Por Isabella Brescia
A fadiga muscular, que pode ser definida como a incapacidade do musculo esquelético em manter uma determinada tensão ou de manter o exercício físico a uma dada intensidade, é um dos principais fatores que influenciam o rendimento esportivo. Embora sua causa seja multifatorial, evidências indicam um papel relevante da depleção de substratos energéticos e o acúmulo intramuscular de metabólitos como adenosina difosfato (ADP), fósforo inorgânico (Pi), ácido lático, lactato e íons de hidrogênio (H+) como potenciais causadores da fadiga muscular.
A explicação mais clássica e aceita é relativa ao acúmulo de ácido lático intramuscular. O lactato não exerce nenhum efeito negativo sobre a função contrátil do músculo, entretanto os íons de H+ resultantes da dissociação do ácido lático têm real importância na contração muscular, sendo responsáveis por um processo denominado acidose muscular. O acúmulo de H+ proporciona redução do potencial hidrogeniônico (pH), acidificando o meio, contribuindo para a fadiga intramuscular e promovendo uma série de consequências negativas, como redução da tensão músculo-esquelética, inibição da atividade da enzima glicolítica fosfofrutoquinase e limitação da contração muscular.
Uma maneira eficaz de neutralizar esse efeito é o tamponamento desse elemento. Um recurso ergogênico muito utilizado e com forte evidência científica é a suplementação com beta-alanina. A beta-alanina é um aminoácido produzido endogenamente no fígado podendo também ser obtida através do consumo de alimentos como carnes.
A beta-alanina é um precursor limitante da síntese da carnosina, um dipeptídeo formado pela combinação dos aminoácidos L-histidina e beta-alanina através da enzima carnosina sintase. Essa enzima apresenta maior afinidade pela histidina em comparação à beta-alanina. Além disso, a concentração intra e extracelular de histidina é significativamente maior do que a de beta-alanina, o que torna a síntese de carnosina limitada pela disponibilidade de beta-alanina. A carnosina é predominantemente armazenada no músculo esquelético uma de suas funções é tamponar prótons intracelulares, reduzindo a acidose e o tempo de fadiga.
Além de sua função como tampão de prótons, recentemente, outros papéis têm sido atribuídos à carnosina, como proteção contra danos oxidativos, glicação e regulação da sensibilidade ao cálcio. O aumento da carnosina no músculo tem sido considerado um fator de reforço das capacidades físicas e diminuição da fadiga neuromuscular. Porém, a suplementação de carnosina oral é um método ineficiente para elevar os níveis de carnosina muscular nos seres humanos devido ao fato de não ser absorvida em sua forma íntegra.
A suplementação de 1,6g / dia de beta-alanina durante 2 semanas mostrou-se suficiente para aumentar os níveis de carnosina muscular, enquanto benefícios no exercício foram apesentados a partir de doses que variam de 3,2 a 6,4g / dia durante 4-12 semanas. Os indivíduos são aconselhados a suplementar beta-alanina diariamente por um mínimo de 2a 4 semanas com uma dose de 3,2 a 6,4g / dia divididas ao longo do dia (0,8 a 1,6g a cada 3-4 horas). Essa suplementação resulta em um aumento de 20 a 30% nas concentrações de carnosina no músculo em duas semanas, com maiores benefícios observados após 4 semanas (40 a 60% de aumento).
A beta-alanina é absorvida tanto no jejuno quanto no íleo – em taxas semelhantes, e transportada diretamente para a circulação através dos enterócitos, um substrato comum a esse transportador é a taurina, sugerindo, então, que pode haver competição entre taurina e beta-alanina, se ingeridas concomitantemente. Logo, sugere-se evitar o consumo de taurina para impedir essa competição e, consequentemente, o declínio da absorção de beta-alanina. Enquanto o consumo de beta-alanina juntamente com a refeição é eficaz para potencializar o aumento dos níveis de carnosina muscular.
O fracionamento da ingestão de beta-alanina é indicado para evitar os sintomas de parestesia, descritos como formigamento ou coceira causando irritação à pele, que aparece dentro de 10 a 20 minutos depois de consumir o suplemento e pode durar cerca de 60 minutos ou mais. Outra forma de se evitar os sintomas da parestesia é utilizar uma formulação de liberação lenta, reduzindo a concentração plasmática máxima de uma dose única, enquanto a liberação no sangue é mantida durante 6 horas.
Por fim, a suplementação de beta-alanina parece ser segura em populações saudáveis nas doses recomendadas, com moderada a alta probabilidade de aumentar a duração do exercício e desempenho, retardando a fadiga muscular.
Referência bibliográfica
FERREIRA, Carolina Caberlim et al. Atualidades sobre a suplementação nutricional com beta-alanina no esporte. Revista Brasileira de Nutrição Esportiva, v. 9, n. 51, p. 271-278, 2015.
PAINELLI, Vitor de Salles. Influência do estado de treinamento sobre o desempenho físico em resposta à suplementação de beta-alanina. 2013. Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo.
ZANDONÁ, Bruna Amorim et al. Efeito da suplementação de beta-alanina no desempenho: uma revisão crítica. RBNE-Revista Brasileira De Nutrição Esportiva, v. 12, n. 69, p. 116-124, 2018. LAGE, Marcelo Henrique et al. Efeitos ergogênicos da beta-alanina para a performance. Cadernos UniFOA, v. 16, n. 46, 2021.