Escrito por Isabella Brescia
Sempre que falamos em sistema imunológico pensamos nos mecanismos responsáveis pela manutenção das defesas do organismo, ou nas diferentes formas de respostas contra agentes causadores de doenças. Contudo, esse sistema desempenha outras funções importantes e fundamentais para a manutenção fisiológica e prevenção de metabolismos favoráveis ao estabelecimento de doenças crônicas.
Através das reações imunológicas promovemos direta ou indiretamente os processos inflamatórios, infecciosos, controle sobre possíveis células tumorais ou tumores já estabelecidos, reconhecimento e manutenção de nossa microbiota e consequentemente nosso microbioma, além de outras influências bioquímicas distribuídas em todos os tecidos que compõe nosso corpo.
β-glucanas são polissacarídeos constituintes estruturais da parede celular de leveduras, fungos e alguns cereais, que se diferenciam pelo tipo de ligação entre as unidades de glicose da cadeia principal e pelas ramificações que se conectam a essa cadeia. Nas últimas décadas estes polímeros vem recebendo especial atenção por sua bioatividade, principalmente no que se refere a imunomodulação. Além disso, inúmeros efeitos benéficos como prebiótico, antitumoral, antinflamatório, antibacteriano, antiviral, anticoagulante, antimutagênico, hipocolesterolêmico e hipoglicêmico têm sido relacionados à β-glucanas. Uma importante fonte de β-glucana é a parede celular de Saccharomyces cerevisiae, também conhecida como levedura de fermentação, que é amplamente empregada nas indústrias de panificação, cervejaria e sucroalcoleira.
Como prebiótico, limitam o desenvolvimento potencial de bactérias patogênicas, mediante inibição competitiva dos locais de ligação na mucosa intestinal. Contudo, como imunomodulador, estimulam a imunidade celular e humoral, contribuindo para as atividades antitumoral, além de modular a liberação de citocinas e reduzir a resposta inflamatória.
A β-glucana é designada como um modificador da resposta biológica pois, ao ser reconhecida pelo organismo desencadeia uma série de eventos na resposta imune. Em vertebrados este reconhecimento ocorre através de receptores específicos de superfície celular e em seguida o sistema imune é estimulado pela β-glucana em resposta a inúmeras situações prejudiciais ao indivíduo. A modulação da β-glucana inclui a ativação de macrófagos e linfócitos polimorfonucleares, além da indução da expressão de diversas citocinas.
Atualmente, sabe-se que o mecanismo de ação antitumoral das β-glucanas, efetivo inclusive em situações de metástase, atua pela ativação e ampliação das diversas funções imunológicas do hospedeiro, constituindo-se de um tratamento que melhora a imunosobrevivência do hospedeiro ao tumor. Em adição, tem efeito antagônico à imunossupressão decorrente da quimioterapia e de tratamentos com irradiação. Os efeitos antitumorais da β-glucana são baseados principalmente, na habilidade de ativar leucócitos pelo estímulo da atividade fagocítica e produção de citocinas como o TNF-α.
Inúmeras pesquisas realizadas, principalmente no Japão, comprovaram que a β-glucana de levedura realça os efeitos do tratamento quimioterápico e melhora a qualidade da sobrevida com pacientes de câncer tratados com radiação. No referido país, algumas β-glucanas licenciadas para o uso terapêutico vêm sendo utilizadas nas últimas décadas como adjuvantes na terapia antitumoral.
A eficácia imunológica da β-glucana de levedura é bastante documentada em relação ao auxílio, de forma direta e indireta ao sistema imunológico, promovendo estímulos celulares e liberação de citocinas. Estudos recentes demonstraram eficácia na administração de β-glucana no estímulo de destruição de células tumorais e na recuperação de quadros diarreicos crônicos pós quimioterapia e antibioticoterapia.
Referência Bibliográfica
ABBAS, A K; LICHTMAN, A. H; PILLAI, S. H. I. V. Imunologia Celular e Molecular. 7. Ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012.
MAGNANI, Marciane; CASTRO-GÓMEZ, Raul Jorge Hernan. Beta-glucana from Saccharomyces cerevisiae: Constitution, bioactivity and obtaining. Semina: Ciências Agrárias, v. 29, n. 3, p. 631-650, 2008.