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Vitamina D

A vitamina D pode vir de fontes alimentares ou através da exposição À luz solar.

Escrito por Isabella Brescia

O papel da vitamina D na regulação do metabolismo fósforo – cálcio, assegurando, entre outras funções, uma mineralização óssea normal, é há muito conhecido. Evidências recentes correlacionam níveis insuficientes de vitamina D com um risco aumentado de desenvolvimento de outras patologias não ósseas: doenças cardiovasculares, hipertensão, neoplasias, diabetes, esclerose múltipla, demência, artrite reumatoide, doenças infeciosas. Os diferentes efeitos da vitamina D são mediados por vários receptores em diferentes órgãos além dos ossos e intestino, como cérebro, próstata, mama, células do sistema imunitário, do músculo liso vascular e em miócitos cardíacos, que regulam mais de 200 genes. Valores plasmáticos suficientes de vitamina D são, portanto, fundamentais para manter uma boa saúde em geral.

A vitamina pode ser sintetizada na pele a partir da exposição à luz solar (radiação ultravioleta na faixa de 290-315  nm) ou vir de fontes alimentares (entre 100-200  UI por dia)  como peixes de águas geladas, gema de ovo, laticínios e cogumelos.

A síntese de vitamina D através da pele é bastante variável, dependendo da pigmentação, latitude, estação do ano, vestuário, idade, uso de protetor solar e condições meteorológicas locais. Os níveis de vitamina D são consideravelmente mais baixos na raça negra do que na raça branca, devido à maior pigmentação da pele. Nas latitudes nórdicas, estes níveis nivelados cerca de 20% desde o final do verão até a ocorrência do inverno, no entanto, 30 minutos de exposição corporal ao sol durante o verão rapidamente originam vitamina D suficiente.

Os níveis de vitamina D podem ainda variar de acordo com fatores hormonais, genéticos e nutricionais. Por exemplo, o Índice de Massa Corporal (IMC) correlaciona-se de forma indireta com os valores séricos de vitamina D, que são menores em obesos. Esta diferença pode ser parcialmente explicada pela diminuição da atividade física e exposição solar em obesos.

Como discutido anteriormente, a deficiência de vitamina D não é somente um fator para doenças ósseas como raquitismo, osteomalácia e osteoporose, mas também pode ter participação no desenvolvimento de doenças malignas, inflamatórias e autoimunes. Adequada concentração sérica desta vitamina é muito importante para todos os estágios de vida, desde o desenvolvimento fetal até a senescência. É consenso que o nível sérico da 25-OHD3 é o melhor indicador de suficiência de vitamina D. Os níveis séricos tidos como adequados ou não ainda são muito discutidos na literatura. Bischoff-Ferrari e col., em 2006, avaliaram qual seria a concentração sérica ótima da 25- OHD3 para resultados não esqueléticos de significante importância para a saúde pública, incluindo função das extremidades baixas, quedas, saúde dental e prevenção de câncer colorretal durante a vida adulta. Os autores concluíram que a concentração sérica que traria maiores benefícios seria aquela em torno de 75 nmol/l (30ng/ml), mas que melhor ainda seria entre 90 e 100 nmol/l 36-40 ng/ml).

A vitamina D usada para fins de suplementação ocorre em 2 formas principais: o colecalciferol (vitamina D3, a forma animal natural) e o ergocalciferol (vitamina D2, derivado das plantas). Estudos sugerem que estas 2 vitaminas são equivalentes; ambas aumentam os níveis séricos de 25(OH)D de forma semelhante, sugerindo uma absorção equivalente. Foi demonstrado, no entanto, que, apesar dos aumentos dos níveis séricos de 25(OH)D serem semelhantes após 3 dias nos doentes tratados com vitamina D3, os níveis séricos de 25(OH)D continuam a aumentar atingindo valores máximos após 14 dias. Nos doentes tratados com vitamina D2 os níveis séricos de 25(OH)D caem rapidamente; ao 14.° dia estes valores são idênticos aos observados antes do tratamento.

Sugere-se que todos os adultos com défice de vitamina D sejam tratados com 50.000 IU de vitamina D3, uma vez por semana, durante 8 semanas, ou o seu equivalente de 6.000 IU/dia de vitamina D3, para atingir um nível sérico de 25(OH)D acima de 30 ng/ml, seguida de terapêutica de manutenção com 1.500-2.000 IU/dia.

Em doentes obesos, doentes com síndromes de mal absorção e doentes sob medicação que afeta o metabolismo da vitamina D, sugere-se uma dose mais elevada (2-3 vezes maior; no mínimo 6.000-10.000 IU/dia) de vitamina D para corrigir o défice de vitamina D e manter um nível sérico de 25(OH)D acima de 30 ng/ml, seguida de terapêutica de manutenção com 3.000-6.000 IU/dia.

Segundo dados da Food and Nutrition Board da National Academy of Sciences dos EUA não foi observado toxicidade com o uso continuado da vitamina D3 em doses até 10.000  UI / dia, numa população adulta saudável. Também o uso de doses elevadas (100.000  UI de vitamina D3, de 4 em 4 meses) se revelou seguro numa população adulta e saudável com idade superior a 65 anos.

Casos de intoxicação por vitamina D são muito raros. Podem ocorrer devido a superdosagens em decorrência de erros na formulação de medicamentos, suplementos e alimentos fortificados, quando a vitamina D é adicionada em quantidade excessiva, ou devido ao abuso da ingestão de suplementos. Longa exposição ao sol e excessiva ingestão de alimentos naturalmente ricos em vitamina D não causam intoxicação dessa vitamina. A intoxicação de vitamina D pode levar à hipercalcemia e/ou hipercalciúria e hiperfosfatemia, resultando em perda óssea, litíase renal e calcificação de vasos sanguíneos e rins, se não for tratada por um longo período. Os sintomas da toxicidade incluem perda de apetite, náuseas, vômito, constipação, poliúria, polidipsia, desorientação, perda de peso e, em alguns casos, pode causar  insuficiência renal.

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