Escrito por Isabella Brescia.
A enxaqueca é caracterizada por uma dor pulsátil e intensa, que pode afetar um lado da cabeça ou ambos, que se inicia repentinamente podendo ser antecedida ou acompanhada por vários sintomas como gastrointestinais, visuais ou/e neurológicos. Pode iniciar-se em qualquer idade, mas ocorre principalmente em pessoas com idades entre os 10 e 30 anos, afetando mais mulheres do que homens. Estima-se que 12% da população adulta mundial sofrem de enxaqueca. Os desencadeantes mais comuns da enxaqueca são stress, sono irregular, luz solar, menstruação, obesidade e os relacionados a alimentação.
Os desencadeantes alimentares que frequentemente são relacionados ao início de uma crise de enxaqueca são: jejum prolongado, desidratação, consumo de bebidas alcoólicas (vinho tinto, vinho branco, cerveja ou bebidas destiladas) e produtos alimentícios como chocolate, queijos amarelos, frutas cítricas (laranja, limão, abacaxi), linguiça, salsicha e outras conservas de coloração avermelhada que usam nitritos e nitratos como conservantes, café, chá e refrigerante a base de cola, sorvete, alimentos fritos ou ricos em gorduras, aspartame e glutamato monossódico. No entanto, esta relação é controversa e difícil de ser estabelecida uma vez que a sensibilidade as substâncias feniletilamina, tiramina, aspartame, glutamato monossódico, nitratos e nitritos, álcool e cafeína, contidas nestes alimentos, é muito variável entre os pacientes.
Além de agentes farmacológicos, novas estratégias terapêuticas vêm sendo utilizadas na profilaxia e tratamento da enxaqueca, como o uso de nutracêuticos ou suplementos vitamínicos como magnésio, riboflavina e Coenzima Q10. Estudos realizados, na última década, têm indicado que a enxaqueca pode ser causada por uma diminuição na energia mitocondrial, sendo o uso da Coenzima Q10 eficaz na profilaxia desta doença.
A Coenzima Q10, uma vitamina lipossolúvel, sintetizada endogenamente, comumente conhecida como ubiquinona (sua forma oxidada) ou ubiquinol (sua forma reduzida), está envolvida na transferência de elétrons na cadeia mitocondrial, cuja principal função é a produção de ATP, sendo essencial em várias atividades relacionadas ao metabolismo energético. A CoQ10 pode ser encontrada em todas as células do corpo humano, porém as maiores concentrações são observadas nos tecidos do coração, fígado, cérebro e músculo esquelético. Localiza-se na membrana interna das mitocôndrias, possui a capacidade de proteger proteínas da membrana mitocondrial, fosfolipídeos e o DNA dos danos oxidativos, além de poder regenerar outros antioxidantes como o ácido ascórbico e o α-tocoferol.
A CoQ10 é sintetizada pelas células do corpo humano, mas também pode-se obtê-la a partir de dieta, podendo contribuir para a concentração desta enzima no organismo. Pequenas quantidades são encontradas em ovos, cereais, produtos lácteos, frutos secos como nozes e nos vegetais (principalmente espinafre e brócolis), carne vermelha, peixe e aves são fontes ricas em CoQ10. Ela também é comercializada como suplemento alimentar ou nutracêutico.
Em 2002, Rozen et al. elaboraram um estudo para avaliar a eficácia desta vitamina no tratamento preventivo das enxaquecas. O estudo envolveu 32 pacientes que receberam uma dose de 150mg de Coenzima Q10 por dia. Destes pacientes, 61,3% tiveram uma redução superior a 50% no número de dias com migrânea. O número médio de dias com enxaqueca durante o período inicial foi 7,34 e isso diminuiu para 2,95 após três meses de terapia. A média de redução na frequência da enxaqueca após 1 mês de tratamento foi de 13,1%, aumentando para 55,3% até ao final de três meses. A média de frequência de ataques que era de 4,85 durante o período inicial diminuiu para 2,81 ataques até ao final do período de estudo.
Em outro estudo randomizado, duplo-cego controlado por placebo, onde 42 pessoas receberam 100mg de Coenzima Q10 três vezes por dia, durante três meses, verificou-se que a taxa de resposta dos que receberam a vitamina foi de 50%, contra 14% dos que ingeriram o placebo. O número de ataques de enxaqueca por mês foi reduzido no grupo de tratamento de 4,4 para 3,2, sem alterações no grupo do placebo. Além disso, os participantes que receberam CoQ10 também tiveram menos dias com dor de cabeça e náuseas (SANDER et al., 2005).
Dados publicados referentes a estudos de determinação de riscos para a saúde humana indicaram que a CoQ10 apresenta baixa toxicidade, não induz sérios efeitos adversos no ser humano, e que a administração exógena (respeitando o limite máximo de 12 mg/kg/dia) não tem influência sobre a sua biossíntese endógena ou acúmulo no plasma e tecidos após o término da suplementação.
Referências Bibliográficas
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