-se que estejam relacionados a fatores genéticos e ambientais, associados à disfunção mitocondrial, estresse oxidativo e inflamação.
Uma combinação da Coenzima Q10 com creatina mostrou exercer efeitos neuroprotetores sobre os animais com doença de Parkinson durante a aplicação de um estudo. Um grupo foi suplementado com creatina a 2%, outro CoQ10 a 1%, uma combinação dos dois compostos e ainda um grupo controle. Os resultados revelam uma diminuição de 56% de dopamina no estriado do grupo controle, seguido de 33% no grupo Cr, 26% no CoQ10 e no grupo onde foi feita a combinação de ambos houve uma diminuição de apenas 16% da dopamina, exercendo efeito neuroprotetor significativo.
Os problemas relacionados com o metabolismo energético no Sistema Nervoso Central podem estar associados à disfunção mitocondrial, estresse oxidativo, mutações e ainda excitotoxidade, desempenhando papéis críticos na progressão de doenças neurológicas, culminando em morte neuronal.
A suplementação de creatina mostrou contribuir com a bioenergética cerebral, aumentando os depósitos de fosfocreatina, necessários para a formação de energia e homeostase das células. Ainda se sugere que a suplementação possa interceder a favor das mitocôndrias restabelecendo suas funções e diminuindo a susceptibilidade à apoptose.

Referência bibliográfica
VOGEL, Camila; ROMAN, Alex; DE OLIVEIRA SIQUEIRA, Luciano. EFEITOS NEUROPROTETORES RELACIONADO À SUPLEMENTAÇÃO COM CREATINA. Revista Brasileira de Neurologia e Psiquiatria, v. 23, n. 1, 2019.

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