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ADOÇANTES ARTIFICIAIS

Por Isabella Brescia

Adoçantes artificiais são aditivos alimentares de valor energético nulo ou baixo, que fornecem doçura aos alimentos e bebidas, substituindo o açúcar. Encontrados em uma variedade de alimentos e bebidas comercializados como: doces, pães, sucos, sorvetes, geleias, gomas de mascar, refrigerantes, produtos lácteos e dezenas de outros alimentos e bebidas. A utilização de adoçantes artificiais pode ser recomendada/adequada para pessoas que apresentam certas restrições dietéticas, isto é, pessoas diabéticas e/ou obesas.

Sacarina

O primeiro adoçante artificial descoberto foi a substância sacarina, sua descoberta ocorreu em 1879. É comumente utilizada em refrigerantes, assados, geleias, chicletes, doces, vitaminas, medicamentos, produtos cosméticos (pasta de dente, enxaguante bucal e brilho labial). Em 1900, a referida substância começou a ser utilizada e teve sua aprovação pela FDA em 1970.  A sacarina é 300 vezes mais doce que a sacarose e apresenta 0 kcal/g, considerando a ingestão de 16 mg da referida substância. Ela não é absorvida ou metabolizada no trato gastrointestinal, sendo excretada pelos rins, o que não afeta os níveis de insulina no sangue.

No entanto, sabe-se que a sacarina é consumida por dezenas de milhões de pessoas e por isso as preocupações quanto à sua ingestão são de grande interesse para a saúde pública. Para tanto, segundo a Organização Conjunta de Agricultura e Alimentação/Comitê de Peritos da Organização Mundial da Saúde sobre Alimentos, sua ingestão diária aceitável é de 5 mg/kg de peso corporal.

Efeitos nocivos da sacarina

Na literatura são descritos diversos estudos a respeito dos efeitos nocivos que a ingestão de sacarina pode ocasionar para a saúde, podendo resultar em danos mutagênicos, câncer de bexiga e danos significativos ao estômago, de acordo com estudos em roedores. Acredita-se que a ingestão desta substância esteja diretamente relacionada ao aumento de apetite, podendo resultar em ganho de peso. Além disso, em 1994, foram registrados casos de hepatoxicidade em indivíduos que haviam ingerido medicamentos que apresentavam sacarina em sua composição. Como a sacarina apresenta potencial efeito carcinogênico, sua comercialização foi proibida no Canadá e nos Estados Unidos em 1991. Entretanto, a substância voltou a ser comercializada como aditivo alimentar em 2000, após os dados não serem ratificados, uma vez que os trabalhos voltados a carcinogenicidade em modelos animais utilizaram doses muito elevadas, podendo chegar a 2 g/Kg.

Aspartame

O adoçante aspartame foi descoberto em 1965 e é um dipeptídeo composto por dois aminoácidos: fenilalanina e aspartato. Em 1996 foi aprovado pela FDA para uso em alimentos e bebidas. Desde então, ele tem sido utilizado por centenas de milhões de pessoas mundialmente em mais de 6000 produtos, sendo frequentemente encontrado em refrigerantes, doces, alimentos e medicamentos. O aspartame é cerca de 200 vezes mais doce que a sacarose e apresenta 4 kcal/g. Uma vez ingerido, o aspartame é degradado no lúmen intestinal em fenilalanina, aspartato e metanol.

Efeitos nocivos do aspartame

O consumo de aspartame pode apresentar efeitos nocivos ao organismo. Estudos realizados com roedores revelaram o potencial carcinogênico (linfoma, leucemia, tumores do trato urinário e tumores neurológicos) do aspartame em uma dose diária de 20 mg/kg, mesmo sendo a ingestão diária máxima aceitável de 40 mg/kg de peso corporal. Segundo estes mesmos estudos, há também forte associação de aspartame com diabetes tipo 2, parto prematuro, nefrotoxicidade, hepatoxicidade e alterações histopatológicas nas glândulas salivares. Vale ressaltar que a produção de fenilalanina, resultante da degradação de aspartame, pode atingir níveis tóxicos em pessoas portadoras de fenilcetonúria (PKU), doença hereditária causada pela deficiência ou ausência da enzima fenilalanina hidroxilase, necessária para converter fenilalanina em tirosina. Trata-se de um distúrbio caracterizado pelo acúmulo de fenilalanina  no sangue, nos tecidos e na urina, podendo causar deficiência intelectual, convulsões e outros problemas médicos.

Além disso, aspartame pode ser tóxico para o Sistema Nervoso Central (SNC), podendo atingir regiões que afetam significativamente a memória, a aprendizagem e o comportamento do indivíduo, como o córtex cerebral e o córtex cerebelar, causando neurodenegeração e, consequentemente, a Doença de Alzheimer.

Acessulfame de potássio

O  acessulfame de potássio ou acessulfame-K foi descoberto em 1967 e obteve sua aprovação pela FDA em 1988 para ser utilizado em doces, bebidas, gomas de mascar, produtos lácteos e panificação. O poder adoçante de acessulfame-K é 200 vezes maior que a sacarose e apresenta 0 kcal/g. Ele não é metabolizado pelo organismo, entretanto, a ingestão máxima permitida é de 9 a 15 mg/Kg de peso corporal.

Efeitos nocivos do acessulfame-K

O consumo de acessulfame-K pode apresentar efeitos nocivos ao organismo. Testes com roedores em uma dose de 37,5 mg/Kg/dia do adoçante por um período de quatro semanas. Analisando-se os resultados, foi possível observar que eles apresentaram significativo aumento de peso. Além disso, verificou-se que a ingestão de acessulfame-K provocou o aumento de bactérias no intestino dos animais alterando significativamente a composição da microbiota intestinal. Posteriormente, constatou-se que o consumo do adoçante favoreceu a ocorrência de alterações genéticas, isto é, o decréscimo dos genes envolvidos no metabolismo energético.

Sucralose

Em 1976 a sucralose foi descoberta, e em 1998 foi aprovada pela FDA. Em 2008, mais de 80 países aprovaram a sua comercialização como adoçante. É comumente utilizado em sucos naturais, gelatinas, sobremesas à base de laticínios, chás, produtos de panificação, entre outros. A sucralose é 600 vezes mais doce que a sacarose. Ela não é metabolizada ou armazenada pelo organismo como fonte de energia, logo apresenta 0 kcal/g. Então, depois de consumida, ela é rapidamente absorvida pelo trato gastrointestinal, removida pelos rins e excretada na urina.

Efeitos nocivos da sucralose

O produto hidrolisado de sucralose, entra no cérebro através da corrente sanguínea, inibindo o processo de transporte da D-glicose realizado no epitélio. Ela compete com a captação de glicose no cérebro, contribuindo para o aumento da concentração de açúcar no sangue e a diminuição da concentração de D-glicose no cérebro. Como os neurônios dependem de glicose  na corrente sanguínea para atender a demanda energética, a falta deste substrato compromete significativamente o funcionamento cerebral.

Num teste com roedores a fim de verificar a influência da ingestão de sucralose no funcionamento da memória, observou-se uma porcentagem mínima de apoptose celular na área do hipocampo. Neste caso, cerca de 97% da substância é excretada pela urina, não sendo, portanto, metabolizada pelo organismo. A substância não provocou danos neuronais significativos. Em contrapartida, um dos componentes químicos da sucralose, a 6-cloro6-deoxiglicose, ocasionou lesão nos núcleos do tronco cerebral, cerebelo e medula espinhal. Além disso, a sucralose foi capaz de alterar os níveis de ácidos biliares da microbiota intestinal, os quais facilitam a absorção de vitaminas, bem como a homeostase do colesterol.

Ciclamato de sódio

O ciclamato de sódio foi descoberto em 1937 e em 1949 foi aprovado pelo FDA, desde então passou a ser amplamente utilizado na indústria alimentícia em adoçantes e na composição de alimentos light, diet e zero açúcar, bem como na indústria farmacêutica. O adoçante ciclamato de sódio é de 30 a 40 vezes mais doce que a sacarose, sendo ingestão diária máxima aceitável de 11 mg/Kg da substância. Ele, por si só, apresenta baixo nível de toxicidade. Entretanto, ao ser metabolizado pelas bactérias intestinais, forma-se cicloexilamina, aumentando significativamente o nível de toxicidade do adoçante em questão e podendo causar efeitos nocivos à saúde.

Efeitos nocivos do consumo de ciclamato de sódio

O alto consumo de ciclamato de sódio pode provocar efeitos colaterais graves sobre a flora intestinal. Estudos foram realizados com roedores, os quais foram submetidos à ingestão diária de 100 mg de ciclamato de sódio por um período de 4 meses. Houve redução significativa no número de clostridium, uma classe de bactérias presente na flora intestinal. Além disso, foi verificado que a cicloexilamina, formada pelo processo de metabolização de ciclamato de sódio é potencialmente cancerígena e compromete o funcionamento da flora intestinal, podendo ser, portanto, tóxica ao organismo.

Adicionalmente, um estudo com 21 macacos com 24 anos de idade, de origem africana, os que foram submetidos à ingestão de 100 mg/kg e 500 mg/kg de ciclamato de sódio, durante cinco dias por semana. Foi observado tumor maligno no cólon intestinal e carcinoma hepatocelular relacionados com a dose de 500 mg/kg de ciclamato de sódio e adenocarcinoma de próstata, em relação a dose de 100 mg/kg. Tumores benignos também foram relatados na glândula tireoide, bem como leiomioma no útero de fêmeas após ingestão nas doses de 100 e 500 mg/kg da substância. Além disso, anormalidade na produção de espermatozoides foi observada em alguns macacos. Isso indica, portanto, os potenciais efeitos cancerígeno e tóxico da substância.

A obesidade é uma das doenças crônicas de maior ocorrência mundial, devido principalmente a péssimos hábitos alimentares, sedentarismo e/ ou disfunções hormonais. Sendo assim, tem sido incessante a busca pelo consumo de adoçantes dietéticos ou com baixo valor calórico, sejam eles naturais ou sintéticos. Grandes avanços foram alcançados no âmbito da redução do potencial calórico dessas substâncias, embora, é importante ressaltar que isso não significa um ganho direto na saúde ou qualidade de vida. Dessa forma, foram mostrados os efeitos nocivos que essas substâncias podem causar à saúde, tais como doenças neurodegenerativas, doenças cardiovasculares, distúrbios gastrointestinais, entre outros.

Referência Bibliográfica RIBEIRO, T. R.; PIROLLA, N. F. F.; NASCIMENTO-JÚNIOR, N. M. Adoçantes Artificiais e Naturais: Propriedades Químicas e Biológicas, Processos de Produção e Potenciais Efeitos Nocivos. Revista Virtual de Química, v. 12, n. 5, p. 1-41, 20

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Bem estar saúde

Adoçantes naturais

Os adoçantes naturais são opções mais saudáveis para substituição ao açúcar refinado.

Escrito por Isabella Brescia

Há cerca de 11500 anos, a espécie humana passava por uma grande transição que ficaria conhecida como “Revolução Neolítica” ou “Revolução Agrícola”, onde, em diversas regiões, passou-se a cultivar plantas e domesticar animais, o que levou os homens primitivos a armazenarem os alimentos e cozinhá-los, aumentando a importância de alguns condimentos, como por exemplo, o mel, já utilizado pelos hominídeos, ainda que sem qualquer tipo de processamento, como adoçante, juntamente com a polpa de algumas frutas doces, como figos e tâmaras, durante os períodos da Antiguidade Clássica, passando pela Idade Média, quando era usado para preservar carnes e frutas, chegando até a Renascença. Essas substâncias são obtidas por meio de fontes naturais, como plantas ou animais, como o agave, estévia e mel de abelha. O mel ficou conhecido durante muito tempo como único adoçante disponível, até que, com a descoberta de outras fontes naturais, como açúcar de cana-de-açúcar, de beterraba, de milho e mais recentemente, de coco, teve sua utilização diminuída proporcionalmente.

Outro grande concorrente na classe dos adoçantes naturais, é o xarope de milho rico em frutose (HFCS), obtido do amido de milho. Surgiu como um substituto do açúcar na década de 1970, quando esse último passava por um período de alta nos preços e mesmo após isso continuou no mercado, sendo amplamente utilizado na indústria de bebidas, alimentos processados e adoçantes.

Com a crescente preocupação mundial pela melhoria da qualidade de vida, para manter uma boa forma física e valorizando principalmente a saúde, o açúcar passa a dividir espaço com uma quantidade de adoçantes que vem aumentando no mercado. Criado originalmente, com o intuito de alcançar uma pequena parcela da população com restrição de açúcar, os diabéticos, os adoçantes compõem hoje uma parte significativa da alimentação mundial.

Os adoçantes naturais são opções mais saudáveis para substituição ao açúcar refinado e podem conter vitaminas, minerais e antioxidantes importantes para o funcionamento do organismo, como o mel e o açúcar de coco, mas vale ressaltar que esses não são recomendados para diabéticos, alguns possuem baixo índice glicêmico e calórico e auxiliam no controle da diabetes e obesidade.

O açúcar branco, seja refinado ou cristal, passa por um processo de clarificação, o qual visa eliminar qualquer tipo de material corante presente no caldo, bem como diminuição da viscosidade, preservação contra alguns microorganismos e prevenção do amarelamento do açúcar como produto final.

 O açúcar demerara difere do açúcar cristal apenas no processo de clarificação, levando-o a coloração amarronzada ou castanho claro em seus cristais. Com níveis nutricionais elevados, próximos aos do açúcar mascavo, esse açúcar possui nutrientes como cálcio (Ca), fósforo (P), potássio (K), magnésio (Mg), além das vitaminas B e C, preservados devido a um refinamento mais brando e à pequena quantidade de aditivos químicos ao qual é submetido em sua produção.

O açúcar mascavo é um tipo não refinado de açúcar de coloração escura, com aspecto úmido, com um forte sabor de melaço, que não passa por nenhum processo de beneficiamento. Geralmente obtido de forma artesanal, é produzido pela desidratação do caldo de cana e não é sujeitado a técnicas de clarificação do caldo ou à produtos químicos para retirada de impurezas. Apresenta uma pequena porcentagem de umidade e altas taxas de minerais, como potássio (K), magnésio (Mg), ferro (Fe) e cálcio (Ca), além de quantidade traço de vitaminas e vários fitoquímicos originários da cana-de-açúcar, que lhe conferem um elevado valor nutricional e medicinal com inúmeros efeitos para a saúde humana (efeitos anticariogênicos, antitóxicos, citoprotetores e antioxidantes), portanto é mais nutritivo que os açúcares clarificados.

A isomaltulose (ou palatinose) apresenta cerca de 30-40% de doçura relativa à sacarose. Sua produção ocorre a partir do rearranjo enzimático desse açúcar de mesa, podendo substituí-lo adequadamente, devido principalmente às suas propriedades não cariogênicas, além de reduzir a resposta glicêmica pós-prandial, o que o torna uma alternativa bastante viável para diabéticos e pré-diabéticos. Esse edulcorante é completamente hidrolisado em glicose e frutose, e absorvido no intestino delgado, para ser assim metabolizado pelo organismo, mesmo ingerido em altas quantidades. O excedente à necessidade energética é excretado pela urina.

O açúcar do milho é obtido a partir do amido de milho, um polissacarídeo complexo, e é enviado à indústria na forma de maltodextrina, glicose, frutose e xarope de milho. A maltodextrina é utilizada nas indústrias alimentícias, como substituinte da gordura de leite em iogurtes, sorvetes, sobremesas, produtos de panificação como fonte de carboidratos em bebidas isotônicas e nas indústrias farmacêuticas como espessante e surfactante.

O xarope de milho encontrado em refrigerantes, sucos, além de cereais matinais e produtos de panificação, está cada vez mais presente na mesa dos consumidores.  Além disso, existem outras vantagens para sua utilização, como maior solubilidade em soluções aquosas, resistência a cristalização, bem como seu emprego em menor quantidade nos produtos que se destina a adoçar, com significativa redução do valor calórico. Seu consumo excessivo pode apresentar riscos à saúde, principalmente devido à completa absorção e rápida metabolização da frutose no organismo, mais especificamente no fígado. A sobrecarga desse importante órgão estimula a lipogênese, resultando no acúmulo de gorduras nos adipócitos, também contribuindo para a resistência à insulina, ocasionando a intolerância à glicose e posterior desenvolvimento de doenças metabólicas.

O açúcar de coco tem cada vez mais espaço no mercado mundial. Produzido em indústrias de pequeno e médio porte, esse açúcar pode se apresentar na forma cristalizada ou líquida, com coloração marrom, próxima ao açúcar mascavo. Para sua obtenção, após a extração, a seiva do coqueiro é filtrada e transferida para o cozimento, adiciona-se óleo de coco e cloreto de cálcio, depois de algumas horas com agitação ocasional, o caldo se tornará mais grosso e pronto para o resfriamento e posterior cristalização.

O mel além de seu valor nutricional superior e de sua gama de propriedades benéficas, o mel é o único adoçante extraído de fonte animal, produzido pelas abelhas após a coleta de néctar das flores. O néctar é extraído pelas abelhas, através do trajeto da polinização, e já no caminho de volta à colmeia as mudanças se iniciam, causadas pelas enzimas da saliva e do suco gástrico do inseto, resultando em uma mistura de açúcares invertidos e frutose. Largamente utilizado na indústria alimentícia, principalmente como adoçante, o mel também é muito empregado na indústria farmacêutica e na área medicinal, em misturas para tosse, xaropes e expectorantes, assim como no preparo de cremes e loções, além de atuar no plasma sanguíneo melhorando a capacidade antioxidante do organismo, sendo esta última extremamente dependente da fonte floral de onde o néctar foi obtido.

O néctar de agave ou mais comumente conhecido xarope de agave, é um adoçante líquido extraído da seiva da planta Agave tequilana, popularmente conhecida como agave-azul. Em sua composição se pode encontrar xilose, frutose, glicose, sacarose e maltose, além de carboidratos mais complexos, como seu principal polissacarídeo, chamado inulina que é convertida por meio de hidrólise ácida ou enzimática em frutose (concentração igual a 90%). Mesmo apresentando alta concentração de frutose, o agave contém nutrientes antioxidantes, fitoquímicos que podem auxiliar na manutenção da saúde cardiovascular.

A estévia é extraída do arbusto chamado de Stevia reubadiana, nativo do Paraguai, também cultivado na China, Brasil, Europa, Canadá e Japão. Utilizado em licores destilados, confeitos, molho de soja, alimentos para bebês, laticínios e adoçantes de mesa. A produção de estévia ocorre por meio de extração, no qual se retira compostos glicosilados presentes na planta, como esteviol, esteviosídeo

(presente em maior quantidade) e o rebaudiosídeo (presente em menor teor – com maior poder edulcorante), que podem ser de 200 a 300 vezes mais doce do que a sacarose, de acordo com análise sensorial. Além de ser livre de calorias, esse edulcorante natural amplamente utilizado, tem apresentado efeitos benéficos na regulação dos níveis séricos de glicose e insulina, sendo utilizada em vários países pelo mundo para o controle natural do diabetes. Destaca-se também por, após a ingestão, seus metabólitos serem completamente eliminados pela urina, não sendo armazenados.

Açúcares de polióis

Também conhecidos como álcoois polihídricos, os polióis são compostos obtidos através da hidrogenação de seus respectivos açúcares. Alguns exemplos dessa classe e seus precursores são, respectivamente: xilitol e xilose, sorbitol e glicose, eritritol e eritritose, isomaltitol e isomaltulose, maltitol e maltose, assim como lactitol e lactose. Geralmente, eles não diferem muito entre si quanto ao processo de obtenção e a forma de absorção pelo organismo. São considerados adoçantes naturais dietéticos, podendo em alguns casos serem ingeridos por diabéticos, sem limitações quanto à quantidade. Porém, em grandes quantidades, a absorção dos polióis é diminuida, pois não seriam completamente digeridos, sendo fermentados no intestino grosso, mais especificamente no cólon. Neste caso, os efeitos adversos são comumente observados no final do sistema digestório, tais como diarreia, flatulência e frequentes ruídos intestinais.

O xilitol é empregado em produtos alimentícios como adoçante, sendo explorado, principalmente devido à sua característica de prevenir a formação de cáries dentárias, por não ser metabolizado pelas bactérias causadoras dessa doença bucal. Pertencente a classe dos polióis, esse açúcar de álcool, pode ser encontrado em pequenas quantidades em frutas, vegetais e cogumelos, além de ser gerado como um intermediário durante o metabolismo de glicose no organismo. Quimicamente sua obtenção se dá por meio da hidrogenação catalítica de xilose, conhecido como açúcar da madeira.

Xilitol pode ser metabolizado por duas vias: direta e indireta, sendo a primeira majoritariamente absorvida pelo fígado, e a segunda pela microbiota intestinal, através de degradação fermentativa, metabolizando a porção não absorvida pela via direta, além de ter absorção incompleta, podendo ser baixa e lenta. Mesmo possuindo poder adoçante semelhante à sacarose e estando presente em dietas baseadas em baixo valor de carboidratos, seus efeitos adversos são sintomas gastrointestinais, que incluem diarreia, acúmulo de gases, dor e desconforto abdominal, em alguns casos causados pela ingestão de altas doses, devido, principalmente à baixa absorção.

Com mais de 60 anos no mercado, além de edulcorante, atualmente o sorbitol é utilizado nas indústrias alimentícia e farmacêutica, principalmente por ser um ótimo conservante e aditivo que afere melhor sabor ao produto que se destina. É obtido por meio da hidrogenação catalítica  de glicose, da sacarose e também do amido, sendo a glicose amplamente empregada devido ao seu baixo custo e sua elevada disponibilidade comercial. Esse adoçante apresenta porcentagem de doçura relativa a sacarose entre 50 e 70%. Quando sorbitol ingerido em altas quantidades pode levar a dor abdominal, danos aos rins, aos tecidos nervosos e a retina.

Os açúcares de álcoois são produzidos majoritariamente pela hidrogenação catalítica de dissacarídeos e monossacarídeos, com exceção de eritritol.  Além de possuir menor valor calórico, difere dos demais constituintes desse grupo quanto a sua maior tolerância digestiva, podendo ser empregado em diversos ramos, como adoçante de baixa caloria na forma de pó ou em bebidas e em pastilhas mastigáveis, na indústria alimentícia, podendo também ser utilizado como hidratante na indústria de comésticos. Mesmo derivando de um monossacarídeo, como eritritose, seu processo de obtenção ocorre através de fermentação, utilizando microorganismos como: Aspergillus niger e Penicillium herquei, assim como Moniliella magachiliensis, Candida magnoliae e Yarrowia lipolytica. Com doçura entre 60 a 80% em relação à sacarose,esse poliol é prontamente absorvido pelo intestino delgado (cerca de 90% do total ingerido por via oral) e excretado pela urina sem qualquer degradação. A porção restante é fermentada pelas bactérias intestinais, o que lhe confere um valor energético nulo, uma vez que não é metabolizado pelo organismo.

Referência Bibliográfica RIBEIRO, T. R.; PIROLLA, N. F. F.; NASCIMENTO-JÚNIOR, N. M. Adoçantes Artificiais e Naturais: Propriedades Químicas e Biológicas, Processos de Produção e Potenciais Efeitos Nocivos. Revista Virtual de Química, v. 12, n. 5, p. 1-41, 2020.

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Lactobacillus reuteri

Por Isabella Brescia

Os probióticos são definidos como “microrganismos vivos que, quando administrados em quantidades adequadas, conferem um benefício à saúde do hospedeiro” pela Organização Mundial da Saúde. Embora a ideia de usar probióticos para benefícios à saúde não seja nova, o interesse aumentou significativamente nos últimos anos, devido, em parte, ao aumento da resistência a antibióticos, particularmente no tratamento de doenças do sistema gastrointestinal (GI), e um desejo crescente do público por promotores naturais de saúde. Os microrganismos probióticos que demonstraram possuir propriedades benéficas incluem Lactobacillus spp., Bifidobacterium spp., Saccharomyces boulardii, Propionibacterium spp., Streptococcus spp., Bacillus spp., Enterococcus spp. , e algumas cepas específicas de Escherichia coli.

Existem certos critérios que um probiótico deve ter para ser considerado eficaz. Estes incluem a capacidade de sobreviver no trato GI, uma alta resistência aos ácidos gástricos, a falta de quaisquer genes de resistência a antibióticos transferíveis e a capacidade de exercer benefícios claros no hospedeiro. Os probióticos são benéficos ao corpo humano através de diversos mecanismos que incluem resistência à colonização, produção de ácidos graxos de cadeia curta (AGCC), regulação do trânsito intestinal, normalização da microbiota, aumento da renovação de enterócitos e exclusão competitiva de patógenos. Embora não seja amplamente observado, existem muitos efeitos entre espécies probióticas específicas. Por exemplo, algumas cepas probióticas podem melhorar a digestão dos alimentos do hospedeiro metabolizando o sal biliar ou complementando as funções das enzimas digestivas.

Lactobacillus spp. são um dos probióticos mais utilizados e podem ser encontrados em uma grande variedade de produtos alimentícios pois desempenha um papel importante na fermentação de alimentos e no sistema GI de humanos e animais em quantidades variáveis, dependendo da espécie, idade do hospedeiro ou localização no intestino.

Estudos em animais e resultados pré-clínicos mostraram que os lactobacilos podem ajudar na prevenção e tratamento de vários distúrbios do trato GI. Entre esses distúrbios estão infecções entéricas, diarreia associada a antibióticos, enterocolite necrosante em recém-nascidos prematuros, doença inflamatória intestinal, câncer colorretal e síndrome do intestino irritável. Embora o trato GI seja o local onde acredita-se que os Lactobacillus mostrem mais benefícios, foram relatadas aplicações probióticas de algumas cepas de Lactobacillus em outros locais do corpo. Estes incluem a prevenção e tratamento de doenças urogenitais e vaginose bacteriana em mulheres, doença atópica, hipersensibilidade alimentar e prevenção de cárie dentária.

Lactobacillus reuteri ( L. reuteri ) é uma bactéria probiótica bem estudada que pode colonizar um grande número de mamíferos. Em humanos, a L. reuteri é encontrada em diferentes locais do corpo, incluindo o trato gastrointestinal, trato urinário, pele e leite materno. A abundância de L. reuteri varia entre diferentes indivíduos. Vários efeitos benéficos de L. reuteri foram observados desde sua descoberta em 1962.

O L. reuteri pode produzir moléculas antimicrobianas, como ácidos orgânicos (ácido lático e acético), etanol e reuterina (capaz de inibir uma ampla gama de microrganismos, principalmente bactérias Gram-negativas). Devido à sua atividade antimicrobiana, é capaz de inibir a colonização de microorganismos patogênicos e remodelar a composição da microbiota comensal no hospedeiro.  Com a síntese dessas substâncias, L. reuteri demonstrou ser eficaz contra uma variedade de infecções bacterianas gastrointestinais. Essas infecções incluem Helicobacter pylori, E. coli, Clostridium difficile e Salmonella. Uma das ilustrações mais notáveis ​​da eficácia de L. reuteri como probiótico contra infecções é o uso de L. reuteri para tratar H. pyloriA infecção por H. pylori é uma das principais causas de gastrite crônica e úlceras pépticas, bem como um fator de risco para malignidades gástricas.

Existem 13 vitaminas essenciais para os seres humanos devido à incapacidade do corpo humano de sintetizá-las. Como muitos outros Lactobacillus spp., várias cepas de L. reuteri são capazes de produzir diferentes tipos de vitaminas, incluindo vitamina B12 (cobalamina) e B9 (folato).

L. reuteri também pode beneficiar o sistema imunológico do hospedeiro, reduzindo a produção de citocinas pró-inflamatórias enquanto promovem o desenvolvimento e a função de células T reguladoras. 

As barreiras físicas, bioquímicas e imunológicas compreendem a função de barreira intestinal, necessária para bloquear a entrada de antígenos e toxinas exteriores. Se ocorrer alguma anormalidade na barreira intestinal, a permeabilidade pode aumentar, resultando em um intestino permeável. Vários probióticos são conhecidos por suas habilidades de melhorar a função de barreira da mucosa, dos quais L. reuteri é um exemplo bem conhecido. Tendo a capacidade de fortalecer a barreira intestinal, a colonização de L. reuteri pode diminuir a translocação bacteriana do lúmen intestinal para os tecidos. A translocação através do epitélio intestinal pode ser um iniciador da inflamação. Portanto, doenças inflamatórias, incluindo aquelas localizadas no intestino, bem como em outros tecidos, podem ser melhoradas aumentando a colonização de L. reuteri . 

Houve uma diminuição na abundância de L. reuteri em humanos nas últimas décadas provavelmente causada pelo estilo de vida moderno (uso de antibióticos, dieta ocidental, higiene melhorada). Tal diminuição coincide com maiores incidências de doenças inflamatórias. Embora faltem evidências para estabelecer a correlação, pode ser útil aumentar a colonização de L. reuteri e/ou facilitar suas funções probióticas como uma estratégia nova e relativamente segura contra doenças inflamatórias. Além disso, por meio de regulação direta ou modulação indireta via microbiota do hospedeiro, L. reuteri desempenha um papel importante na eliminação de infecções e na atenuação de doenças gastrointestinais. A segurança e tolerância de L. reuteri foi comprovado por numerosos estudos clínicos. 

Referência Bibliográfica

MU, Qinghui; TAVELLA, Vicente J.; LUO, Xin M. Papel do Lactobacillus reuteri na saúde e doenças humanas. Frontiers in microbiology , v. 9, p. 757, 2018.

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CAFEÍNA E SUA AÇÃO ERGOGÊNICA

Por Isabella Brescia

A utilização de suplementos nutricionais como recursos ergogênicos tem sido empregada por meio de manipulações dietéticas capazes de retardar o aparecimento da fadiga e aumentar o poder contrátil do músculo esquelético e/ou cardíaco, aprimorando, portanto, a capacidade de realizar trabalho físico, ou seja, o desempenho atlético. Os principais efeitos desejáveis obtidos com o uso de tais suplementos incluem aumento das reservas energéticas, aumento da mobilização de substratos para os músculos ativos durante os exercícios físicos, aumento do anabolismo proteico, diminuição da percepção subjetiva de esforço e reposição hidroeletrolítica adequada. Nesse sentido, a cafeína tem sido utilizada com grande frequência, de forma aguda, previamente à realização de exercícios físicos, com o intuito de protelar a fadiga e consequentemente aprimorar o desempenho físico, principalmente em atividades de longa duração.

A cafeína é uma substância rapidamente absorvida pelo intestino, atingindo sua concentração máxima na corrente sanguínea entre 15 e 120 minutos após a sua ingestão. Sua ação pode atingir todos os tecidos, pois o seu carreamento é feito via corrente sanguínea, sendo posteriormente degradada pelo fígado e excretada pela urina na forma de coprodutos. Ela acelera os batimentos cardíacos, estimula o cérebro, aumenta o fluxo urinário, a produção de ácidos digestivos, relaxa os músculos lisos e os que controlam os vasos sanguíneos e as vias respiratórias.

Apesar de apenas uma pequena quantidade de cafeína ser excretada (0,5 a 3%), sem alteração na sua constituição química, sua detecção na urina é relativamente fácil. Vale ressaltar que alguns fatores como a genética, a dieta, o uso de algumas drogas, o sexo, o peso corporal, o estado de hidratação, a prática de exercícios físicos, podem afetar o metabolismo da cafeína e, consequentemente, influenciar na quantidade de cafeína total excretada pela urina.

A cafeína tem sido considerada um ergogênico nutricional por estar presente em vários produtos consumidos diariamente, como o café, refrigerantes, chás e chocolates, embora não apresente qualquer valor nutricional, sendo classificada como uma droga com efeitos farmacológicos de ação estimulante presente também em alguns medicamentos.

Quando utilizada dentro dos limites de 3 a 6 mg por quilograma de peso corporal, a cafeína vem a ser uma substância efetiva para a melhora do desempenho físico, podendo ou não ser utilizada por um tempo contínuo, dependendo da gama de fatores que influenciam o usuário como o tipo de exercício físico utilizado, o estado nutricional, o estado de aptidão física individual, além da tolerância à cafeína. Com base nos estudos mais recentes, nota-se a melhora no desempenho físico em atividades de longa duração e baixa intensidade, bem como nas de curta duração e alta intensidade. Com relação à força muscular, estudos recentes têm apontado um aumento da força muscular acompanhado de uma maior resistência à instalação do processo de fadiga muscular após a ingestão de cafeína.

Baixas doses de cafeína estão associadas a poucos ou nenhum efeito colateral. A ingestão de 3 mg/kg  de  cafeína produziu  efeitos  colaterais durante  as horas  seguintes  à  ingestão, principalmente relacionadas a distúrbios do sono. A administração de cafeína no final da tarde (17:00 horas) levou a interrupções significativas, incluindo uma maior dificuldade em adormecer  (início  prolongado  do  sono),  diminuição  da  proporção  de  tempo  gasto  adormecido (eficiência  do  sono  reduzida),  bem  como  menor  tempo  total  de  sono  e  sono  REM  (rapid  eyes movement). Esses resultados podem ser prejudiciais à recuperação e adaptação de treinamento para atletas, especialmente durante torneios onde o uso de cafeína pode abranger vários dias consecutivos. Além dos distúrbios do sono doses excessivas de cafeína podem provocar ansiedade, irritação, aceleração dos batimentos cardíacos, tremores e aumento da frequência urinária.

Referência Bibliográfica

ARAÚJO, Sávio Nogueira de et al. Efeitos da cafeína como recurso ergogênico na atividade física: uma revisão. 2019.

PEREIRA, Sandra Mariano de Andrade et al. Cafeína: ergogênico nutricional no esporte. 2021.

RODRIGUES, Antonio Yony Felipe et al. Efeitos da cafeína na atividade física: uma revisão sistemática com metanálise. Brazilian Journal of Development, v. 6, n. 11, p. 91046-91069, 2020.

SANTOS, Matheus Vasconcelos; SALOMON, Ana Lúcia Ribeiro. Suplementação de cafeína: benefícios do efeito ergogênico no treinamento por praticantes de atividade física de alta e baixa intensidade.

SILVA, Michel Santos. Os efeitos da cafeína relacionados à atividade física: uma revisão. Revista Digital, v. 9, n. 66, p. 1, 2003.


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GLUTAMINA E INTESTINO

Por Isabella Brescia

A glutamina é o aminoácido livre mais abundante no plasma e nos músculos, e de fundamental importância no funcionamento homeostático de inúmeros tecidos, principalmente do sistema imune e intestinal. Nos últimos anos inúmeras pesquisas demostram os benefícios da glutamina na saúde intestinal e imunológica de humanos e animais, como o principal substrato energético do enterócito sendo oxidada no ciclo de Krebs e gerando ATP, substrato importante para rápida renovação celular das células intestinais.
A glutamina tem sido descrita como um aminoácido essencial ao organismo em situações que levam a um intenso catabolismo, tais como grandes cirurgias, grandes queimaduras, septicemia e inflamações. Estas situações são caracterizadas pelo balanço nitrogenado negativo com elevação das taxas de degradação proteica muscular, o que provoca alterações importantes no fluxo de glutamina entre os tecidos, com aumento no consumo deste aminoácido por parte do trato gastrintestinal, de células do sistema imune e dos rins. As necessidades desses tecidos podem exceder a capacidade de síntese no músculo esquelético e uma consequência imediata é a redução no seu conteúdo intracelular. Em seguida, com a escassez das reservas, as concentrações plasmáticas diminuem e um estado de deficiência se instala.
As alterações descritas anteriormente poderiam ser amenizadas pelo fornecimento exógeno deste nutriente. Em estados catabólicos, é necessário consumir entre 20g e 40g de glutamina por dia. A quantidade obtida da dieta é inferior a 10 g, considerando que as proteínas alimentares contêm cerca de 4% a 8 % de glutamina e a produzida diariamente nos músculos é de 9g a 13g.
Diversos trabalhos publicados recentemente com animais e humanos demonstraram que a administração de glutamina exógena, através de formas estáveis e disponíveis comercialmente, favorece a proliferação de células do trato gastrintestinal e é importante para a manutenção da resposta imunológica do hospedeiro, além de atenuar a proteólise e melhorar o balanço nitrogenado. Por essa razão, a glutamina tem sido considerada um agente coadjuvante importante no tratamento de enfermidades que levam a estados hiper metabólicos. Pacientes com Aids, por exemplo, podem beneficiar-se com a melhora da função imune, a manutenção da integridade da mucosa intestinal e o balanço de nitrogênio, minimizando os efeitos catabólicos da caquexia. Por outro lado, os efeitos da glutamina sobre o sistema imune e na barreira intestinal são importantes para a prevenção da septicemia.
A nutrição e a funcionalidade intestinal estão intimamente relacionadas. O principal papel do intestino é digerir e absorver os nutrientes. Consequentemente, enfermidades gastrintestinais resultam em má nutrição e em aumento da mortalidade e da morbidade. Por exemplo, vários estudos demonstraram que entre 50 e 70 % dos pacientes adultos com doença de Crohn, inflamação crônica do intestino delgado de etiologia ainda desconhecida, ficam abaixo do peso normal e 80 % destes ficam anêmicos. Por outro lado, a desnutrição corporal crônica debilita a digestão e absorção porque os alimentos e nutrientes, além de serem importantes para o desenvolvimento do intestino, também fornecem as moléculas necessárias para a síntese de enzimas digestivas e células absortivas. A ausência de alimento resulta em atrofia da mucosa intestinal, diminuição da produção de enzimas digestivas, estase intestinal (perda de fluido intestinal) e aumento da população bacteriana. A combinação desses fatores prejudica a integridade da barreira intestinal, aumentando o risco de translocação bacteriana, colestase (interrupção no fluxo de bile), formação de cálculo biliar, disfunção hepática, má absorção de nutrientes e diarreia.
As células epiteliais da mucosa colônica utilizam como fonte energética primária, ácidos graxos de cadeia curta, principalmente os ácidos acético, propiônico e butírico. Esses são formados pela fermentação bacteriana anaeróbia de fibras residuais contidas no bolo fecal. Em segmentos derivados do cólon, a ausência do bolo fecal impede essa formação e sua conseqüente absorção e utilização pelas células epiteliais. Nessa situação, a glutamina, que é um substrato energético secundário para essas células, passa a ser primordial, podendo ser utilizada preferencialmente à glicose como fonte energética. Estudos experimentais recentes têm demonstrado que a glutamina pode ser um elemento com atividade energética e trófica importante para o intestino submetido a situações de estresse.
Referência Bibliográfica
HIGASHI, Leonardo et al. Suplementação de glutamina na permeabilidade intestinal relacionada com a atividade física. RBNE-Revista Brasileira De Nutrição Esportiva, v. 14, n. 84, p. 1-14, 2020.
LOPES-PAULO-TSBCP, FRANCISCO. Efeitos da glutamina sobre a parede intestinal e sua aplicabilidade potencial em coloproctologia. Rev bras Coloproct, v. 25, n. 1, 2005.
PADOVESE, Renato et al. Aplicações clínicas da glutamina. Revista Contexto & Saúde, v. 2, n. 03, p. 67-86, 2002.
PEREIRA, Izabela Gelisk; FERRAZ, Izabela Aparecida Rodrigues. Suplementação de glutamina no tratamento de doenças associadas à disbiose intestinal. Revista brasileira de saúde funcional, v. 1, n. 1, p. 46-46, 2017.

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BETAGLUCANA E O SISTEMA IMUNE

Escrito por Isabella Brescia

Sempre que falamos em sistema imunológico pensamos nos mecanismos responsáveis pela manutenção das defesas do organismo, ou nas diferentes formas de respostas contra agentes causadores de doenças. Contudo, esse sistema desempenha outras funções importantes e fundamentais para a manutenção fisiológica e prevenção de metabolismos favoráveis ao estabelecimento de doenças crônicas.

Através das reações imunológicas promovemos direta ou indiretamente os processos inflamatórios, infecciosos, controle sobre possíveis células tumorais ou tumores já estabelecidos, reconhecimento e manutenção de nossa microbiota e consequentemente nosso microbioma, além de outras influências bioquímicas distribuídas em todos os tecidos que compõe nosso corpo.

β-glucanas são polissacarídeos constituintes estruturais da parede celular de leveduras, fungos e alguns cereais, que se diferenciam pelo tipo de ligação entre as unidades de glicose da cadeia principal e pelas ramificações que se conectam a essa cadeia. Nas últimas décadas estes polímeros vem recebendo especial atenção por sua bioatividade, principalmente no que se refere a imunomodulação. Além disso, inúmeros efeitos benéficos como prebiótico, antitumoral, antinflamatório, antibacteriano, antiviral, anticoagulante, antimutagênico, hipocolesterolêmico e hipoglicêmico têm sido relacionados à β-glucanas. Uma importante fonte de β-glucana é a parede celular de Saccharomyces cerevisiae, também conhecida como levedura de fermentação, que é amplamente empregada nas indústrias de panificação, cervejaria e sucroalcoleira.

Como prebiótico, limitam o desenvolvimento potencial de bactérias patogênicas, mediante inibição competitiva dos locais de ligação na mucosa intestinal. Contudo, como imunomodulador, estimulam a imunidade celular e humoral, contribuindo para as atividades antitumoral, além de modular a liberação de citocinas e reduzir a resposta inflamatória.

A β-glucana é designada como um modificador da resposta biológica pois, ao ser reconhecida pelo organismo desencadeia uma série de eventos na resposta imune. Em vertebrados este reconhecimento ocorre através de receptores específicos de superfície celular e em seguida o sistema imune é estimulado pela β-glucana em resposta a inúmeras situações prejudiciais ao indivíduo. A modulação da β-glucana inclui a ativação de macrófagos e linfócitos polimorfonucleares, além da indução da expressão de diversas citocinas.

Atualmente, sabe-se que o mecanismo de ação antitumoral das β-glucanas, efetivo inclusive em situações de metástase, atua pela ativação e ampliação das diversas funções imunológicas do hospedeiro, constituindo-se de um tratamento que melhora a imunosobrevivência do hospedeiro ao tumor. Em adição, tem efeito antagônico à imunossupressão decorrente da quimioterapia e de tratamentos com irradiação. Os efeitos antitumorais da β-glucana são baseados principalmente, na habilidade de ativar leucócitos pelo estímulo da atividade fagocítica e produção de citocinas como o TNF-α.

Inúmeras pesquisas realizadas, principalmente no Japão, comprovaram que a β-glucana de levedura realça os efeitos do tratamento quimioterápico e melhora a qualidade da sobrevida com pacientes de câncer tratados com radiação. No referido país, algumas β-glucanas licenciadas para o uso terapêutico vêm sendo utilizadas nas últimas décadas como adjuvantes na terapia antitumoral.

A eficácia imunológica da β-glucana de levedura é bastante documentada em relação ao auxílio, de forma direta e indireta ao sistema imunológico, promovendo estímulos celulares e liberação de citocinas. Estudos recentes demonstraram eficácia na administração de β-glucana no estímulo de destruição de células tumorais e na recuperação de quadros diarreicos crônicos pós quimioterapia e antibioticoterapia.

Referência Bibliográfica

ABBAS, A K; LICHTMAN, A. H; PILLAI, S. H. I. V. Imunologia Celular e Molecular. 7. Ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012.

MAGNANI, Marciane; CASTRO-GÓMEZ, Raul Jorge Hernan. Beta-glucana from Saccharomyces cerevisiae: Constitution, bioactivity and obtaining. Semina: Ciências Agrárias, v. 29, n. 3, p. 631-650, 2008.

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ARGININA NA ATIVIDADE FÍSICA

Por Isabella Brescia

A L-arginina, um aminoácido básico e hidrofílico, o qual é classificado nutricionalmente como aminoácido condicionalmente essencial ou condicionalmente indispensável. A L-arginina apresenta funções relevantes no metabolismo proteico relacionadas à síntese proteica, no metabolismo do ciclo da ureia, na síntese de óxido nítrico, creatina e poliaminas, e na estimulação da secreção do GH. A L-arginina também apresenta capacidade imunoestimulatória e timotrófica e atua como precursora de prolina e hidroxiprolina, substâncias necessárias para a síntese de tecidos.

 A ingestão diária média de L-arginina é de 5 g e sua concentração plasmática é de aproximadamente 75 µM/L, sendo que esse valor é influenciado pelo estado alimentado e de jejum. Cabe ressaltar que o rim é o órgão primário responsável pela manutenção da concentração plasmática de L-arginina. Em indivíduos saudáveis, este aminoácido pode ser sintetizado em quantidades suficientes para atender a demanda fisiológica, com sua taxa de ressíntese endógena inalterada por diversos dias de deficiência de consumo. Entretanto, em períodos de rápido crescimento, ou em resposta ao estresse traumático ou patológico, sua demanda fisiológica pode não ser atendida de maneira sufi ciente por meio da ingestão dietética e ressíntese endógena, necessitando de fontes alimentares a fim de suprir suas necessidades.

Em função de existir uma demanda metabólica contínua de L-arginina, sua ressíntese pode ocorrer a partir do glutamato ou prolina, sendo a expressão de todas as enzimas necessárias para sua síntese restrita ao fígado e à mucosa intestinal. Outra via de ressíntese endógena ocorre a partir da citrulina que, quando captada pelo rim, se transforma indiretamente em L-arginina no ciclo renal e/ou diretamente no citoplasma das células endoteliais e dos macrófagos.

L-arginina e Óxido nitrico

Alguns trabalhos foram realizados avaliando o efeito do exercício físico sobre a produção de fatores relaxantes e sua correlação com os efeitos benéficos da atividade física. Evidências indicam que, quando praticado em intensidades moderadas, o exercício é capaz de induzir ao aumento do relaxamento da musculatura lisa vascular e não vascular, ação essa atribuída principalmente ao NO produzido pelas células endoteliais em resposta ao exercício. Com isso, o NO relaciona-se positivamente com os efeitos benéficos da prática regular de exercícios físicos e em condições basais:

Condições Basais

  • Homeostase sanguínea
  • Neurotransmissor
  • Antibactericida
  • Antiparasítico
  • Antiviral
  • Antitrombótico
  • Antiaterosclerótico

Exercício Físico

  • Sinalização intracelular
  • Estímulo para síntese proteica muscular esquelética
  • Maior tolerância ao esforço
  • Aumento da secreção de GH
  • Maior aporte de oxigênio à musculatura esquelética
  • Vasodilatação

L-arginina e Hormônio do Crescimento

A suplementação de L-arginina isolada ou em combinação com o exercício promove aumento significativo na secreção de GH em relação ao período de repouso; contudo, o exercício isolado ainda é o agente potencial para tal resposta endócrina, ou seja, indivíduos submetidos a um programa de treinamento apresentam aumento significativo na secreção de GH em relação ao repouso, suplementação isolada e combinada com exercício de L-arginina.

Aparentemente, todos os processos metabólicos relacionados com a atividade física são melhorados e potenciados com o uso da arginina, uma vez que ocorre melhor perfusão sanguínea ao nível muscular, proporcionando maior aporte de nutrientes (os músculos são capazes de produzir energia durante mais tempo) e de oxigênio (evitando e/ou protelando o processo de anaerobiose), ao mesmo tempo que favorece a eliminação das substâncias tóxicas acumuladas durante a prática da atividade física, facilitando o processo de recuperação muscular.

A administração oral de 3g/dia de L-arginina parece potencializar os efeitos do treinamento com pesos, proporcionando maior ganho de força e massa muscular e contribuindo para a diminuição do percentual de gordura corporal.

O efeito adverso observado na suplementação de altas doses de L-arginina, tanto aguda como crônica, como de qualquer outro aminoácido, está associada à ocorrência de desconforto gastrintestinal e diarreia.

Referência Bibliográfica

ANGELI, Gerseli et al. Investigação dos efeitos da suplementação oral de arginina no aumento de força e massa muscular. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, v. 13, p. 129-132, 2007.

NICASTRO, Humberto; ROGERO, Marcelo Macedo; DATTILO, Murilo. A suplementação de L-arginina promove implicações ergogênicas no exercício físico? Evidências e considerações metabólicas. Rev. bras. ciênc. mov, p. 115-122, 2008.

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Aplicações clínicas da CoQ10

Os benefícios da Coenzima Q10 vêm sendo estudados para o tratamento de doenças.

Escrito por Isabella Brescia

A CoQ10 pode ser encontrada em todas as células do corpo humano, porém as maiores concentrações são observadas nos tecidos do coração, fígado, cérebro e músculo esquelético. Localiza-se na membrana interna das mitocôndrias, onde realiza a interação com enzimas específicas, atuando como uma coenzima essencial na cadeia respiratória mitocondrial. Ela possui a capacidade de proteger proteínas da membrana mitocondrial, fosfolipídeos e o DNA dos danos oxidativos, além de poder regenerar outros antioxidantes como o ácido ascórbico e o alfa-tocoferol.

A CoQ10 é sintetizada pelas células do corpo humano, mas também pode-se obtê-la a partir de dieta, podendo contribuir para a concentração desta enzima no organismo. Pequena quantidade são encontradas em ovos, cereais, produtos lácteos, frutos secos como nozes e nos vegetais (principalmente espinafre e brócolis). Carne vermelha, peixe e de aves são fontes ricas em CoQ10. Ela também é comercializada como suplemento alimentar ou nutracêutico e utilizada em formulações cosméticas.

Devido a sua capacidade de atuar como antioxidante, o interesse pela CoQ10 vem aumentando muito, apresentando uma elevada eficácia, visto que se encontra abundantemente distribuída pelo organismo e tem a aptidão de se reduzir ou reativar-se quando necessário. Na sua forma reduzida, ela é um poderoso antioxidante que previne danos oxidativos causados pelos radicais livres. Inclusive estudos recentes demonstraram a relevância da CoQ10 na resistência do DNA aos danos oxidativos. Após o seu uso os linfócitos do sangue periférico de indivíduos portadores de doenças mitocondriais apresentaram uma significativa redução das quebras de fita simples e duplas do DNA.

A CoQ10 tem grande importância também no tratamento de desordens mitocondriais e neuromusculares e doenças neurodegenerativas. Em experimentos com doenças neurodegenerativas, a CoQ10 demonstrou neuroproteção e efeitos protetores sobre disfunção mitocondrial. A administração de CoQ10 aumentou sua concentração nas mitocôndrias de células do cérebro exercendo efeitos de proteção sobre lesões induzidas, além de proteger neurônios dopaminérgicos. Estes estudos experimentais vêm demonstrando resultados promissores em doenças neurodegenerativas tais como doença de Huntington, Parkinson, Alzheimer e esclerose lateral amiotrófica.

Sua utilização e benefícios vêm sendo estudados para o tratamento de outras doenças e  síndromes, como doenças cardíacas, melhoria na qualidade do sêmen de homens inférteis, síndrome de Down, câncer de mama e no tratamento de enxaquecas.

A deficiência de CoQ10 pode ser definida como a presença de níveis reduzidos de CoQ10 em tecidos ou células e, para se obter uma estimativa de sua concentração usa-se o plasma. A deficiência de CoQ 10 pode resultar de síntese prejudicada, defeito genético ou adquirido que prejudique sua síntese ou função e ainda ser decorrente de aumento da requisição por tecidos com patologias específicas. A forma secundária de deficiência de CoQ10 é observada em doenças cardiovasculares, diabetes, doença renal crônica, doenças hepáticas, distúrbios neurodegenerativos, e câncer. Além disso, os níveis de CoQ10 decrescem com o avançar da idade, fator que pode estar relacionado a eventuais manifestações do envelhecimento. Estudos mostraram que a suplementação oral com CoQ10 pode aumentar níveis teciduais deste nutriente, havendo associação com redução do risco de mortalidade por doença cardiovascular em idosos, assim como reduzir também o risco de mortalidade em pacientes com diabetes tipo II, doença renal crônica ou hepática, seja por efeitos no processo primário da doença ou na disfunção cardiovascular secundária.

A administração oral de CoQ10 geralmente é bem tolerada, sem efeitos adversos graves detectados no uso de longo prazo. Raramente alguns indivíduos podem apresentar efeitos gastrointestinais como dor abdominal, vômitos, náuseas, diarreia e anorexia e este sintoma não está relacionado à dose. Não há efeitos colaterais tóxicos conhecidos ou relatos de superdosagem. A segurança do uso da CoQ10 foi confirmada em centenas de ensaios clínicos randomizados, em uma ampla gama de distúrbios, incluindo doenças cardiovasculares, doenças de Parkinson e doenças mitocondriais.

Referência Bibliográfica JACOBS, Mônica Amadio Piazza; ACCURSIO, Wilmar. Coenzima Q10: Aplicações clínicas. BWS Journal, v. 3, p. 1-7, 2020.

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Cuidados nutricionais para os desconfortos do tratamento oncológico

Muitos tipos de câncer podem ser evitados, e muitos casos podem ser tratados com sucesso, se identificado logo no início.

Por Isabella Brescia

O câncer se caracteriza pela proliferação anormal das células que se dividem continuamente. Esse crescimento celular desregulado pode se espalhar e invadir o tecido normal, formando uma neoplasia maligna, que pode se disseminar para outras partes do organismo. O câncer pode surgir em qualquer idade e se desenvolver em qualquer parte do corpo. Depois das doenças cardiovasculares, é a segunda maior causa de morte no Brasil. Existem mais de cem variedades de cânceres, que se enquadram em quatro tipos principais: sarcomas, carcinomas, linfomas e leucemias.

Muitos tipos de câncer podem ser evitados, e muitos casos podem ser tratados com sucesso, se identificado logo no início. O risco do desenvolvimento do câncer pode ser reduzido com uma avaliação médica adequada, cuidado com sintomas e fatores de risco, autoexame regular e uma alimentação e estilo de vida de saudáveis.

Quando o câncer se instala é muito importante procurar uma nutricionista, uma vez que tanto a doença quanto seu tratamento exigem uma boa nutrição para auxiliar na recuperação.  A terapia nutricional irá levar em consideração o estágio, tipo e localização do tumor, além da fase do tratamento. A cirurgia, que ainda é a principal forma de tratamento, também requer uma dieta altamente nutritiva para uma recuperação bem-sucedida.

A perda de peso é comum entre quase todos os pacientes com câncer. A maioria sofre de anorexia ou perda de apetite como consequência da doença. É compreensível que a depressão causada por um diagnóstico de uma doença grave, assim como a dor, diminua qualquer desejo de se alimentar.

Em geral, o tratamento oncológico e até a própria doença, podem causar inúmeros efeitos colaterais no paciente, como perda de apetite ou de paladar, náusea/vômito, diarreia, constipação, boca seca, fadiga, entre outros. Mas uma terapia nutricional adequada pode ajudar a contornar boa parte deles, além de fornecer calorias, proteínas e outros nutrientes necessários para manter o peso e auxiliar na recuperação.

Conheça alguns recursos da nutrição oncológica para alívio dos sintomas e efeitos colaterais, além de fortalecer o organismo para enfrentar a doença:

  • Planejar as refeições para os momentos do dia em que provavelmente terá menos náuseas e ânsia de vômito. Se não conseguir, comer pequenas refeições e lanches ao longo do dia.
  • Acrescentar em todas as refeições alguma proteína, carne magra, ovos, iogurte, queijos brancos ou suplementos proteicos, dessa forma o organismo poupa o tecido muscular.
  • Deixar outra pessoa preparar as refeições. O cheiro dos alimentos enquanto estão sendo cozidos pode provocar náuseas. Alimentos servidos frios ou a temperatura ambiente exalam menos cheiro.
  • O gengibre e o hortelã são grandes aliados no tratamento das náuseas e pode ser consumido de várias formas, chá, sucos, molho para saladas e bolo.
  • Descansar por meia hora após as refeições, de preferência sentado ou em pé. Reclinar pode provocar refluxo, náusea e vômito.
  • Se está com mucosite (feridas na boca) preferir alimentos amassados ou cremosos com sabores suaves como sopas (batata, baroa, abóbora), mingaus e sobremesas. Evitar alimentos salgados, condimentados ou ácidos. O bochecho com chá de camomila 3 vezes ao dia além de prevenir a mucosite reduz a intensidade das lesões já existentes.
  • Se a boca seca dificulta engolir, liquidificar os alimentos ou umedecê-los com molhos, caldas ou geleias. Uma alternativa, são os picolés caseiros que podem ajudar a diminuir o desconforto da xerostomia.
  • Se a diarreia for um problema, evitar alimentos gordurosos, cafeína, frutas com casca, produtos à base de grãos integrais, laticínios e outros alimentos que possam agravar o problema.
  • Se a constipação for um problema, aumentar a ingestão de água, comer mais frutas com casca e bagaço, verduras, legumes e produtos à base de grãos integrais. Adicionar azeite nas refeições e evitar alimentos constipantes (tapioca, polvilho, caju, goiaba). Sucos laxativos são bem-vindos.
  • Se a fadiga for persistente, uma dieta rica em ácidos graxos ômega-3, fibras, oleaginosas, frutas e vegetais folhosos estão associados com menor probabilidade de fadiga.

E a hidratação? A hidratação é primordial no tratamento oncológico para aliviar sintomas como constipação e náuseas, e uma aliada na eliminação de compostos nefrotóxicos derivados de alguns quimioterápicos. Durante o tratamento alguns sintomas podem prejudicar o consumo adequado de água, como gosto metálico do paladar, inapetência e náuseas quando frequentes. A água quando saborizada com hortelã, gengibre, maçã, rodelas de limão ou laranja podem auxiliar na redução do gosto metálico e náuseas, mantendo o paciente hidratado.

O estado nutricional do paciente influencia diretamente o tratamento oncológico e a qualidade de vida do paciente, ou seja, desnutrição e perda de peso diminuem a resposta ao tratamento, baixam a imunidade, atrapalham processo de cicatrização e coagulação, aumentam risco de infecções e dificultam prognóstico. Até atividades do dia a dia podem ser afetadas. Quando há falta de nutrientes, o corpo humano faz de tudo para se manter; porém, suas reservas vão diminuindo, e consequentemente, a massa magra também.

A terapia nutricional adequada e individualizada – conjunto de procedimentos terapêuticos para manutenção ou recuperação do estado nutricional – previne desnutrição, reduz número de complicações no tratamento e no pós-operatório e evita a interrupção do tratamento.

Referência Bibliográfica https://www.nestleoncologia.com.br/convivendo-com-os-efeitos-colaterais

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Desidratação em Idosos

A ingestão de água equilibra as perdas, garante uma hidratação adequada aos tecidos assegurando o transporte de nutrientes e a manutenção da temperatura corporal.

Escrito por Isabella Brescia

A associação entre o envelhecimento e a desidratação não é nova e foi reconhecida por diversos pensadores, dentre eles – Aristóteles que dizia: “Deve-se saber que os seres vivos são úmidos e quentes e a velhice é seca e fria”. Já Homero, comparou a velhice com um ramo de oliveira seco e Galeno por sua vez, via a perda de água corporal como uma característica importante do envelhecimento e constatou que a desidratação é de difícil diagnóstico, fato que ainda permanece verdadeiro atualmente.

A desidratação é o distúrbio hidroeletrolítico mais comum nos idosos e uma das causas mais frequentes de internamento entre os 65 e os 75 anos. Nestes indivíduos as perdas de fluidos estão aumentadas e o consumo de líquidos diminuído pelo que a susceptibilidade para a desidratação é maior, quando comparada com a dos adultos.

A água é essencial para o normal funcionamento corporal já que, fornece o meio aquoso essencial para a ocorrência de várias reações bioquímicas participando diretamente como reagente em diversas reações metabólicas. A ingestão de água equilibra as perdas, garante uma hidratação adequada aos tecidos assegurando o transporte de nutrientes e a manutenção da temperatura corporal.

A água corporal total, correspondente a 60% do peso corporal num adulto saudável, diminui para cerca de 50% nos idosos do sexo masculino e para cerca de 40% nos do sexo feminino. Esta percentagem inferior do sexo feminino é facilmente justificada pelo facto das mulheres terem uma maior quantidade de tecido adiposo, que é praticamente isento de água, ao contrário do muscular. Como a quantidade de água corporal total é menor, a perda de fluidos necessária para aumentar a osmolaridade plasmática é consequentemente inferior.

Também a sensação de sede, a função e a capacidade de concentração renal, a taxa de filtração glomerular, a atividade da renina, a secreção de aldosterona e a resposta cardiovascular à diminuição de volume sofrem uma redução significativa com a idade. Essa redução nos mecanismos compensatórios, acompanhada pelo aumento da resistência do rim à vasopressina, aumenta a fragilidade dos idosos para a desidratação. Para além destas, muitas outras alterações fisiológicas e patológicas favorecem esta propensão que se faz sentir no idoso para a desidratação. As alterações mais importantes, relatadas na literatura são:

Fisiológicas

  • Idade > 80 anos
  • Alterações fisiológicas no balanço hídrico
  • Fragilidade
  • História prévia de desidratação

Patológicas

  • Patologias crônicas (comorbilidade)
  • Infecções
  • Dor e febre
  • Feridas (inclui úlceras de pressão)
  • Hemorragia

 Neurológicas

  • Dificuldades motoras e nas atividades vida diária
  • Lesões extrapiramidais com tremores e salivação excessiva
  • Demência
  • Deficiências sensoriais e de comunicação

Psiquiátricas

  • Depressão
  • Ansiedade
  • Delírio
  • Psicose/Esquizofrenia

Cardiopulmonares

  • Dispneia

 Gastrointestinais

  • Vómitos
  • Diarreia

 Urológicas

  • Incontinência ou medo de incontinência
  • Diminuição da função renal

 Metabólicas

  • Hipercalcemia
  • Diabetes mellitus

Iatrogênicas

  • Poli medicação (diuréticos, laxantes, psicotrópicos)
  • Distúrbios do metabolismo da água/sódio

 Sociais

  • Isolamento social
  • Autonegligência
  • Insuficiente acesso a fluidos
  • Escassez de profissionais ou formação insuficiente
  • Escassez de cuidados no domicílio

Ambientais

  • Inverno (maior risco de infeções)
  • Verão (ondas de calor)

A desidratação ocorre não só pela restrição do consumo de líquidos propriamente ditos, mas também pelo consumo reduzido de alimentos ricos em água. A diminuição do consumo de alimentos é particularmente evidente nos idosos disfágicos uma vez que necessitam de líquidos espessados e de mais tempo dos cuidadores para consumir o volume necessário, sendo por isso frequentemente negligenciados.

As manifestações clínicas da desidratação dependem não só da gravidade, mas também da velocidade de instalação do distúrbio. A clínica da desidratação geralmente é vaga e pode apresentar sintomas como infecções urinárias, insuficiência renal, hipertermia em condições de temperaturas elevadas, cefaleia, constipação, perda de peso, boca seca, deterioração do estado cognitivo, confusão, delírio, alteração da pressão sanguínea, alteração da cor da urina ou débito urinário, sintomas estes que são comuns a várias doenças crônicas e assim dificultar o diagnóstico.

A pele seca é um problema comum em indivíduos mais velhos, pois com a idade, a capilaridade sanguínea torna-se reduzida, diminuindo o fornecimento de sangue e nutrientes para pele e também o número reduzido de glândulas sudoríparas e sebáceas. Todas essas alterações levam ao afinamento da epiderme e das fibras elásticas que fornecem suporte dérmico deixando a pele do idoso com turgor diminuído. Tais fatos dificultam o diagnóstico precoce da desidratação, porque esses sinais clássicos de desidratação podem estar ausentes ou ser enganosos na senescência, já que a diminuição da elasticidade da pele ou os olhos afundados são sinais comumente encontrados nessas pessoas. Desta forma, o turgor cutâneo geralmente é um sinal pobre em idosos devido à inelasticidade da pele. Mesmo assim, se o turgor for usado em pessoas idosas, deve ser feito na testa ou sobre o esterno.

Quanto às mucosas, a língua úmida é um sinal bastante seguro de que o paciente não está desidratado, mas ao contrário, se estiver seca não é prova de desidratação. Isso porque as mucosas secas podem ser um sinal de que o idoso está resfriado e está respirando pela boca ou pode indicar uso de medicação que resseca a boca (como anti-histamínicos, antidepressivos, diuréticos, inibidores da bomba de prótons, ou anti-inflamatórios não esteroidais por exemplo) ou referem-se a doenças crônicas (como artrite reumatoide ou lúpus). Assim, a desidratação não é a única ou até mesmo a causa mais provável de uma boca seca, podendo causar confusão no diagnóstico.

A axila seca tem se mostrado um indicar bastante útil. Pois, se presente, devemos ter alta suspeição de desidratação, visto que, este sinal apresentou sensibilidade de 50% e especificidade de 82%. Ao contrário, a sensação de sede já se mostrou um preditor ruim do estado de hidratação entre os idosos devido ao reconhecido declínio da sensação de sede com o envelhecimento.

Assume-se que a contribuição de alimentos para ingestão total de água é de 20- 30%, ao passo que 70-80% é fornecido por bebidas. Esta relação não é fixa e depende do tipo de bebidas e de alimentos consumidos. Nas bebidas incluem-se a água, suco de frutas, leite, chá e café. As bebidas alcoólicas também contêm água não sendo aconselhadas em caso de desidratação por aumentar o efeito diurético. Devem ser consumidos alimentos com grande percentagem de água na sua constituição tais como frutas (melancia, melão, morango, laranja), vegetais frescos, sopas, queijo fresco ou iogurte. Assim, o consumo pode ser aumentado de uma forma variada para o idoso não só através de líquidos, mas também da própria dieta.

Durante os períodos entre refeições deve ser encorajado o consumo de líquidos. Estes devem ser oferecidos durante todas as atividades e, nos lares, devem ser criadas atividades que, ao mesmo tempo que estimulam a interação social, estimulem o consumo de líquidos como por exemplo a “hora do chá” e durante as atividades quotidianas, como escovar os dentes ou tomar a medicação. Deve ser transmitido ao idoso que esta distribuição ao longo do dia é aconselhável uma vez que é preferível beber frequentemente pequenas quantidades de líquidos do que grandes quantidades em apenas algumas ocasiões: beber grandes quantidades de uma só vez provoca uma expansão do estômago e, consequentemente, diminuiu a sensação de sede.

Quer vivam numa instituição ou em casa, os idosos que devido a déficits cognitivos, sensoriais, motores (hemiplegias e tremores) ou a dificuldades na realização das atividades da vida diária não consigam tomar conta de si próprios e estejam por isso altamente dependentes de terceiros, devem ter uma maior assistência na manutenção da hidratação. Nestes idosos, o papel dos cuidadores e profissionais de saúde reveste-se de uma importância extrema. De igual forma, também os idosos disfágicos e os que temem a incontinência devem ser auxiliados de uma forma mais atenta sem nunca descuidar do risco de desidratação. Este auxílio é seriamente dificultado no caso dos idosos que vivem sozinhos, que devem ser orientados quanto a importância da ingestão de líquidos no decorrer do dia, alimentos ricos em água e no reconhecimento dos sinais e sintomas da desidratação.

Referência Bibliográfica

ARAÚJO, Maria Lúcia Azevedo. A desidratação no idoso. 2013. Tese de Doutorado. [sn].

BLANCH, Graziela Torres; JÚNIOR, Saulo Marques; PAZINI, Sandra Lúcia. DESIDRATAÇÃO EM IDOSOS: UMA REVISÃO NARRATIVA. Revista EVS-Revista de Ciências Ambientais e Saúde, v. 47, n. 1, p. 7413, 2020. LOPES, Alice Raquel Cabral. Desidratação no idoso. 2014. Tese de Doutorado.