Por Isabella Brescia
A Nutrição exerce um papel importante no desempenho esportivo e o interesse por recursos nutricionais que possam melhorar a performance de atletas e praticantes de atividade física cresce a cada dia. Os suplementos são usados para auxiliar ganhos de massa muscular, redução de gordura corporal, aumento da força, redução da fadiga, redução da dor pós treino ou ainda melhoria na qualidade de vida ou na performance dos indivíduos. Dentre os suplementos, os aminoácidos são bastante consumidos, dentre os quais a beta-alanina se destaca.
A beta-alanina é um aminoácido não essencial produzido no fígado. Identificada pela primeira vez pelo bioquímico russo Vladimir Gulevich, em 1900, é precursor indispensável na produção de carnosina, um dipeptídeo formado pela junção da beta-alanina com L-histidina por meio da enzima carnosina sintase na musculatura esquelética. No entanto, a produção endógena de beta-alanina é extremamente baixa e, como consequência, as concentrações plasmáticas encontram-se muitas vezes próximas de zero. Desse modo, a ingestão desse aminoácido é fundamental para aumentar a sua disponibilidade no organismo.
Com a suplementação da beta-alanina pode-se observar que ocorre um aumento dos estoques musculares do dipeptídeo carnosina (beta-alanil-histidina), que tem a função bastante eficaz em tamponar o pH intramuscular na prática de atividade física, especialmente em exercícios de alta intensidade e curta duração. A beta-alanina tem maior efetividade na via anaeróbica lática, onde há maior liberação de ácido lático. A sua suplementação promove um efeito tamponante no sistema da carnosina, prolongando o exercício, pois atua contra íons de hidrogênio (H+) da dissociação do ácido lático. O acúmulo desses íons H+ pode causar uma acidose muscular, causando fadiga e dor. Além da sua principal função tamponante, o aumento de carnosina melhora a sensibilidade de Ca+2, o que melhora o desempenho nas fibras musculares tanto de rápida e lenta ação, retardando sua fadiga.
Com contribuição o importante no tamponamento físico-químico do músculo esquelético, a carnosina faz a manutenção do equilíbrio ácido-base, quando ocorre uma elevação de produção de H+ junto a uma maior produção de ácido lático pela glicose anaeróbica, na prática de exercícios intensos. Aproximadamente 10% da capacidade de tamponamento das células musculares é realizada pela carnosina. Se um nível de limiar de acidose muscular compromete o desempenho do exercício de resistência subsequente, então o aumento da capacidade tamponante com a suplementação de beta-alanina pode prevenir a queda da força muscular e, assim, atenuar o efeito de interferência aguda.
A maior parte dos estudos utilizam doses diárias em torno de 65 mg/kg de peso corporal, divididas em 3 a 4 vezes por dia, por um período médio de 10 a 12 semanas. É um suplemento relativamente seguro nessas dosagens, e o único efeito colateral relatado, como uso é uma parestesia transitória, que é minimizada com a divisão da dose diária em 3 a 4 tomadas.
A parestesia é um sintoma caracterizado pela sensação de dormência ou formigamento de alguma parte do corpo. Pode acometer membros como braços, pernas e mãos, assim como também pode se fazer presente em áreas menos comuns, como na boca, nariz e orelha. Este efeito é tipicamente observado quando suplementação é feita com doses únicas superiores a 800-1600 mg. Os sintomas da parestesia ocorrem normalmente 10 a 20 minutos após a sua ingestão e desaparecem geralmente nos 60-90 minutos seguintes. Para atenuar os sintomas, é proposto a divisão da dose diária total (3,2 a 6,4 g/dia) em doses menores (0,8 a 1,6 g/dose), a cada 3-4 horas. Apesar da informação atual ser ainda limitada e de não haver, até à data, estudos com protocolos de suplementação com beta-alanina a longo prazo (superiores a 1 ano), os posicionamentos dizem que a suplementação de beta-alanina é segura em indivíduos saudáveis nas doses recomendadas.
Referência Bibliográfica
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