Por Isabella Brescia
O termo Spirulina (sinônimo de Arthrospira) se refere a um grande número de espécies de bactérias que pertencem ao filo Cyanobacteria. As cianobactérias são organismos procariotos fotossintetizantes; eram anteriormente denominadas algas verdes-azuis. Atualmente se sabe que não estabelecem relação filogenética com o grupo das algas, no entanto, são usualmente denominadas microalgas pela maior parte da literatura.
As aplicações terapêuticas sugeridas para as cianobactérias são extremamente diversificadas, abrangendo: inibição da replicação viral; atividade antitumoral, redução da hipercolesterolemia e outras hiperlipidemias, efeito antidiabetogênico, efeito anti-hipertensivo, modulador do sistema imunológico e regulador da resposta alérgica, aumento da absorção intestinal de vitaminas e minerais, aumento dos lactobacilos intestinais; coadjuvante no tratamento de indivíduos obesos, anêmicos e redução da nefrotoxicidade por metais pesados e medicamentos.
A utilização da cianobactéria Spirulina na alimentação humana tem sido realizada por vários séculos. Quando os espanhóis conquistaram o México, descobriram que os astecas coletavam essa microalga no lago Texcoco e a consumiam na forma de molho à base de cereais, conhecido como chimolli ou molho asteca. Na África, a comunidade étnica dos Kanembous colhia a Spirulina no lago Chad, a desidratava e moldava em tabletes para a venda no mercado local. Os Kanembous também preparavam o dihé, um molho à base de Spirulina, salsa e pimenta, utilizado para acompanhar preparações à base de milho, carnes e peixes, sendo consumido em 70% das refeições kanembous.
Um estudo conduzido com quarenta voluntários de ambos os sexos, de cinquenta anos ou mais, que não possuíam histórico de doenças crônicas, evidenciou um aumento constante dos valores médios de hemoglobina corpuscular média em indivíduos de ambos os sexos. Além disso, o volume corpuscular médio e a concentração de hemoglobina corpuscular média também aumentaram em participantes do sexo masculino. As mulheres com mais idade pareceram se beneficiar mais rapidamente da suplementação de Spirulina. Os pacientes não faziam utilização de suplemento férrico medicamentoso e foram avaliados no início e após seis e doze meses de tratamento. O trabalho também avaliou a influência da suplementação de Spirulina na função imunológica, e teve como conclusão que a Spirulina pode melhorar a anemia e imunossenescência em indivíduos com mais idade. Essas evidências apontam sobre o teor de minerais da Spirulina, bem como de seus efeitos moduladores sobre a mucosa intestinal, que podem favorecer o transporte de nutrientes envolvidos na hematopoiese.
Estudos têm avaliado a atividade antioxidante de microalgas. Os compostos responsáveis por essa atividade antioxidante são os carotenoides, tocoferóis, compostos fenólicos e, mais recentemente, as ficobiliproteínas aloficocianina, ficocianina e ficoeritrina que são os principais pigmentos das cianobactérias. Já são conhecidos mecanismos antioxidantes exercidos por carotenoides, tocoferóis e compostos fenólicos, e há três hipóteses principais para que as ficobiliproteínas exerçam seu efeito protetor. A primeira seria devido à própria estrutura química que atuaria neutralizando as espécies reativas de oxigênio e nitrogênio; essa hipótese tem sido demonstrada tanto in vitro, quanto in vivo. A segunda seria devida às propriedades quelantes de minerais, e a terceira envolveria o incremento do sistema enzimático antioxidante, detectado pelo aumento da atividade detoxificadora da catalase.
Analisando o efeito da suplementação oral de Spirulina (4 g/dia por seis semanas) nos parâmetros séricos (lipídios, glicose, aminotransferases) e na pressão sanguínea de 36 indivíduos adultos, observaram um efeito hipolipidêmico, especialmente para os triacilgliceróis e para o colesterol LDL, mas também indiretamente para o colesterol total; também ocorreu redução da pressão sanguínea sistólica e da diastólica.
Ravi et al. (2010), em seu trabalho de revisão sobre as propriedades imunomoduladoras e antioxidantes de Spirulina, ressaltaram, entre outros efeitos, a estimulação da produção de citocinas e anticorpos, a promoção da atividade de macrófagos, linfócitos T e B, incluindo principalmente as células Natural killers (NK). Dados expostos pelo mesmo trabalho relataram que o pigmento ficocianina exerceu atividade imunomodulatória do por meio de um efeito inibitório sobre a liberação de histamina pelos mastócitos durante a resposta alérgica. Além disso, esse pigmento também suprimiu o crescimento de células tumorais, promovendo a atividade das células NK e induzindo linfócitos do baço a produzirem o fator de necrose tumoral TNF-α.
Já foi sugerido em estudos que a ingestão diária de Spirulina de 6 g/dia para um adulto seria caracterizado como alto consumo; 3 g/dia, consumo médio e 3 – 12 g/mês, baixo consumo sendo a ingestão contemporânea de 1 – 5 g/dia. Estudos clínicos recentes indicam que uma ingestão de cerca de 10 g/dia por seis meses não induziu efeitos adversos.
Apesar do exposto, é importante destacar que uma dieta equilibrada é precedente e essencial ao estabelecimento do estado nutricional adequado. Nenhum alimento pode ser considerado como solução isolada para o tratamento e a redução de riscos associados a qualquer doença crônica não transmissível.
Referência bibliográfica
DE OLIVEIRA, Cristiane Alves et al. Potencial nutricional, funcional e terapêutico da cianobactéria spirulina. Revista da Associação Brasileira de Nutrição-RASBRAN, v. 5, n. 1, p. 52-59, 2013.
RAVI M, De SL, Azharuddin S, Paul SFD. The beneficial effects of Spirulina focusing on its immunomodulatory and antioxidant properties. Nutr and Diet Suppl. 2010;2:73–83.