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SUPLEMENTAÇÃO COM COLÁGENO EM DOENÇAS ÓSSEAS

Por Isabella Brescia

O organismo humano passa por diversas fases: a infância, a puberdade, a maturidade ou estabilização e o envelhecimento. O envelhecimento é marcado por várias mudanças já a partir da segunda década de vida. No início, essas mudanças são pouco perceptíveis, porém, ao final da terceira década apresenta alterações funcionais e/ou estruturais importantes que resultam da interação de fatores genéticos, ambientais e estilo de vida.

A osteoporose (OP) constitui na enfermidade do esqueleto uma causa multifatorial, caracterizada pela redução de massa óssea e deterioração da integridade anatômica e estrutural do osso, levando ao aumento da fragilidade óssea e suscetibilidade a fraturas. O grupo mais afetado pela OP são as mulheres idosas cuja diminuição da produção de estrógeno após a menopausa acelera a perda óssea.

As doenças degenerativas articulares evoluem lentamente ao longo de décadas com episódios de dor até chegar à perda de função da articulação.  Quando a atividade de regeneração não é superior a uma degradação em ritmo acelerado, leva a um estado de insuficiência osteo cartilaginosa. Até o momento não há cura e os tratamentos disponíveis, farmacológicos e não farmacológicos, atuam na redução dos sintomas, principalmente dor, inflamação e imobilidade.

A cartilagem articular hialina é um tecido avascular, altamente especializado, que recobre a superfície das articulações constituído por 5% de células, os condrócitos, água, proteoglicanos (sulfato de condroitina e o querato sulfato) colágeno e outras proteínas. A água representa cerca de 65% a 85% do peso seco do tecido, enquanto as principais macromoléculas, como o colágeno e os proteoglicanos, representam cerca de 10% a 30% do peso seco do tecido, respectivamente.

A composição e a complexa organização estrutural entre o colágeno e os proteoglicanos garantem as propriedades inerentes à cartilagem articular, como resistência, elasticidade e compressibilidade, necessárias para dissipar e amortecer as forças, além de reduzir a fricção, a que as articulações estão sujeitas, sem muito gasto de energia. Portanto, a integridade dos componentes da cartilagem articular é essencial para garantir a função normal das articulações.

O colágeno é o principal elemento estrutural que confere resistência ao tecido; sabe-se que além da função de suporte, participa na diferenciação, adesão, migração e proliferação celular. A cartilagem articular é composta primariamente de colágeno tipo II, com pelo menos dez colágenos adicionais, incluindo os tipos III, VI, IX, X, XI e XIII, presentes como menores constituintes.

A molécula de colágeno é composta basicamente por uma sequência repetida de três aminoácidos (Gly-X-Y), em que Gly é o aminoácido glicina; X, quase sempre é prolina e Y, hidroxiprolina ou hidroxilisina. Em geral, o colágeno contém cerca de 30% de glicina, 12% de prolina, 11% de alanina, 10% de hidroxiprolina e 1% de hidroxilisina. Do ponto de vista nutricional, o colágeno é considerado uma proteína de qualidade inferior, pois há predominância dos aminoácidos descritos e quantidade mínima ou ausente da maioria dos aminoácidos essenciais, como triptofano, metionina, cistina e tirosina.Apesar disso, sua importância nutricional torna-se estabelecida por seu perfil atípico de aminoácidos que estimula a síntese de colágeno nas cartilagens e na matriz extracelular de outros tecidos.

O colágeno, assim como as demais proteínas ingeridas, não é absorvido como colágeno. A maior parte da digestão proteica, cerca de 80%, ocorre no duodeno e jejuno pela ação do suco pancreático e apenas 10-20% no estômago pela ação do ácido clorídrico e da pepsina. No intestino delgado ocorre a hidrólise luminal de proteínas e polipeptídios em aminoácidos (AA) livres e pequenos peptídeos pela ação da enteropeptidase, que, em pH neutro, ativa o tripsinogênio e a tripsina, que, por sua vez, promove a ativação das outras propeptidases do suco pancreático. Os AA e pequenos peptídeos são hidrolisados pelas peptidases da borda em escova a AA, di e tripeptideos, que são absorvidos principalmente pelo jejuno proximal por difusão simples, difusão facilitada ou transferência ativa por co-transporte. Os AA são destinados a inúmeras funções, inclusive para a síntese do próprio colágeno.

No tecido conjuntivo, o colágeno tipo I é o mais abundante e a partir dele são obtidos o colágeno parcialmente hidrolisado (gelatina) e o colágeno hidrolisado. A diferença entre o colágeno hidrolisado e a gelatina é que o colágeno hidrolisado é de fácil digestão e absorção,  e apresenta prevalência da glicina e prolina em sua composição. Esses aminoácidos são essenciais para a estabilidade e a regeneração das cartilagens.

O efeito positivo da proteína com a constituição óssea está relacionado à composição, ou seja, 50% do osso é formado por colágeno e a outra metade, por cálcio. Portanto, uma dieta inadequada, não apenas em cálcio, mas também em proteína limitaria a reconstrução óssea.

Algumas pesquisas destacam um conceito de causa diferente à do envelhecimento para as osteoartrites (OA), cuja proposta terapêutica deve abranger todos os aspectos da doença. A patogênese da OA resulta de fatores inflamatórios e mecânicos: inflamatória, em respostas mediadas por condrócitos e sinovióticos; mecânica, associada ao movimento e força física concentrada principalmente nas articulações. A OA seria o resultado da inflamação da articulação na tentativa de corrigir o estresse mecânico anormal. As respostas inflamatórias são maiores em pacientes com OA e aumentadas no envelhecimento, enquanto os mecânicos compõem uma combinação de fatores entre fisiológicos e genéticos, e em ambos a obesidade seria fator agravante. A obesidade eleva a carga sobre a articulação e ativa produção de adipocinas pró-inflamatórias em receptores presentes na superfície dos condrócitos, osteoblastos, membrana sinovial e subcondral.

Existe um consenso de que os efeitos promovidos pela ingestão de peptídeos de colágeno estão relacionados à sua forma hidrolisada. Para os autores, a suplementação alimentar e a farmacológica de CH são justificadas porque apresentam funções biológicas benéficas muito além da redução da dor em pacientes com OA. Além de estarem envolvidos na síntese de matriz de cartilagem, alguns peptídeos de colágeno exibem atividade anti-hipertensiva e cardioprotetora, por meio da regulação do óxido nítrico e da molécula de adesão intercelular e inibição da enzima conversora de angiotensina I, além de atividades antioxidantes em diferentes sistemas oxidativos.

Tanto o envelhecimento quanto a má alimentação podem afetar a demanda de colágeno no corpo. Essas alterações não são perceptíveis nos primeiros estágios da vida, mas vão ficando evidentes na maturidade, fase na qual a ingesta alimentar não supre as necessidades recomendadas tanto de energia, quanto de macro e micronutrientes.Também nessa fase as possibilidades de desenvolver disfunções ósseas e articulares são maiores. Nutrição balanceada é essencial não só para prevenir doenças crônicas, mas também para manter a saúde do corpo e garantir seu funcionamento adequado.

O colágeno hidrolisado tem função terapêutica positiva na osteoporose e osteoartrite, com potencial aumento da densidade mineral óssea, efeito protetor da cartilagem articular e principalmente no alívio sintomático em quadros de dor. Embora não exista na literatura científica pesquisada consenso sobre a dosagem de colágeno hidrolisado a ser administrada, com a suplementação de 8g diária observa-se aumento da concentração de glicina e prolina no plasma e doses equivalentes a 12g diária promovem melhora significativa nos sintomas de osteoartrite e osteoporose. Entretanto, mais estudos são necessários para determinar os fatores patogênicos envolvidos na osteoporose e osteoartrite, seu diagnóstico precoce, e a partir de que estágio da vida seria recomendado o início da suplementação e a dosagem adequada para alcançar significativo potencial terapêutico.

Referência bibliográfica

PORFÍRIO, Elisângela; FANARO, Gustavo Bernardes. Suplementação com colágeno como terapia complementar na prevenção e tratamento de osteoporose e osteoartrite: uma revisão sistemática. Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia, v. 19, p. 153-164, 2016.

VELOSA, Ana Paula P.; TEODORO, Walcy R.; YOSHINARI, Natalino H. Colágeno na cartilagem osteoartrótica. Revista Brasileira de Reumatologia, v. 43, n. 3, p. 160-166, 2003.

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CROCUS SATIVUS E OS BENEFÍCIOS PARA A SAÚDE

Por Isabella Brescia

O açafrão verdadeiro é extraído dos estigmas e parte do estilete das flores de Crocus sativus, uma planta da família das Iridáceas, que começa a aparecer no início do outono, no final de setembro de cor roxa. É utilizado desde a antiguidade como especiaria, principalmente na culinária do Mediterrâneo, região de origem. É considerado como uma das mais caras especiarias do mundo uma vez que, para se obter um quilo de açafrão seco, são processadas manualmente, de 150.000 a 200.000 flores.

A análise química dos estigmas de C. sativus mostrou a presença de cerca de 150 compostos voláteis e não voláteis. Menos de 50 constituintes, no entanto, foram identificados até agora. Os três principais compostos biologicamente ativos são: Crocina, pigmento carotenóide responsável pela cor amarelo-alaranjada da especiaria; Picrocrocina, trazendo o sabor amargo do açafrão; e o Safranal, um composto volátil responsável pelo aroma e cheiro tão específico do açafrão.

A crocina é um carotenóide raro na natureza, facilmente solúvel em água. Em comparação com outros carotenóides, a crocina tem uma aplicação mais ampla como corante em alimentos e medicamentos, principalmente devido à sua alta solubilidade. A picrocrocina é o principal fator que influencia o sabor amargo do açafrão, que pode ser cristalizado por hidrólise. O safranal é responsável pelo aroma (representa 70% da fração volátil), tem pouca ou nenhuma presença em estigmas frescos, sua concentração depende das condições de secagem e conservação do açafrão.

Além da crocina e da picrocrocina, os principais compostos do açafrão são antocianinas, flavonóides (como o kaempferol), vitaminas, aminoácidos, amido, matéria mineral e gomas Também possui muitos componentes ativos não voláteis, muitos dos quais são carotenóides, incluindo zeaxantina, licopeno e vários α- e β-carotenos. Os voláteis, que têm um odor muito forte, são consistentes com mais de 34 componentes, que são principalmente terpenos, álcoois terpenos e seus ésteres.

A qualidade do açafrão depende da concentração desses três metabólitos principais, proporcionando a cor e o sabor únicos dos estigmas. Seus conteúdos dependem do ambiente e das práticas culturais. A composição química das amostras de açafrão de muitos países indica que os valores relatados dependem fortemente dos métodos usados ​​para secagem, extração e análise de estigma.

Desde os tempos antigos, as plantas têm sido usadas em todas as civilizações, em todo o mundo, como fonte de medicina tradicional. Por mais de 3.000 anos, o açafrão foi considerado uma panacéia, de acordo com os medicamentos ayurvédicos, mongóis, chineses, egípcios, gregos e árabes. Algumas propriedades terapêuticas atribuídas ao açafrão são:

Antidepressivo

O uso do açafrão como antidepressivo tem uma longa tradição, desde a antiguidade até os tempos modernos. A depressão é uma das cinco doenças mais prevalentes em todo o mundo e afeta cerca de 11,6% da população mundial. Semelhante aos antidepressivos alopáticos o açafrão pode exercer seu efeito antidepressivo modulando o nível de certas substâncias químicas no cérebro, incluindo a serotonina. A serotonina, ou 5-hidroxitriptamina, é um neurotransmissor que eleva o humor sintetizado a partir do triptofano. Embora não apareça como uma erva medicinal usada tradicionalmente, as pétalas de açafrão são significativamente mais baratas do que os estigmas, levando os pesquisadores a examinar seu potencial no tratamento da depressão. Assim, um estudo comparando a eficácia de pétalas e estigmas sugere que eles são igualmente eficazes no tratamento de depressão leve a moderada.

Tratamento da disfunção sexual

O açafrão, assim como outras especiarias, sempre teve a reputação de afrodisíaco em diferentes civilizações egípcias, gregas, romanas e outras. Tradicionalmente, muçulmanos, fenícios e chineses usam açafrão como estimulante sexual. Foram avaliadas as atividades afrodisíacas do extrato aquoso de estigmas de C. sativus e seus constituintes, safranal e crocina. Parece que o açafrão pode, sem risco, combater efetivamente certos distúrbios sexuais induzidos pela fluoxetina em mulheres, como excitação, lubrificação ou dor. O açafrão mostrou um efeito positivo na função sexual com um aumento no número e duração das ereções em pacientes com disfunção erétil – mesmo após o tratamento por apenas 10 dias.

Antioxidante

Os carotenóides, crocina e crocetina, desempenham um papel importante na saúde, agindo como antioxidantes naturais. Eles protegem células e tecidos dos efeitos prejudiciais dos radicais livres e espécies reativas de oxigênio (ROS). A crocina é o ingrediente ativo mais estudado no que diz respeito às propriedades antioxidantes do açafrão. No entanto, não age sozinho, mas graças ao trabalho em sinergia com outros componentes como safranal, dimetilcrocetina e flavonóides. Outros estudos centraram-se nos efeitos negativos do stress oxidativo no nosso cérebro, uma vez que é o órgão mais exposto à oxidação, devido ao elevado teor de fosfolípides das membranas neuronais e à ligação existente com o desenvolvimento de patologias neurodegenerativas como a doença de Alzheimer, cujo tratamento com o açafrão pode prevenir a agregação e deposição do peptídeo β amilóide no cérebro humano e pode, portanto, ser útil na doença de Alzheimer.

Anticarcinogênico

O câncer é a principal causa de morte no mundo. Evidências epidemiológicas indicam que existe uma correlação entre uma dieta rica em antioxidantes e uma menor incidência de morbidade e mortalidade. Entre os remédios naturais, o açafrão e seus ingredientes (especialmente seus carotenóides) têm atividades antitumorais e anticancerígenas, mas não exercem nenhum efeito citotóxico nas células saudáveis. Uma grande variedade de substâncias naturais foi identificada como tendo a capacidade de induzir apoptose em várias células tumorais. Entre as muitas propriedades biológicas relatadas com açafrão, esses anti-carcinogênicos são de grande interesse e são extensivamente estudados por experimentos in vitro e in vivo. O extrato de açafrão de ocorrência natural – em combinação com dois compostos sintéticos – selenito de sódio ou arsenito de sódio, pode ter um papel importante na prevenção dos danos provocados pela quimioterapia do câncer. O pré-tratamento com açafrão por cinco dias consecutivos antes da administração de drogas antitumorais, incluindo cisplatina, inibiu significativamente o dano ao DNA celular induzido por drogas antitumorais.

Antiespasmódico e digestivo

Foram atribuídas ao açafrão em relação ao sistema gastrointestinal e genital, em particular, as de estimular o estômago, reduzir o apetite, tratar hemorróidas, tratar prolapso do ânus, limitar fermentações intestinais, ajudar no tratamento da amenorreia ou estimular a menstruação – e não mencionar seu poder abortivo. Safranal normalizou o volume gástrico e o pH, reduziu a superfície da úlcera gástrica e produziu proteção gástrica. 

Anti-inflamatório e analgésico

Há um grande interesse em compostos naturais, como suplementos alimentares e remédios de ervas usados ​​há séculos para reduzir a dor e a inflamação. Extratos e tinturas de açafrão têm sido usados ​​para tratar febre, feridas, dor lombar, abscessos e gengivite, bem como dor relacionada à erupção dos primeiros dentes em bebês. Extratos aquosos e alcoólicos de estigmas e pétalas de açafrão têm atividade antinociceptiva (que anula ou reduz a percepção da dor) e anti-inflamatória para dor aguda e crônica.

Efeito antiobesidade e sobre os níveis de colesterol

Beliscar é um dos hábitos alimentares de difícil controle, predispondo ao ganho de peso e, consequentemente, à obesidade e consequentes complicações metabólicas (dislipidemia, diabetes não insulino-dependente, distúrbios circulatórios, hipertensão, doença renal crônica). Acomete principalmente a população feminina e está frequentemente associada ao estresse. Devido à presença de crocetina, o açafrão ajuda indiretamente a diminuir os níveis de colesterol no sangue e, portanto, a gravidade da aterosclerose, reduzindo o risco de ataque cardíaco. O efeito hipolipidêmico da crocina é atribuído à inibição da lipase pancreática, limitando assim a absorção de gorduras e colesterol.  Estudos anteriores concluíram que o açafrão mostrou efeitos antiobesidade e anorexígenos em modelos de ratos obesos. Isto graças ao seu efeito na redução da ingestão calórica, bloqueando a digestão das gorduras alimentares através da inibição da lipase pancreática; a sensação de saciedade devido ao aumento do nível de neurotransmissores sem esquecer o seu papel na melhoria do metabolismo da glicose e dos lipideos. Além disso, a crocina mostrou uma diminuição significativa na taxa de ganho de peso corporal e deposição total de gordura.

Efeito sobre a resistência à glicose no sangue e à insulina

O uso de crocetina em altas doses (40 mg/kg) neutraliza o desenvolvimento de resistência à insulina, evitando hiperinsulinemia compensatória; de fato, limita a dislipidemia mantendo os valores de ácidos graxos livres, triglicerídeos e LDL-c (Low Density Lipoprotein) dentro das normas e evita a hipertensão induzida por uma dieta suplementada com frutose.

Efeitos nos olhos

O açafrão tem sido usado tradicionalmente por diferentes nações para várias doenças oculares, como doenças da córnea, olhos doloridos, catarata e infecção ocular purulenta. As investigações atuais mostram que o extrato de açafrão pode reduzir doenças oculares como catarata, degeneração da retina, morte celular fotorreceptora mediada por luz, e melhora da circulação sanguínea e função da retina.

A ingestão de menos de 1,5 g de açafrão não é tóxica para humanos, é considerada tóxica quando ingerida em doses superiores a 5 g e pode ser fatal se for tomada em cerca de 20 g/dia. Toxicidade leve com açafrão causa tontura, náusea, vômito e diarreia, enquanto toxicidade mais grave pode causar dormência, formigamento nas mãos e pés, pele e olhos amarelados devido à precipitação de pigmentos amarelos na pele e na conjuntiva e sangramento espontâneo.

Referência Bibliográfica

MZABRI, Ibtissam; ADDI, Mohamed; BERRICHI, Abdelbasset. Usos tradicionais e modernos do açafrão (Crocus sativus). Cosméticos , v. 6, n. 4, pág. 63, 2019.

SRIVASTAVA, R. et al. Crocus sativus L.: uma revisão abrangente. Revisões de farmacognosia , v. 4, n. 8, pág. 200, 2010.

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Adoçantes naturais

Os adoçantes naturais são opções mais saudáveis para substituição ao açúcar refinado.

Escrito por Isabella Brescia

Há cerca de 11500 anos, a espécie humana passava por uma grande transição que ficaria conhecida como “Revolução Neolítica” ou “Revolução Agrícola”, onde, em diversas regiões, passou-se a cultivar plantas e domesticar animais, o que levou os homens primitivos a armazenarem os alimentos e cozinhá-los, aumentando a importância de alguns condimentos, como por exemplo, o mel, já utilizado pelos hominídeos, ainda que sem qualquer tipo de processamento, como adoçante, juntamente com a polpa de algumas frutas doces, como figos e tâmaras, durante os períodos da Antiguidade Clássica, passando pela Idade Média, quando era usado para preservar carnes e frutas, chegando até a Renascença. Essas substâncias são obtidas por meio de fontes naturais, como plantas ou animais, como o agave, estévia e mel de abelha. O mel ficou conhecido durante muito tempo como único adoçante disponível, até que, com a descoberta de outras fontes naturais, como açúcar de cana-de-açúcar, de beterraba, de milho e mais recentemente, de coco, teve sua utilização diminuída proporcionalmente.

Outro grande concorrente na classe dos adoçantes naturais, é o xarope de milho rico em frutose (HFCS), obtido do amido de milho. Surgiu como um substituto do açúcar na década de 1970, quando esse último passava por um período de alta nos preços e mesmo após isso continuou no mercado, sendo amplamente utilizado na indústria de bebidas, alimentos processados e adoçantes.

Com a crescente preocupação mundial pela melhoria da qualidade de vida, para manter uma boa forma física e valorizando principalmente a saúde, o açúcar passa a dividir espaço com uma quantidade de adoçantes que vem aumentando no mercado. Criado originalmente, com o intuito de alcançar uma pequena parcela da população com restrição de açúcar, os diabéticos, os adoçantes compõem hoje uma parte significativa da alimentação mundial.

Os adoçantes naturais são opções mais saudáveis para substituição ao açúcar refinado e podem conter vitaminas, minerais e antioxidantes importantes para o funcionamento do organismo, como o mel e o açúcar de coco, mas vale ressaltar que esses não são recomendados para diabéticos, alguns possuem baixo índice glicêmico e calórico e auxiliam no controle da diabetes e obesidade.

O açúcar branco, seja refinado ou cristal, passa por um processo de clarificação, o qual visa eliminar qualquer tipo de material corante presente no caldo, bem como diminuição da viscosidade, preservação contra alguns microorganismos e prevenção do amarelamento do açúcar como produto final.

 O açúcar demerara difere do açúcar cristal apenas no processo de clarificação, levando-o a coloração amarronzada ou castanho claro em seus cristais. Com níveis nutricionais elevados, próximos aos do açúcar mascavo, esse açúcar possui nutrientes como cálcio (Ca), fósforo (P), potássio (K), magnésio (Mg), além das vitaminas B e C, preservados devido a um refinamento mais brando e à pequena quantidade de aditivos químicos ao qual é submetido em sua produção.

O açúcar mascavo é um tipo não refinado de açúcar de coloração escura, com aspecto úmido, com um forte sabor de melaço, que não passa por nenhum processo de beneficiamento. Geralmente obtido de forma artesanal, é produzido pela desidratação do caldo de cana e não é sujeitado a técnicas de clarificação do caldo ou à produtos químicos para retirada de impurezas. Apresenta uma pequena porcentagem de umidade e altas taxas de minerais, como potássio (K), magnésio (Mg), ferro (Fe) e cálcio (Ca), além de quantidade traço de vitaminas e vários fitoquímicos originários da cana-de-açúcar, que lhe conferem um elevado valor nutricional e medicinal com inúmeros efeitos para a saúde humana (efeitos anticariogênicos, antitóxicos, citoprotetores e antioxidantes), portanto é mais nutritivo que os açúcares clarificados.

A isomaltulose (ou palatinose) apresenta cerca de 30-40% de doçura relativa à sacarose. Sua produção ocorre a partir do rearranjo enzimático desse açúcar de mesa, podendo substituí-lo adequadamente, devido principalmente às suas propriedades não cariogênicas, além de reduzir a resposta glicêmica pós-prandial, o que o torna uma alternativa bastante viável para diabéticos e pré-diabéticos. Esse edulcorante é completamente hidrolisado em glicose e frutose, e absorvido no intestino delgado, para ser assim metabolizado pelo organismo, mesmo ingerido em altas quantidades. O excedente à necessidade energética é excretado pela urina.

O açúcar do milho é obtido a partir do amido de milho, um polissacarídeo complexo, e é enviado à indústria na forma de maltodextrina, glicose, frutose e xarope de milho. A maltodextrina é utilizada nas indústrias alimentícias, como substituinte da gordura de leite em iogurtes, sorvetes, sobremesas, produtos de panificação como fonte de carboidratos em bebidas isotônicas e nas indústrias farmacêuticas como espessante e surfactante.

O xarope de milho encontrado em refrigerantes, sucos, além de cereais matinais e produtos de panificação, está cada vez mais presente na mesa dos consumidores.  Além disso, existem outras vantagens para sua utilização, como maior solubilidade em soluções aquosas, resistência a cristalização, bem como seu emprego em menor quantidade nos produtos que se destina a adoçar, com significativa redução do valor calórico. Seu consumo excessivo pode apresentar riscos à saúde, principalmente devido à completa absorção e rápida metabolização da frutose no organismo, mais especificamente no fígado. A sobrecarga desse importante órgão estimula a lipogênese, resultando no acúmulo de gorduras nos adipócitos, também contribuindo para a resistência à insulina, ocasionando a intolerância à glicose e posterior desenvolvimento de doenças metabólicas.

O açúcar de coco tem cada vez mais espaço no mercado mundial. Produzido em indústrias de pequeno e médio porte, esse açúcar pode se apresentar na forma cristalizada ou líquida, com coloração marrom, próxima ao açúcar mascavo. Para sua obtenção, após a extração, a seiva do coqueiro é filtrada e transferida para o cozimento, adiciona-se óleo de coco e cloreto de cálcio, depois de algumas horas com agitação ocasional, o caldo se tornará mais grosso e pronto para o resfriamento e posterior cristalização.

O mel além de seu valor nutricional superior e de sua gama de propriedades benéficas, o mel é o único adoçante extraído de fonte animal, produzido pelas abelhas após a coleta de néctar das flores. O néctar é extraído pelas abelhas, através do trajeto da polinização, e já no caminho de volta à colmeia as mudanças se iniciam, causadas pelas enzimas da saliva e do suco gástrico do inseto, resultando em uma mistura de açúcares invertidos e frutose. Largamente utilizado na indústria alimentícia, principalmente como adoçante, o mel também é muito empregado na indústria farmacêutica e na área medicinal, em misturas para tosse, xaropes e expectorantes, assim como no preparo de cremes e loções, além de atuar no plasma sanguíneo melhorando a capacidade antioxidante do organismo, sendo esta última extremamente dependente da fonte floral de onde o néctar foi obtido.

O néctar de agave ou mais comumente conhecido xarope de agave, é um adoçante líquido extraído da seiva da planta Agave tequilana, popularmente conhecida como agave-azul. Em sua composição se pode encontrar xilose, frutose, glicose, sacarose e maltose, além de carboidratos mais complexos, como seu principal polissacarídeo, chamado inulina que é convertida por meio de hidrólise ácida ou enzimática em frutose (concentração igual a 90%). Mesmo apresentando alta concentração de frutose, o agave contém nutrientes antioxidantes, fitoquímicos que podem auxiliar na manutenção da saúde cardiovascular.

A estévia é extraída do arbusto chamado de Stevia reubadiana, nativo do Paraguai, também cultivado na China, Brasil, Europa, Canadá e Japão. Utilizado em licores destilados, confeitos, molho de soja, alimentos para bebês, laticínios e adoçantes de mesa. A produção de estévia ocorre por meio de extração, no qual se retira compostos glicosilados presentes na planta, como esteviol, esteviosídeo

(presente em maior quantidade) e o rebaudiosídeo (presente em menor teor – com maior poder edulcorante), que podem ser de 200 a 300 vezes mais doce do que a sacarose, de acordo com análise sensorial. Além de ser livre de calorias, esse edulcorante natural amplamente utilizado, tem apresentado efeitos benéficos na regulação dos níveis séricos de glicose e insulina, sendo utilizada em vários países pelo mundo para o controle natural do diabetes. Destaca-se também por, após a ingestão, seus metabólitos serem completamente eliminados pela urina, não sendo armazenados.

Açúcares de polióis

Também conhecidos como álcoois polihídricos, os polióis são compostos obtidos através da hidrogenação de seus respectivos açúcares. Alguns exemplos dessa classe e seus precursores são, respectivamente: xilitol e xilose, sorbitol e glicose, eritritol e eritritose, isomaltitol e isomaltulose, maltitol e maltose, assim como lactitol e lactose. Geralmente, eles não diferem muito entre si quanto ao processo de obtenção e a forma de absorção pelo organismo. São considerados adoçantes naturais dietéticos, podendo em alguns casos serem ingeridos por diabéticos, sem limitações quanto à quantidade. Porém, em grandes quantidades, a absorção dos polióis é diminuida, pois não seriam completamente digeridos, sendo fermentados no intestino grosso, mais especificamente no cólon. Neste caso, os efeitos adversos são comumente observados no final do sistema digestório, tais como diarreia, flatulência e frequentes ruídos intestinais.

O xilitol é empregado em produtos alimentícios como adoçante, sendo explorado, principalmente devido à sua característica de prevenir a formação de cáries dentárias, por não ser metabolizado pelas bactérias causadoras dessa doença bucal. Pertencente a classe dos polióis, esse açúcar de álcool, pode ser encontrado em pequenas quantidades em frutas, vegetais e cogumelos, além de ser gerado como um intermediário durante o metabolismo de glicose no organismo. Quimicamente sua obtenção se dá por meio da hidrogenação catalítica de xilose, conhecido como açúcar da madeira.

Xilitol pode ser metabolizado por duas vias: direta e indireta, sendo a primeira majoritariamente absorvida pelo fígado, e a segunda pela microbiota intestinal, através de degradação fermentativa, metabolizando a porção não absorvida pela via direta, além de ter absorção incompleta, podendo ser baixa e lenta. Mesmo possuindo poder adoçante semelhante à sacarose e estando presente em dietas baseadas em baixo valor de carboidratos, seus efeitos adversos são sintomas gastrointestinais, que incluem diarreia, acúmulo de gases, dor e desconforto abdominal, em alguns casos causados pela ingestão de altas doses, devido, principalmente à baixa absorção.

Com mais de 60 anos no mercado, além de edulcorante, atualmente o sorbitol é utilizado nas indústrias alimentícia e farmacêutica, principalmente por ser um ótimo conservante e aditivo que afere melhor sabor ao produto que se destina. É obtido por meio da hidrogenação catalítica  de glicose, da sacarose e também do amido, sendo a glicose amplamente empregada devido ao seu baixo custo e sua elevada disponibilidade comercial. Esse adoçante apresenta porcentagem de doçura relativa a sacarose entre 50 e 70%. Quando sorbitol ingerido em altas quantidades pode levar a dor abdominal, danos aos rins, aos tecidos nervosos e a retina.

Os açúcares de álcoois são produzidos majoritariamente pela hidrogenação catalítica de dissacarídeos e monossacarídeos, com exceção de eritritol.  Além de possuir menor valor calórico, difere dos demais constituintes desse grupo quanto a sua maior tolerância digestiva, podendo ser empregado em diversos ramos, como adoçante de baixa caloria na forma de pó ou em bebidas e em pastilhas mastigáveis, na indústria alimentícia, podendo também ser utilizado como hidratante na indústria de comésticos. Mesmo derivando de um monossacarídeo, como eritritose, seu processo de obtenção ocorre através de fermentação, utilizando microorganismos como: Aspergillus niger e Penicillium herquei, assim como Moniliella magachiliensis, Candida magnoliae e Yarrowia lipolytica. Com doçura entre 60 a 80% em relação à sacarose,esse poliol é prontamente absorvido pelo intestino delgado (cerca de 90% do total ingerido por via oral) e excretado pela urina sem qualquer degradação. A porção restante é fermentada pelas bactérias intestinais, o que lhe confere um valor energético nulo, uma vez que não é metabolizado pelo organismo.

Referência Bibliográfica RIBEIRO, T. R.; PIROLLA, N. F. F.; NASCIMENTO-JÚNIOR, N. M. Adoçantes Artificiais e Naturais: Propriedades Químicas e Biológicas, Processos de Produção e Potenciais Efeitos Nocivos. Revista Virtual de Química, v. 12, n. 5, p. 1-41, 2020.

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ARGININA NA ATIVIDADE FÍSICA

Por Isabella Brescia

A L-arginina, um aminoácido básico e hidrofílico, o qual é classificado nutricionalmente como aminoácido condicionalmente essencial ou condicionalmente indispensável. A L-arginina apresenta funções relevantes no metabolismo proteico relacionadas à síntese proteica, no metabolismo do ciclo da ureia, na síntese de óxido nítrico, creatina e poliaminas, e na estimulação da secreção do GH. A L-arginina também apresenta capacidade imunoestimulatória e timotrófica e atua como precursora de prolina e hidroxiprolina, substâncias necessárias para a síntese de tecidos.

 A ingestão diária média de L-arginina é de 5 g e sua concentração plasmática é de aproximadamente 75 µM/L, sendo que esse valor é influenciado pelo estado alimentado e de jejum. Cabe ressaltar que o rim é o órgão primário responsável pela manutenção da concentração plasmática de L-arginina. Em indivíduos saudáveis, este aminoácido pode ser sintetizado em quantidades suficientes para atender a demanda fisiológica, com sua taxa de ressíntese endógena inalterada por diversos dias de deficiência de consumo. Entretanto, em períodos de rápido crescimento, ou em resposta ao estresse traumático ou patológico, sua demanda fisiológica pode não ser atendida de maneira sufi ciente por meio da ingestão dietética e ressíntese endógena, necessitando de fontes alimentares a fim de suprir suas necessidades.

Em função de existir uma demanda metabólica contínua de L-arginina, sua ressíntese pode ocorrer a partir do glutamato ou prolina, sendo a expressão de todas as enzimas necessárias para sua síntese restrita ao fígado e à mucosa intestinal. Outra via de ressíntese endógena ocorre a partir da citrulina que, quando captada pelo rim, se transforma indiretamente em L-arginina no ciclo renal e/ou diretamente no citoplasma das células endoteliais e dos macrófagos.

L-arginina e Óxido nitrico

Alguns trabalhos foram realizados avaliando o efeito do exercício físico sobre a produção de fatores relaxantes e sua correlação com os efeitos benéficos da atividade física. Evidências indicam que, quando praticado em intensidades moderadas, o exercício é capaz de induzir ao aumento do relaxamento da musculatura lisa vascular e não vascular, ação essa atribuída principalmente ao NO produzido pelas células endoteliais em resposta ao exercício. Com isso, o NO relaciona-se positivamente com os efeitos benéficos da prática regular de exercícios físicos e em condições basais:

Condições Basais

  • Homeostase sanguínea
  • Neurotransmissor
  • Antibactericida
  • Antiparasítico
  • Antiviral
  • Antitrombótico
  • Antiaterosclerótico

Exercício Físico

  • Sinalização intracelular
  • Estímulo para síntese proteica muscular esquelética
  • Maior tolerância ao esforço
  • Aumento da secreção de GH
  • Maior aporte de oxigênio à musculatura esquelética
  • Vasodilatação

L-arginina e Hormônio do Crescimento

A suplementação de L-arginina isolada ou em combinação com o exercício promove aumento significativo na secreção de GH em relação ao período de repouso; contudo, o exercício isolado ainda é o agente potencial para tal resposta endócrina, ou seja, indivíduos submetidos a um programa de treinamento apresentam aumento significativo na secreção de GH em relação ao repouso, suplementação isolada e combinada com exercício de L-arginina.

Aparentemente, todos os processos metabólicos relacionados com a atividade física são melhorados e potenciados com o uso da arginina, uma vez que ocorre melhor perfusão sanguínea ao nível muscular, proporcionando maior aporte de nutrientes (os músculos são capazes de produzir energia durante mais tempo) e de oxigênio (evitando e/ou protelando o processo de anaerobiose), ao mesmo tempo que favorece a eliminação das substâncias tóxicas acumuladas durante a prática da atividade física, facilitando o processo de recuperação muscular.

A administração oral de 3g/dia de L-arginina parece potencializar os efeitos do treinamento com pesos, proporcionando maior ganho de força e massa muscular e contribuindo para a diminuição do percentual de gordura corporal.

O efeito adverso observado na suplementação de altas doses de L-arginina, tanto aguda como crônica, como de qualquer outro aminoácido, está associada à ocorrência de desconforto gastrintestinal e diarreia.

Referência Bibliográfica

ANGELI, Gerseli et al. Investigação dos efeitos da suplementação oral de arginina no aumento de força e massa muscular. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, v. 13, p. 129-132, 2007.

NICASTRO, Humberto; ROGERO, Marcelo Macedo; DATTILO, Murilo. A suplementação de L-arginina promove implicações ergogênicas no exercício físico? Evidências e considerações metabólicas. Rev. bras. ciênc. mov, p. 115-122, 2008.

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saúde

Aplicações clínicas da CoQ10

Os benefícios da Coenzima Q10 vêm sendo estudados para o tratamento de doenças.

Escrito por Isabella Brescia

A CoQ10 pode ser encontrada em todas as células do corpo humano, porém as maiores concentrações são observadas nos tecidos do coração, fígado, cérebro e músculo esquelético. Localiza-se na membrana interna das mitocôndrias, onde realiza a interação com enzimas específicas, atuando como uma coenzima essencial na cadeia respiratória mitocondrial. Ela possui a capacidade de proteger proteínas da membrana mitocondrial, fosfolipídeos e o DNA dos danos oxidativos, além de poder regenerar outros antioxidantes como o ácido ascórbico e o alfa-tocoferol.

A CoQ10 é sintetizada pelas células do corpo humano, mas também pode-se obtê-la a partir de dieta, podendo contribuir para a concentração desta enzima no organismo. Pequena quantidade são encontradas em ovos, cereais, produtos lácteos, frutos secos como nozes e nos vegetais (principalmente espinafre e brócolis). Carne vermelha, peixe e de aves são fontes ricas em CoQ10. Ela também é comercializada como suplemento alimentar ou nutracêutico e utilizada em formulações cosméticas.

Devido a sua capacidade de atuar como antioxidante, o interesse pela CoQ10 vem aumentando muito, apresentando uma elevada eficácia, visto que se encontra abundantemente distribuída pelo organismo e tem a aptidão de se reduzir ou reativar-se quando necessário. Na sua forma reduzida, ela é um poderoso antioxidante que previne danos oxidativos causados pelos radicais livres. Inclusive estudos recentes demonstraram a relevância da CoQ10 na resistência do DNA aos danos oxidativos. Após o seu uso os linfócitos do sangue periférico de indivíduos portadores de doenças mitocondriais apresentaram uma significativa redução das quebras de fita simples e duplas do DNA.

A CoQ10 tem grande importância também no tratamento de desordens mitocondriais e neuromusculares e doenças neurodegenerativas. Em experimentos com doenças neurodegenerativas, a CoQ10 demonstrou neuroproteção e efeitos protetores sobre disfunção mitocondrial. A administração de CoQ10 aumentou sua concentração nas mitocôndrias de células do cérebro exercendo efeitos de proteção sobre lesões induzidas, além de proteger neurônios dopaminérgicos. Estes estudos experimentais vêm demonstrando resultados promissores em doenças neurodegenerativas tais como doença de Huntington, Parkinson, Alzheimer e esclerose lateral amiotrófica.

Sua utilização e benefícios vêm sendo estudados para o tratamento de outras doenças e  síndromes, como doenças cardíacas, melhoria na qualidade do sêmen de homens inférteis, síndrome de Down, câncer de mama e no tratamento de enxaquecas.

A deficiência de CoQ10 pode ser definida como a presença de níveis reduzidos de CoQ10 em tecidos ou células e, para se obter uma estimativa de sua concentração usa-se o plasma. A deficiência de CoQ 10 pode resultar de síntese prejudicada, defeito genético ou adquirido que prejudique sua síntese ou função e ainda ser decorrente de aumento da requisição por tecidos com patologias específicas. A forma secundária de deficiência de CoQ10 é observada em doenças cardiovasculares, diabetes, doença renal crônica, doenças hepáticas, distúrbios neurodegenerativos, e câncer. Além disso, os níveis de CoQ10 decrescem com o avançar da idade, fator que pode estar relacionado a eventuais manifestações do envelhecimento. Estudos mostraram que a suplementação oral com CoQ10 pode aumentar níveis teciduais deste nutriente, havendo associação com redução do risco de mortalidade por doença cardiovascular em idosos, assim como reduzir também o risco de mortalidade em pacientes com diabetes tipo II, doença renal crônica ou hepática, seja por efeitos no processo primário da doença ou na disfunção cardiovascular secundária.

A administração oral de CoQ10 geralmente é bem tolerada, sem efeitos adversos graves detectados no uso de longo prazo. Raramente alguns indivíduos podem apresentar efeitos gastrointestinais como dor abdominal, vômitos, náuseas, diarreia e anorexia e este sintoma não está relacionado à dose. Não há efeitos colaterais tóxicos conhecidos ou relatos de superdosagem. A segurança do uso da CoQ10 foi confirmada em centenas de ensaios clínicos randomizados, em uma ampla gama de distúrbios, incluindo doenças cardiovasculares, doenças de Parkinson e doenças mitocondriais.

Referência Bibliográfica JACOBS, Mônica Amadio Piazza; ACCURSIO, Wilmar. Coenzima Q10: Aplicações clínicas. BWS Journal, v. 3, p. 1-7, 2020.

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saúde

Cuidados nutricionais para os desconfortos do tratamento oncológico

Muitos tipos de câncer podem ser evitados, e muitos casos podem ser tratados com sucesso, se identificado logo no início.

Por Isabella Brescia

O câncer se caracteriza pela proliferação anormal das células que se dividem continuamente. Esse crescimento celular desregulado pode se espalhar e invadir o tecido normal, formando uma neoplasia maligna, que pode se disseminar para outras partes do organismo. O câncer pode surgir em qualquer idade e se desenvolver em qualquer parte do corpo. Depois das doenças cardiovasculares, é a segunda maior causa de morte no Brasil. Existem mais de cem variedades de cânceres, que se enquadram em quatro tipos principais: sarcomas, carcinomas, linfomas e leucemias.

Muitos tipos de câncer podem ser evitados, e muitos casos podem ser tratados com sucesso, se identificado logo no início. O risco do desenvolvimento do câncer pode ser reduzido com uma avaliação médica adequada, cuidado com sintomas e fatores de risco, autoexame regular e uma alimentação e estilo de vida de saudáveis.

Quando o câncer se instala é muito importante procurar uma nutricionista, uma vez que tanto a doença quanto seu tratamento exigem uma boa nutrição para auxiliar na recuperação.  A terapia nutricional irá levar em consideração o estágio, tipo e localização do tumor, além da fase do tratamento. A cirurgia, que ainda é a principal forma de tratamento, também requer uma dieta altamente nutritiva para uma recuperação bem-sucedida.

A perda de peso é comum entre quase todos os pacientes com câncer. A maioria sofre de anorexia ou perda de apetite como consequência da doença. É compreensível que a depressão causada por um diagnóstico de uma doença grave, assim como a dor, diminua qualquer desejo de se alimentar.

Em geral, o tratamento oncológico e até a própria doença, podem causar inúmeros efeitos colaterais no paciente, como perda de apetite ou de paladar, náusea/vômito, diarreia, constipação, boca seca, fadiga, entre outros. Mas uma terapia nutricional adequada pode ajudar a contornar boa parte deles, além de fornecer calorias, proteínas e outros nutrientes necessários para manter o peso e auxiliar na recuperação.

Conheça alguns recursos da nutrição oncológica para alívio dos sintomas e efeitos colaterais, além de fortalecer o organismo para enfrentar a doença:

  • Planejar as refeições para os momentos do dia em que provavelmente terá menos náuseas e ânsia de vômito. Se não conseguir, comer pequenas refeições e lanches ao longo do dia.
  • Acrescentar em todas as refeições alguma proteína, carne magra, ovos, iogurte, queijos brancos ou suplementos proteicos, dessa forma o organismo poupa o tecido muscular.
  • Deixar outra pessoa preparar as refeições. O cheiro dos alimentos enquanto estão sendo cozidos pode provocar náuseas. Alimentos servidos frios ou a temperatura ambiente exalam menos cheiro.
  • O gengibre e o hortelã são grandes aliados no tratamento das náuseas e pode ser consumido de várias formas, chá, sucos, molho para saladas e bolo.
  • Descansar por meia hora após as refeições, de preferência sentado ou em pé. Reclinar pode provocar refluxo, náusea e vômito.
  • Se está com mucosite (feridas na boca) preferir alimentos amassados ou cremosos com sabores suaves como sopas (batata, baroa, abóbora), mingaus e sobremesas. Evitar alimentos salgados, condimentados ou ácidos. O bochecho com chá de camomila 3 vezes ao dia além de prevenir a mucosite reduz a intensidade das lesões já existentes.
  • Se a boca seca dificulta engolir, liquidificar os alimentos ou umedecê-los com molhos, caldas ou geleias. Uma alternativa, são os picolés caseiros que podem ajudar a diminuir o desconforto da xerostomia.
  • Se a diarreia for um problema, evitar alimentos gordurosos, cafeína, frutas com casca, produtos à base de grãos integrais, laticínios e outros alimentos que possam agravar o problema.
  • Se a constipação for um problema, aumentar a ingestão de água, comer mais frutas com casca e bagaço, verduras, legumes e produtos à base de grãos integrais. Adicionar azeite nas refeições e evitar alimentos constipantes (tapioca, polvilho, caju, goiaba). Sucos laxativos são bem-vindos.
  • Se a fadiga for persistente, uma dieta rica em ácidos graxos ômega-3, fibras, oleaginosas, frutas e vegetais folhosos estão associados com menor probabilidade de fadiga.

E a hidratação? A hidratação é primordial no tratamento oncológico para aliviar sintomas como constipação e náuseas, e uma aliada na eliminação de compostos nefrotóxicos derivados de alguns quimioterápicos. Durante o tratamento alguns sintomas podem prejudicar o consumo adequado de água, como gosto metálico do paladar, inapetência e náuseas quando frequentes. A água quando saborizada com hortelã, gengibre, maçã, rodelas de limão ou laranja podem auxiliar na redução do gosto metálico e náuseas, mantendo o paciente hidratado.

O estado nutricional do paciente influencia diretamente o tratamento oncológico e a qualidade de vida do paciente, ou seja, desnutrição e perda de peso diminuem a resposta ao tratamento, baixam a imunidade, atrapalham processo de cicatrização e coagulação, aumentam risco de infecções e dificultam prognóstico. Até atividades do dia a dia podem ser afetadas. Quando há falta de nutrientes, o corpo humano faz de tudo para se manter; porém, suas reservas vão diminuindo, e consequentemente, a massa magra também.

A terapia nutricional adequada e individualizada – conjunto de procedimentos terapêuticos para manutenção ou recuperação do estado nutricional – previne desnutrição, reduz número de complicações no tratamento e no pós-operatório e evita a interrupção do tratamento.

Referência Bibliográfica https://www.nestleoncologia.com.br/convivendo-com-os-efeitos-colaterais

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saúde

Desidratação em Idosos

A ingestão de água equilibra as perdas, garante uma hidratação adequada aos tecidos assegurando o transporte de nutrientes e a manutenção da temperatura corporal.

Escrito por Isabella Brescia

A associação entre o envelhecimento e a desidratação não é nova e foi reconhecida por diversos pensadores, dentre eles – Aristóteles que dizia: “Deve-se saber que os seres vivos são úmidos e quentes e a velhice é seca e fria”. Já Homero, comparou a velhice com um ramo de oliveira seco e Galeno por sua vez, via a perda de água corporal como uma característica importante do envelhecimento e constatou que a desidratação é de difícil diagnóstico, fato que ainda permanece verdadeiro atualmente.

A desidratação é o distúrbio hidroeletrolítico mais comum nos idosos e uma das causas mais frequentes de internamento entre os 65 e os 75 anos. Nestes indivíduos as perdas de fluidos estão aumentadas e o consumo de líquidos diminuído pelo que a susceptibilidade para a desidratação é maior, quando comparada com a dos adultos.

A água é essencial para o normal funcionamento corporal já que, fornece o meio aquoso essencial para a ocorrência de várias reações bioquímicas participando diretamente como reagente em diversas reações metabólicas. A ingestão de água equilibra as perdas, garante uma hidratação adequada aos tecidos assegurando o transporte de nutrientes e a manutenção da temperatura corporal.

A água corporal total, correspondente a 60% do peso corporal num adulto saudável, diminui para cerca de 50% nos idosos do sexo masculino e para cerca de 40% nos do sexo feminino. Esta percentagem inferior do sexo feminino é facilmente justificada pelo facto das mulheres terem uma maior quantidade de tecido adiposo, que é praticamente isento de água, ao contrário do muscular. Como a quantidade de água corporal total é menor, a perda de fluidos necessária para aumentar a osmolaridade plasmática é consequentemente inferior.

Também a sensação de sede, a função e a capacidade de concentração renal, a taxa de filtração glomerular, a atividade da renina, a secreção de aldosterona e a resposta cardiovascular à diminuição de volume sofrem uma redução significativa com a idade. Essa redução nos mecanismos compensatórios, acompanhada pelo aumento da resistência do rim à vasopressina, aumenta a fragilidade dos idosos para a desidratação. Para além destas, muitas outras alterações fisiológicas e patológicas favorecem esta propensão que se faz sentir no idoso para a desidratação. As alterações mais importantes, relatadas na literatura são:

Fisiológicas

  • Idade > 80 anos
  • Alterações fisiológicas no balanço hídrico
  • Fragilidade
  • História prévia de desidratação

Patológicas

  • Patologias crônicas (comorbilidade)
  • Infecções
  • Dor e febre
  • Feridas (inclui úlceras de pressão)
  • Hemorragia

 Neurológicas

  • Dificuldades motoras e nas atividades vida diária
  • Lesões extrapiramidais com tremores e salivação excessiva
  • Demência
  • Deficiências sensoriais e de comunicação

Psiquiátricas

  • Depressão
  • Ansiedade
  • Delírio
  • Psicose/Esquizofrenia

Cardiopulmonares

  • Dispneia

 Gastrointestinais

  • Vómitos
  • Diarreia

 Urológicas

  • Incontinência ou medo de incontinência
  • Diminuição da função renal

 Metabólicas

  • Hipercalcemia
  • Diabetes mellitus

Iatrogênicas

  • Poli medicação (diuréticos, laxantes, psicotrópicos)
  • Distúrbios do metabolismo da água/sódio

 Sociais

  • Isolamento social
  • Autonegligência
  • Insuficiente acesso a fluidos
  • Escassez de profissionais ou formação insuficiente
  • Escassez de cuidados no domicílio

Ambientais

  • Inverno (maior risco de infeções)
  • Verão (ondas de calor)

A desidratação ocorre não só pela restrição do consumo de líquidos propriamente ditos, mas também pelo consumo reduzido de alimentos ricos em água. A diminuição do consumo de alimentos é particularmente evidente nos idosos disfágicos uma vez que necessitam de líquidos espessados e de mais tempo dos cuidadores para consumir o volume necessário, sendo por isso frequentemente negligenciados.

As manifestações clínicas da desidratação dependem não só da gravidade, mas também da velocidade de instalação do distúrbio. A clínica da desidratação geralmente é vaga e pode apresentar sintomas como infecções urinárias, insuficiência renal, hipertermia em condições de temperaturas elevadas, cefaleia, constipação, perda de peso, boca seca, deterioração do estado cognitivo, confusão, delírio, alteração da pressão sanguínea, alteração da cor da urina ou débito urinário, sintomas estes que são comuns a várias doenças crônicas e assim dificultar o diagnóstico.

A pele seca é um problema comum em indivíduos mais velhos, pois com a idade, a capilaridade sanguínea torna-se reduzida, diminuindo o fornecimento de sangue e nutrientes para pele e também o número reduzido de glândulas sudoríparas e sebáceas. Todas essas alterações levam ao afinamento da epiderme e das fibras elásticas que fornecem suporte dérmico deixando a pele do idoso com turgor diminuído. Tais fatos dificultam o diagnóstico precoce da desidratação, porque esses sinais clássicos de desidratação podem estar ausentes ou ser enganosos na senescência, já que a diminuição da elasticidade da pele ou os olhos afundados são sinais comumente encontrados nessas pessoas. Desta forma, o turgor cutâneo geralmente é um sinal pobre em idosos devido à inelasticidade da pele. Mesmo assim, se o turgor for usado em pessoas idosas, deve ser feito na testa ou sobre o esterno.

Quanto às mucosas, a língua úmida é um sinal bastante seguro de que o paciente não está desidratado, mas ao contrário, se estiver seca não é prova de desidratação. Isso porque as mucosas secas podem ser um sinal de que o idoso está resfriado e está respirando pela boca ou pode indicar uso de medicação que resseca a boca (como anti-histamínicos, antidepressivos, diuréticos, inibidores da bomba de prótons, ou anti-inflamatórios não esteroidais por exemplo) ou referem-se a doenças crônicas (como artrite reumatoide ou lúpus). Assim, a desidratação não é a única ou até mesmo a causa mais provável de uma boca seca, podendo causar confusão no diagnóstico.

A axila seca tem se mostrado um indicar bastante útil. Pois, se presente, devemos ter alta suspeição de desidratação, visto que, este sinal apresentou sensibilidade de 50% e especificidade de 82%. Ao contrário, a sensação de sede já se mostrou um preditor ruim do estado de hidratação entre os idosos devido ao reconhecido declínio da sensação de sede com o envelhecimento.

Assume-se que a contribuição de alimentos para ingestão total de água é de 20- 30%, ao passo que 70-80% é fornecido por bebidas. Esta relação não é fixa e depende do tipo de bebidas e de alimentos consumidos. Nas bebidas incluem-se a água, suco de frutas, leite, chá e café. As bebidas alcoólicas também contêm água não sendo aconselhadas em caso de desidratação por aumentar o efeito diurético. Devem ser consumidos alimentos com grande percentagem de água na sua constituição tais como frutas (melancia, melão, morango, laranja), vegetais frescos, sopas, queijo fresco ou iogurte. Assim, o consumo pode ser aumentado de uma forma variada para o idoso não só através de líquidos, mas também da própria dieta.

Durante os períodos entre refeições deve ser encorajado o consumo de líquidos. Estes devem ser oferecidos durante todas as atividades e, nos lares, devem ser criadas atividades que, ao mesmo tempo que estimulam a interação social, estimulem o consumo de líquidos como por exemplo a “hora do chá” e durante as atividades quotidianas, como escovar os dentes ou tomar a medicação. Deve ser transmitido ao idoso que esta distribuição ao longo do dia é aconselhável uma vez que é preferível beber frequentemente pequenas quantidades de líquidos do que grandes quantidades em apenas algumas ocasiões: beber grandes quantidades de uma só vez provoca uma expansão do estômago e, consequentemente, diminuiu a sensação de sede.

Quer vivam numa instituição ou em casa, os idosos que devido a déficits cognitivos, sensoriais, motores (hemiplegias e tremores) ou a dificuldades na realização das atividades da vida diária não consigam tomar conta de si próprios e estejam por isso altamente dependentes de terceiros, devem ter uma maior assistência na manutenção da hidratação. Nestes idosos, o papel dos cuidadores e profissionais de saúde reveste-se de uma importância extrema. De igual forma, também os idosos disfágicos e os que temem a incontinência devem ser auxiliados de uma forma mais atenta sem nunca descuidar do risco de desidratação. Este auxílio é seriamente dificultado no caso dos idosos que vivem sozinhos, que devem ser orientados quanto a importância da ingestão de líquidos no decorrer do dia, alimentos ricos em água e no reconhecimento dos sinais e sintomas da desidratação.

Referência Bibliográfica

ARAÚJO, Maria Lúcia Azevedo. A desidratação no idoso. 2013. Tese de Doutorado. [sn].

BLANCH, Graziela Torres; JÚNIOR, Saulo Marques; PAZINI, Sandra Lúcia. DESIDRATAÇÃO EM IDOSOS: UMA REVISÃO NARRATIVA. Revista EVS-Revista de Ciências Ambientais e Saúde, v. 47, n. 1, p. 7413, 2020. LOPES, Alice Raquel Cabral. Desidratação no idoso. 2014. Tese de Doutorado.

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saúde

O uso de antioxidantes na Terapia Nutricional do paciente oncológico

A quimioterapia está entre os tratamentos mais frequentemente prescritos pelos médicos como principal forma de combate ao câncer.

Escrito por Isabella Brescia

No Brasil, o câncer é a terceira causa de morte (11,84% do total de óbitos) e a segunda por doença (27,63% do total), e a cada ano atinge pelo menos 9 milhões de pessoas, segundo dados da Organização Mundial de Saúde.1-3 A taxa de mortalidade associada ao câncer vem crescendo  nos últimos anos em função  do  envelhecimento  populacional,  do  processo  de  industrialização  e  das  mudanças de  hábitos  de  vida.  Devido aos fatos apontados, o câncer é  considerado  um problema  de  saúde  pública  e  esforços  devem ser  mobilizados  para  sua  prevenção  e  cura.

A quimioterapia está entre os tratamentos mais frequentemente prescritos pelos médicos como principal forma de combate à doença. Entretanto, o tratamento quimioterápico é agressivo ao sistema imunológico do paciente devido, principalmente, à toxicidade causada pelas drogas antineoplásicas. Devido à sua inespecificidade quanto às células cancerígenas, muitas células sadias são atingidas, principalmente as que de forma natural se multiplicam rapidamente, causando efeitos colaterais.

Dentre os efeitos adversos induzidos pela toxicidade do tratamento antineoplásico se incluem: constipação, diarreia, mucosite, náuseas, vômitos, xerostomia, alteração no paladar e má absorção de nutrientes. Tais efeitos podem promover um quadro de desnutrição. Essa condição é associada ao paciente oncológico em decorrência da diminuição da ingestão alimentar, alterações metabólicas, morfológicas e funcionais causadas pelo tumor, além do aumento da necessidade energética decorrente do crescimento tumoral. Vale ressaltar que a ocorrência de desnutrição depende da frequência e do tempo de submissão ao tratamento, além da duração da manifestação dos sintomas e da adequação da ingestão alimentar.

Pacientes que apresentam perda de peso durante o tratamento com drogas antineoplásicas relatam maior sintomatologia e aumento da toxicidade quando comparados com aqueles que mantem a estabilidade do peso. O aumento da toxicidade está associado a redução da tolerância e efetividade do tratamento, acarretando uma maior taxa de morbimortalidade e redução da qualidade de vida.

Na abordagem radioterápica a intensidade dos efeitos colaterais, que aparecem geralmente na 3ª semana de aplicação, depende do local do corpo, extensão da área irradiada, tipo de radiação, e aparelho utilizado. O sintoma que tem maior impacto na alimentação do paciente é a perda de apetite e dificuldade para ingerir alimentos. Em alguns casos ocorre também o espessamento da saliva podendo alterar a percepção do sabor dos alimentos.

Pesquisas indicam que  a  terapia nutricional  pode  exercer  grandes benefícios ao tratamento oncológico por meio da   minimização   dos   efeitos   adversos produzidos  pelo  tratamento  antineoplásico, promovendo  um  melhor  estado  de  saúde  ao paciente.  Alguns nutrientes  antioxidantes,  como  as  vitaminas A,  C  e  E  minimizam  os  efeitos  tóxicos produzidos  pelas  drogas  antineoplásicas  e interferem  positivamente  na  resposta  ao tratamento  empregado. As interações  entre antineoplásicos  e  antioxidantes  promovem  a potencialização  do  mecanismo  de  ação  das drogas,  resultando  em  diminuição  do tamanho do tumor com produção de menores efeitos  colaterais,  melhoria  da  qualidade  de vida dos pacientes oncológicos e maior tempo de  sobrevida.

Os antioxidantes são substâncias capazes de atrasar ou inibir a oxidação de um substrato, seu papel é proteger as células sadias do organismo contra a ação oxidante das espécies reativas de oxigênio. Antioxidantes metabólicos pertencem à classe de antioxidantes endógenos ou enzimáticos, como a GSH, ácido lipóico, L-arginina, coenzima Q10, melatonina, ácido úrico, bilirrubina, que são produzidos através de reações metabólicas do organismo. Nutrientes antioxidantes pertencem à classe de antioxidantes exógenos ou não-enzimáticos e podem ser adquiridos através do consumo de alimentos fonte ou através do consumo de suplementos alimentares, como vitamina E, vitamina C, carotenóides, elementos traços como Selênio, Cobre, Zinco e Manganês, flavonóides, polifenóis.

Os compostos antioxidantes agem de formas diferentes contra esses radicais livres, principalmente por meio de três linhas de defesas orgânicas. A primeira é através da prevenção, caracterizada pela inibição da produção de substâncias nocivas. A segunda, é a interceptação, em que os antioxidantes interrompem as atividades dos radicais livres. E a terceira e última, é o reparo, que acontece quando as duas primeiras linhas não foram totalmente efetivas.

Os achados em artigos científicos sugerem que a suplementação de vitaminas e minerais antioxidantes no paciente oncológico, em sua grande maioria, apresentam resultados positivos na amenização de efeitos adversos gerados pela quimio e radioterapia utilizadas como tratamento antineoplásico, sendo essas terapias concomitantes ou não. Sugerem também que podem haver variações nos resultados da suplementação de acordo com o tempo e intensidade do tratamento, gravidade das alterações fisiológicas geradas pelo mesmo e resposta biológica do indivíduo. Dentre os benefícios observados, destaca-se a capacidade dos antioxidantes utilizados em restaurar o status antioxidante dos pacientes, normalmente diminuído devido à fisiopatologia do câncer e ao tratamento, além da atenuação de efeitos colaterais causados pelo tratamento, principalmente na cavidade oral. Felizmente, a melhora de condições relacionadas à cavidade oral influencia diretamente, de maneira positiva, no consumo alimentar do paciente.

Finalmente, os resultados obtidos reforçam a necessidade de monitoramento nutricional de forma integral, desde o diagnóstico até o final do tratamento quimio/radioterápico, com o objetivo de minimizar e/ou evitar as repercussões negativas ocasionadas tanto pela doença como pelo tratamento no estado nutricional e, consequentemente, na qualidade de vida dos indivíduos que passam por esse processo. Ainda, aponta-se a importância do acompanhamento bioquímico e dietético dos níveis destes nutrientes no paciente oncológico, sendo necessário o planejamento futuro de estratégias racionais para a administração destes antioxidantes na dieta como possíveis adjuvantes no tratamento do câncer.

Referência bibliográfica

PARDINHO, Giovana Jorge Rosa et al. Impactos da utilização de compostos antioxidantes como parte da terapia nutricional do paciente oncológico em tratamento. Advances in Nutritional Sciences, v. 1, n. 1, p. 62-72, 2020.

DOS SANTOS, Helimar Senna; DE SOUZA CRUZ, Wanise Maria. A terapia nutricional com vitaminas antioxidantes e o tratamento quimioterápico oncológico. Revista Brasileira de cancerologia, v. 47, n. 3, p. 303-308, 2001. ROHENKOHL, Caroline Cavali; CARNIEL, Ana Paula; COLPO, Elisângela. Consumo de antioxidantes durante tratamento quimioterápico. ABCD. Arquivos Brasileiros de Cirurgia Digestiva (São Paulo), v. 24, p. 107-112, 2011.

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Nutrição na Melhor Idade

Para gozar de boa saúde, se sentir forte e bem-disposto o idoso precisa de nutrientes ativos para melhorar o sistema imune.

Escrito por Isabella Brescia

Envelhecer bem depende de uma boa alimentação e se manter ativo, nos dias de hoje, as pessoas estão se mantendo mais em forma, se sentindo melhor, mais capaz e vivendo por mais tempo que no passado. Embora os genes tenham seu papel no processo de envelhecimento, a alimentação nessa fase da vida pode fazer toda a diferença na qualidade de vida.

Nesse período, o corpo se torna menos eficiente em absorver e metabolizar diversos minerais e vitaminas, além do uso prolongado de alguns medicamentos que podem reduzir a absorção de certos nutrientes. Portanto é ainda mais importante que os alimentos consumidos sejam nutritivos. Outro fator importante é a redução das atividades diárias, resultando num ritmo metabólico mais lento e consequentemente no ganho de peso.

O excesso de peso aumenta o risco de doenças mais graves como diabete, hipertensão arterial e doenças cardíacas, e exige um esforço extra das articulações, tornando doenças como artrite mais dolorosas e osteoartrite mais frequente (condição degenerativa que afeta as articulações do quadril e joelho causando dor, rigidez e perda de mobilidade).

Uma em cada 10 pessoas acima de 60 anos desenvolve a diabete não dependente da insulina, e a mudança na alimentação na maioria das vezes é suficiente para controlar a doença. A melhor forma de se proteger contra a diabete é manter o peso saudável e praticar atividade física regularmente. O risco de se tornar diabético é 5 vezes maior em pessoas com o índice de massa corporal acima de 30, e a atividade física regular reduz o risco em 40%.

Os sentidos de olfato e paladar vão se tornando menos aguçados com a idade, e o idoso se sente tentado a usar mais sal, correndo o risco de aumentar sua pressão arterial. Em vez de aumentar o sal, o ideal é experimentar o uso de alho, suco de limão, mostarda e vinagre de maçã para temperar os pratos. O cuidado dos dentes não deve ser negligenciado e se faz uso de prótese, elas devem se ajustar bem a gengiva, para que o idoso possa saborear a comida sem desconforto.

Para gozar de boa saúde, se sentir forte e bem-disposto o idoso precisa de nutrientes ativos para melhorar o sistema imune:

Vitamina B6 e B12

À medida que envelhecemos a absorção dessas vitaminas diminui, portanto, na maioria das vezes é necessário tomar suplementos. Carne de porco, peixes, ovos, cereais, integrais, pão integral, banana, leguminosas e nozes são boas fontes.

Vitamina C

Além de um excelente antioxidante, a vitamina C fortalece o sistema imune, promove a cicatrização e aumenta a absorção de ferro. Frutas cítricas, tomate, pimentão e brócolis contém em abundância.

Vitamina E

A vitamina E, que é encontrada sobretudo em cereais integrais, verduras, azeite e vegetais, apresenta importante papel antioxidante, na estimulação da resposta imunológica e na inibição da formação de moléculas produtoras de tumores. Há estudos que relacionam a ingestão de vitamina E à redução de incidência de risco cardiovascular, ao retardo da progressão de demências já instaladas, como a doença de Parkinson e a de Alzheimer e ao aumento da capacidade funcional de indivíduos idoso

Vitamina D e Cálcio

A vitamina D ajuda a absorver o cálcio e mantém os ossos e músculos saudáveis além de participar do metabolismo de vários órgãos. Muitos idosos apresentam deficiência de vitamina D, que é produzida pela ação dos raios solares sobre a pele. Quando o tempo estiver bom, 30 minutos de exposição solar diariamente são suficientes para manter os níveis sanguíneos. À medida que o corpo envelhece a absorção de cálcio vai se tornando menos eficiente. Os laticínios são as melhores fontes. Suplementos de vitamina D e cálcio na maioria dos idosos se faz necessário.

Potássio e Magnésio

O uso prolongado de medicamentos, como diuréticos, pode acelerar a perda de potássio e magnésio, e níveis baixos desses minerais podem causar depressão e fraqueza muscular. Banana, carne, batata, laranja e frutas secas são ricas em potássio e nozes, banana, damasco e soja oferecem boa quantidade de magnésio.

Zinco e Cobre

Ambos fortalecem o sistema imune e com frequência seus níveis são baixos em idosos. Carne, fígado, abóbora e semente de girassol são boas fontes de zinco e quanto ao cobre é encontrado em cacau em pó, fígado e nozes.

Proteínas

Essencial para regeneração e construção dos tecidos. O idoso precisa de 1,0 a 1,5 de proteínas/ kg de peso/dia que pode ser obtido nas carnes magras, laticínios, leguminosas e suplementos proteicos.

Líquidos

Nessa fase da vida o corpo está menos sensível a sede e mais vulnerável a desidratação. Há casos em que a confusão mental, diagnosticada como senilidade, é interrompida pelo aumento da ingestão de líquidos. Água, suco de frutas, chá de ervas, vegetais e frutas suculentas devem ser ingeridos várias vezes ao dia. No entanto chás com alto teor de cafeína (chá verde, chá preto e chá mate), café e álcool devem ser evitados por serem diuréticos.

O envelhecimento não é algo a ser temido, ao contrário, é um período de maturidade relaxada e realizada, e não de declínio passivo. Uma alimentação equilibrada, associada a prática de exercícios físicos e suplementos são formas de prolongar as atividades prazerosas assim como a expectativa de vida.

Referência bibliográfica

HUNTER, Fiona et al, A Comida Certa para o seu Corpo. Rio de Janeiro, Reader`s Digest, 2003 TRAMONTINO, Vanessa Silva et al. Nutrição para idosos. Revista de Odontologia da Universidade Cidade de São Paulo, v. 21, n. 3, p. 258-267, 2017.

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Alimentos para combater a tristeza

Há evidências de que a alimentação influencia o equilíbrio do bem-estar físico e mental.

Por Isabella Brescia

Ninguém é feliz o tempo todo e é natural nos sentirmos tristes de vez em quando, mas a depressão e outros distúrbios do humor são mais que apenas um episódio de tristeza. Se você apresenta sensações persistentes de desesperança, pessimismo e tristeza profunda, pode haver um motivo real para preocupação. Essas sensações podem afetar sua alimentação, sono, autoestima e até a capacidade de aproveitar a vida. Os casos mais sérios de depressão requerem a ajuda de um médico.

A alimentação pode não ser a solução completa, mas há evidências de que ela influencia o equilíbrio do bem-estar físico e mental. As pessoas deprimidas com frequência perdem o apetite ou se enchem de comidas sem nutrientes, as chamadas junk foods, além de se sentirem desmotivadas para cozinhar. Um círculo vicioso se forma: hábitos alimentares incorretos levam a deficiências nutricionais que, por sua vez, aumentam os sintomas de depressão. Comer alimentos ricos desses nutrientes deficientes associados à prática regular de atividade física pode produzir melhoras significativas em pessoas que sofrem de depressão leve a moderada.

Se você estiver deprimido sua prioridade deve ser uma alimentação balanceada rica nos seguintes nutrientes, que estão associados a depressão:

  • Vitaminas do complexo B
    Pessoas deprimidas tendem a apresentar níveis baixos de vitamina B6, que é necessária para a produção de serotonina, substância responsável por melhorar o humor. Níveis baixos de B2, B12 e ácido fólico também podem resultar em depressão. Para aumentar a ingestão de vitaminas do complexo B, coma carne magra, aves, peixes, ovos, nozes, soja, banana, laticínios, cereais enriquecidos e vegetais folhosos.
  • Vitamina C

Também é reduzida em pessoas que sofrem de depressão. Coma muitas frutas, verduras e legumes crus e frescos. Frutas cítricas, morango, goiaba, kiwi, acerola e pimentões são ótimas fontes de vitamina C.

  • Ferro

A deficiência de ferro pode levar a depressão, pois ele é essencial para a produção de serotonina. As mulheres que fazem uso de anticoncepcionais oral vão estar mais propensas a depressão se seus níveis de ferro estiverem baixo. Os alimentos ricos em ferro incluem carne vermelha, gema de ovo, fígado, feijão, grão de bico, cereais integrais, nozes e vegetais folhosos.

  • Selênio

As pessoas com deficiência desse mineral antioxidante também podem experimentar sensações de depressão e ansiedade. O selênio é encontrado em carne, peixes, frutos do mar, grãos integrais, abacate e laticínios.

  • Zinco

Mineral essencial para que o corpo transforme o triptofano em serotonina é encontrado em ostras, carne vermelha, aves, ovos, laticínios, amendoins e semente de girassol.

  • Magnésio

Mineral com capacidade de reduzir o stress, insônia, ansiedade e depressão. Ele pode ser encontrado em cereais integrais, grãos, figos secos, nozes e sementes.

  • Ômega 3

Ácido graxo que melhora o funcionamento cerebral reduzindo a ansiedade e as alterações de humor encontrado em peixes gordurosos como salmão, arenque, sardinha, cavalinha e atum.

Além disso você pode experimentar as seguintes sugestões:

  • Faça refeições pequenas e regulares para manter equilibrados os níveis de glicose em seu sangue e evite lanches gordurosos e açucarados.
  • Coma uma banana madura por dia para elevar os níveis de serotonina.
  • Se você não gosta de peixe ou tem dificuldade de encontrar para comprar, tome um suplemento diário de óleo de peixe.
  • Apenas uma castanha do Pará por dia já fará você se sentir melhor! Ela é uma excelente fonte de selênio.
  • Use mais pimenta como tempero, a capsaicina responsável pela ardência da pimenta estimula a liberação de endorfinas responsáveis pela sensação de bem-estar.

Uma alimentação saudável e equilibrada pode melhorar seu estado de espírito reduzindo os sintomas da depressão, como ansiedade, insônia e oscilação de humor, mas lembre-se sempre de procurar um médico se esses sintomas forem constantes.

Referência bibliográfica

HUNTER, Fiona et al, A Comida Certa para o seu Corpo. Rio de Janeiro, Reader`s Digest, 2003 SEZINI, Angela Maria; DO COUTTO GIL, Carolina Swinwerd Guimarães. Nutrientes e depressão. Vita et Sanitas, v. 8, n. 1, p. 39-57, 2014.