Escrito por Isabella Brescia
Nas últimas décadas, a expectativa de vida da população mundial aumentou, alcançando a média global de aproximadamente 70 e 80 anos em países desenvolvidos. De acordo com dados demográficos, estima-se que até 2050 o número de indivíduos com mais de 60 anos salte dos 605 milhões para 2 bilhões de pessoas em todo o mundo (WHO, 2014). O processo de envelhecimento é acompanhado de uma série de alterações fisiológicas e funcionais. Com o decorrer dos anos torna-se cada vez mais necessário procurar soluções para minimizar e até evitar essas alterações ocasionadas pelo envelhecimento. Dentre essas alterações destacam-se as profundas modificações na composição corporal.
Alterações no padrão de composição corporal, especificamente a redução da massa corporal magra e o aumento do tecido adiposo, se associam à diminuição da força e potência muscular, e como consequência, limitam a capacidade funcional e a autonomia dos idosos, aumentando a propensão ao risco de quedas. Além da redução da massa magra, o envelhecimento gera uma redução entre 20 a 30% na água corporal total dos indivíduos, comprometendo o estado nutricional, interferindo no envelhecimento sadio e ativo. Diversos autores verificaram que o treinamento resistido pode atenuar ou retardar a perda da força muscular, acarretando significantes respostas neuromusculares por meio do aumento da capacidade contrátil dos músculos esqueléticos.
Aliada aos benefícios de programas de treinamento resistido, outras estratégias têm sido implementadas para potencializar os seus efeitos. Entre elas, figura-se a suplementação com creatina, verificada como um auxílio ergogênico eficaz no incremento do desenvolvimento de força, retardo da perda de massa muscular, o processo de remodelamento ósseo e o aumento na retenção hídrica ao tecido muscular.
A creatina é um aminoácido naturalmente presente em humanos, acumula-se, maiormente no músculo esquelético (95%), na forma livre (40%) e em sua forma de fosfocreatina (60%). O corpo humano pode sintetizar creatina o bastante para suprir o funcionamento normal do organismo, ela é formada a partir de três aminoácidos: arginina, glicina e metionina. A creatina é considerada um carnonutriente, sendo disponível apenas por meio de alimentos com origem animal, especialmente nos músculos esqueléticos ou via suplementação, sendo boa parte da necessidade diária obtida por meio de uma dieta onívora típica e o restante sintetizado endogenamente.
A obtenção de creatina via alimentação é cerca de 1-2g em uma alimentação habitual normal, quantidade suficiente para saturar o estoque muscular em 60 a 80%. Neste sentido, a suplementação de creatina possui o intuito de preencher 20 a 40% da creatina muscular. O protocolo de saturação baseia-se na ingestão de 0,3 g de creatina monoidratada por quilo corporal (ou 5 g), administrada 4 vezes ao dia durante um período de 5 a 7 dias consecutivos. Já o protocolo de manutenção dos estoques consiste na ingestão de 3-5g/dia. De acordo com a Sociedade Internacional de Nutrição Esportiva (ISSN), a administração de creatina monoidratada é considerada segura em curto e longo prazo para diferentes faixas etárias, inclusive em idosos. Sua captação muscular é potencializada quando a ingestão é combinada com carboidratos (KREIDER et al., 2017).
Embora estudos com indivíduos muito idosos (> 90 anos) e gravemente frágeis permaneçam escassos, o efeito benéfico da creatina sobre a massa magra e a função muscular parece ser aplicável a esta população, independente do sexo, forma física ou estado de saúde. É indispensável destacar que a creatina em conjunto com o treinamento de resistência pode resultar em maiores adaptações no músculo esquelético em comparação ao treinamento sozinho.
Em idades avançadas, a síntese de proteínas é mais lenta do que em populações jovens após estímulos anabólicos. Somado a isto, os idosos possuem resistência anabólica, sendo preciso um maior consumo de proteínas para alcançar o mesmo grau de síntese proteica de indivíduos mais novos.
De um modo geral a maioria dos estudos demonstrou que o treinamento resistido melhora a funcionalidade e autonomia dos indivíduos idosos. O treinamento resistido associado à suplementação com creatina foi capaz de promover melhoras na composição corporal, evidenciando aumentos significativos na massa corporal magra, massa muscular e densidade mineral óssea, além de promover redução na massa corporal gorda. Em alguns estudos nos quais houve a adição de proteína (whey protein) os efeitos sobre a massa corporal magra demonstraram ser otimizados.
Referência Bibliográfica
MELO, Aline L.; ARAÚJO, Valbério Cândido; REIS, Washington A. Efeito da Suplementação de creatina no treinamento neuromuscular e composição corporal em jovens e idosos. Revista Brasileira de Nutrição Esportiva, São Paulo. v. 10. n. 55. p.79-86. Jan./Fev. 2016. ISSN 1981-9927
SILVA et al. Suplementação de creatina e treinamento de força em idosos: uma revisão sistemática. Caderno de Educação Física e Esporte, Marechal Cândido Rondon, v. 16, n. 1, p. 247-257, jan./jun. 2018. http://e-revista.unioeste.br/index.php/cadernoedfisica/index KREIDER, R.B., KALMAN, D.S., Antonio, J. et al. International Society of Sports Nutrition position stand: safety and efficacy of creatine supplementation in exercise, sport, and medicine. J Int Soc Sports Nutr14, 18 (2017). https://doi.org/10.1186/s12970-017-0173-z