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SUPLEMENTAÇÃO COM WHEY PROTEIN PÓS CIRURGIA BARIÁTRICA

Por Isabella Brescia

São vários os tipos de cirurgia bariátrica (by pass gástrico em Y de Roux, gastrectomia vertical ou cirurgia de Sleeve, duodenal switch e banda gástrica), o by pass gástrico em Y de Roux (BPGYR), é a técnica bariátrica mais praticada no Brasil, correspondendo a 75% das cirurgias realizadas segundo dados da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica. Essa técnica causa uma restrição na capacidade de receber o alimento pelo estômago que se encontra pequeno e possui um desvio do intestino. Apesar do seu grande nível de eficácia e segurança, essa técnica cirúrgica produz efeitos a longo prazo, desencadeados pela restrição da ingestão alimentar e/ou má absorção de nutrientes, que acabam levando o indivíduo, a desenvolver algumas deficiências nutricionais. Diante deste cenário, é de grande importância a suplementação e/ou reposição de vitaminas e minerais, para que esses indivíduos tenham uma boa qualidade de vida no decorrer dos anos.

O estômago é um ambiente ácido, com um Ph de, em média 2, contribuindo para uma redução de microrganismos que entram no sistema gastrointestinal (SGI) juntamente com o alimento. As secreções gástricas são compostas por ácido clorídrico (HCL), produzidas pelas células parietais localizadas nas paredes do fundo e no corpo, pelas proteases, lipases, muco, fator intrínseco e o hormônio gastrina.

As células principais do estômago são responsáveis por produzir pepsina, que é a protease mais potente do suco gástrico, secretada na sua forma inativa, pepsinogênio, a qual passa a estar ativa quando entra em contato com o HCL, tendo a função de quebrar as ligações peptídicas que unem os aminoácidos, participando da catalização de algumas proteínas ingeridas na dieta. Essas mesmas células também são responsáveis por secretar uma lipase estável em ácido, capaz de contribuir para o processamento geral dos triglicerídeos dietéticos. O estômago é responsável por produzir uma glicoproteína, denominada fator intrínseco, que é necessário para absorção de vitamina B12 no íleo terminal.

Nos primeiros 100 centímetros do intestino delgado ocorre uma série de reações que resulta na maior parte da digestão e absorção dos alimentos ingeridos. Nessa parte há liberação de hormônios que estimulam a produção e liberação de enzimas potentes pelo pâncreas e intestino delgado e da bile pelo fígado e vesícula biliar. Podemos dizer então que, ao longo do intestino delgado acontece a redução dos carboidratos em monossacarídeos, dos peptídeos em aminoácidos simples e das gorduras em glóbulos visíveis de gordura a gotas microscópicas de triglicerídeos e por fim, em ácidos graxos livres e monoglicerídeos. Quase todos os macronutrientes, vitaminas, minerais, oligoelementos e líquidos são absorvidos no intestino delgado, antes de chegar no cólon. Depois dessa absorção pelo intestino delgado, os nutrientes passam para o fígado pela veia, onde os mesmos podem ser armazenados, transformados ou liberados na circulação.

No cólon há absorção de uma pequena parte de nutrientes restantes do intestino delgado e de eletrólitos. O cólon é responsável também, pela fermentação dos carboidratos e fibras resistentes à digestão no SGI superior, sendo que algumas destas servem como material prebiótico por meio da produção de ácidos graxos de cadeia curta, resultado da fermentação, diminuindo o pH do cólon e aumentando a massa de bactérias “boas”. No intestino grosso ocorre o armazenamento temporário para os produtos remanescentes e no cólon distal, reto e ânus há o controle da defecação.

Após a bariátrica, a deficiência mais grave e comum segue sendo a desnutrição proteica, atingindo cerca de 30-40% dos pacientes. Estima-se que apenas 57% da proteína ingerida é absorvida após o bypass intestinal. Essa deficiência traz complicações sérias como perda de massa muscular, baixa na imunidade, danos fisiológicos, retardo na cicatrização de feridas cirúrgicas, dentre outros problemas que acabam por atrapalhar o sucesso no tratamento da obesidade. A mesma é caracterizada pela presença de hipoalbuminemia, anemia, edema, astenia e alopecia, sendo a deficiência de macronutrientes mais comum de ocorrer no pós-operatório tardio de cirurgia bariátrica.

A hipoalbuminemia (albumina < 3,5 g/dL) após o BGYR pode variar de 13% em pacientes após dois anos de cirurgia a 27,9% após dez anos, ou até mesmo não estar presente nos primeiros meses.

Segundo recomendações mais atuais a quantidade de ingestão proteica diária deve ser de 60 a 120g, dando prioridade aquelas de alto valor biológico, porém nos primeiros seis meses essa ingestão é muito baixa, sendo necessária uma suplementação proteica. A qual deve ser feita levando em conta diversos fatores como custo, aceitabilidade por parte do paciente, pois em alguns casos o sabor desse suplemento pode causar náuseas e vômitos, fazendo com que o paciente não queira consumi-lo. Deve-se atentar também a fácil digestibilidade, visto que o trato  gastrointestinal desse indivíduo sofreu modificações e sempre buscar alternativas de preparo que sejam mais fáceis para o seu consumo.

O paciente deve ser orientado a utilizar suplementos proteicos em pó e de alto valor biológico após 48 horas da realização da cirurgia. O whey protein tem sido a melhor escolha para esses casos, pois possui uma maior absorção e confere maior saciedade. Sua composição a base de proteína do soro do leite, faz com que esta não precise ser quebrada ou reduzida pelos ácidos estomacais, indo direto para o intestino delgado onde são rapidamente digeridas e seus aminoácidos absorvidos, fazendo com que os níveis de aminoácidos no plasma aumentem, estimulando assim a síntese proteica nos tecidos O ideal é que se use whey protein do tipo isolado, hidrolisado, sem lactose, sem glúten e sem sacarose para facilitar a adesão por parte do paciente, reduzir a alergenicidade e melhorar a absorção.

Outros módulos de proteína estão amplamente disponíveis no mercado, como albumina e caseinato. Porém, fatores como sabor, textura, solubilização, absorção e custo são considerados importantes na escolha desses suplementos. Prioridade deve ser dada ao perfil de aminoácidos presentes quando o suplemento for a única fonte proteica da dieta. O whey protein pode ser uma excelente escolha, uma vez que possui elevados níveis de aminoácidos de cadeia ramificada, importantes para prevenir degradação do tecido muscular, permanecem solúveis no estômago e são rapidamente digeridos.

Carnes, aves, peixes, ovos, leite e derivados lácteos devem ser incentivados ainda nos primeiros meses de pós-operatório, de acordo com o protocolo de evolução da dieta. A ingestão de proteína deve ser avaliada periodicamente, em cada consulta nutricional. Na presença de deficiência proteica clínica ou subclínica, mesmo na ausência de vômitos ou intolerância alimentar, os pacientes devem ser tratados com dieta hiper proteica.

BORDALO, Livia Azevedo et al. Cirurgia bariátrica: como e por que suplementar. Revista da Associação Médica Brasileira, v. 57, n. 1, p. 113-120, 2011.

DOS SANTOS, Mariana Varela. A importância da suplementação em indivíduos submetidos a cirurgia bariátrica–by pass gástrico, UNIFACVEST, CENTRO UNIVERSITÁRIO

SBCBM (Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica), 2017. Disponível em: https://www.sbcbm.org.br/tecnicas-cirurgicas-bariatrica/. Acesso em 26 de junho de 2022

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WHEY PROTEIN E SEUS BENEFÍCIOS

Por Isabella Brescia

Nas últimas décadas, numerosas pesquisas vêm demonstrando as qualidades nutricionais das proteínas solúveis do soro do leite, também conhecidas como whey protein. As proteínas do soro são extraídas da porção aquosa do leite, gerada durante o processo de fabricação do queijo. Durante décadas, essa parte do leite era dispensada pela indústria de alimentos. Somente a partir da década de 70, os cientistas passaram a estudar as propriedades dessas proteínas.

Assim, as formas mais utilizadas, sobretudo, por suas vantagens evidenciadas, são owheyprotein concentrate(WPC) e o whey protein isolate(WPI). O WPC é o produto obtido por um processo de filtração simples, com o intuito de remover os constituintes não proteicos do soro, de forma que o produto final seco contenha, em geral, de 35% a 80% de proteínas. Já o WPI passa por uma filtração mais complexa e é a forma comercial mais pura das proteínas do soro, contendo mais de 80% de teor proteico. Dentre os tipos temos também o hidrolisado, essa é a única forma a qual sofreu hidrólise enzimática, ela possui a maior a velocidade de absorção pelo organismo e contém cerca de 92% de proteína em sua composição.

Atletas, praticantes de atividades físicas, pessoas fisicamente ativas e portadores de doenças, vêm procurando benefícios nessa fonte proteica. Evidências recentes sustentam a teoria de que as proteínas do leite, incluindo as proteínas do soro, além de seu alto valor biológico, possuem peptídeos bioativos, que atuam como agentes antimicrobianos, anti-hipertensivos, reguladores da função imune, assim como fatores de crescimento.

A diminuição da massa muscular esquelética está associada à idade e à inatividade física. Já está suficientemente comprovado que a manutenção ou o ganho de massa muscular esquelética, principalmente em pessoas idosas, contribui para uma melhor qualidade e prolongamento da vida. Exercícios físicos, principalmente os resistidos com pesos, são de extrema importância para impedir a trofia e favorecer o processo de hipertrofia muscular, melhorando a qualidade de vida dos indivíduos. Além disso, a nutrição exerce papel fundamental nesse processo. Pessoas fisicamente ativas e atletas necessitam de maior quantidade proteica que as estabelecidas para indivíduos sedentários.

Pessoas envolvidas em treinos de resistência necessitam de 1,2 a 1,4g de proteína por quilograma de peso ao dia, enquanto atletas de força, 1,6 a 1,7g por kg de peso/dia, bem superior aos 0,8-1,0g por kg de peso/dia estabelecidos para indivíduos sedentários. A ingestão de proteína ou aminoácidos, após exercícios físicos, favorece a recuperação e a síntese proteica muscular. O perfil de aminoácidos das proteínas do soro, principalmente ricas em leucina, pode, desta forma, favorecer o anabolismo muscular. Além disso, o perfil de aminoácidos das proteínas do soro é muito similar ao das proteínas do músculo esquelético, fornecendo quase todos os aminoácidos em proporção similar as do mesmo, classificando-as como um efetivo suplemento anabólico.

O conceito de proteínas com diferentes velocidades de absorção tem sido, recentemente, utilizado por profissionais e cientistas que trabalham com desempenho físico. Estudos demonstram que as proteínas do soro são absorvidas mais rapidamente que outras, como a caseína, por exemplo. Essa rápida absorção faz com que as concentrações plasmáticas de muitos aminoácidos, inclusive a leucina, atinjam altos valores logo após a sua ingestão. Além de aumentar as concentrações plasmáticas de aminoácidos, a ingestão de soluções contendo as proteínas do soro aumenta, significativamente, a concentração de insulina plasmática, o que favorece a captação de aminoácidos para o interior da célula muscular, otimizando a síntese e reduzindo o catabolismo proteico. O aumento na concentração de BCAA, induzido pelas proteínas do soro, pode atuar também inibindo a degradação proteica muscular.

Resumindo, seus benefícios sobre o ganho de massa muscular estão relacionados ao perfil de aminoácidos, principalmente da leucina (um importante desencadeador da síntese proteica), a rápida absorção intestinal de seus aminoácidos e peptídeos e à sua ação sobre a liberação de hormônios anabólicos, como, por exemplo, a insulina.

A colecistoquinina (CCK) e o peptídeo similar ao glucagon (GLP-1) são dois hormônios intestinais amplamente estudados. A liberação desses hormônios na corrente sanguínea ocorre em presença de macronutrientes no duodeno, produzindo efeito supressor do apetite. Comparando as duas principais proteínas do leite, caseína e as proteínas do soro, Hall et al. estudaram seus efeitos sobre o apetite, percepção de fome, saciedade e hormônios gastrintestinais. Observaram que, quando os voluntários ingeriam uma solução contendo 48g de proteínas do soro, 90 minutos antes da refeição, apresentavam uma redução significativa do apetite, da ingestão energética e aumento da saciedade, em comparação a um grupo que ingeriu a mesma solução contendo caseína. Essa percepção,  estava relacionada às maiores concentrações sanguíneas de CCK e do GLP-1, geradas pela ingestão da solução contendo as proteínas do soro.

Referência bibliográfica

HARAGUCHI, Fabiano Kenji; ABREU, Wilson César de; PAULA, Heberth de. Whey protein: composition, nutritional properties, appications in sports and benefits for human health. Revista de nutrição, v. 19, n. 4, p. 479-488, 2006.

COSTA, Flávia Ribas et al. Proteínas do soro do leite: propriedades funcionais e benefícios para a saúde humana. Lecturas: Educación Física y Deportes, v. 25, n. 272, 2021.

HALL WL, Millward DJ, Long SJ, Morgan LM. Casein and whey exert different effects on plasma amino acids profiles, gastrointestinal hormone secretion and appetite. Brit J Nutr. 2003; 89(2):239-48.

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SUPLEMENTAÇÃO COM COLÁGENO EM DOENÇAS ÓSSEAS

Por Isabella Brescia

O organismo humano passa por diversas fases: a infância, a puberdade, a maturidade ou estabilização e o envelhecimento. O envelhecimento é marcado por várias mudanças já a partir da segunda década de vida. No início, essas mudanças são pouco perceptíveis, porém, ao final da terceira década apresenta alterações funcionais e/ou estruturais importantes que resultam da interação de fatores genéticos, ambientais e estilo de vida.

A osteoporose (OP) constitui na enfermidade do esqueleto uma causa multifatorial, caracterizada pela redução de massa óssea e deterioração da integridade anatômica e estrutural do osso, levando ao aumento da fragilidade óssea e suscetibilidade a fraturas. O grupo mais afetado pela OP são as mulheres idosas cuja diminuição da produção de estrógeno após a menopausa acelera a perda óssea.

As doenças degenerativas articulares evoluem lentamente ao longo de décadas com episódios de dor até chegar à perda de função da articulação.  Quando a atividade de regeneração não é superior a uma degradação em ritmo acelerado, leva a um estado de insuficiência osteo cartilaginosa. Até o momento não há cura e os tratamentos disponíveis, farmacológicos e não farmacológicos, atuam na redução dos sintomas, principalmente dor, inflamação e imobilidade.

A cartilagem articular hialina é um tecido avascular, altamente especializado, que recobre a superfície das articulações constituído por 5% de células, os condrócitos, água, proteoglicanos (sulfato de condroitina e o querato sulfato) colágeno e outras proteínas. A água representa cerca de 65% a 85% do peso seco do tecido, enquanto as principais macromoléculas, como o colágeno e os proteoglicanos, representam cerca de 10% a 30% do peso seco do tecido, respectivamente.

A composição e a complexa organização estrutural entre o colágeno e os proteoglicanos garantem as propriedades inerentes à cartilagem articular, como resistência, elasticidade e compressibilidade, necessárias para dissipar e amortecer as forças, além de reduzir a fricção, a que as articulações estão sujeitas, sem muito gasto de energia. Portanto, a integridade dos componentes da cartilagem articular é essencial para garantir a função normal das articulações.

O colágeno é o principal elemento estrutural que confere resistência ao tecido; sabe-se que além da função de suporte, participa na diferenciação, adesão, migração e proliferação celular. A cartilagem articular é composta primariamente de colágeno tipo II, com pelo menos dez colágenos adicionais, incluindo os tipos III, VI, IX, X, XI e XIII, presentes como menores constituintes.

A molécula de colágeno é composta basicamente por uma sequência repetida de três aminoácidos (Gly-X-Y), em que Gly é o aminoácido glicina; X, quase sempre é prolina e Y, hidroxiprolina ou hidroxilisina. Em geral, o colágeno contém cerca de 30% de glicina, 12% de prolina, 11% de alanina, 10% de hidroxiprolina e 1% de hidroxilisina. Do ponto de vista nutricional, o colágeno é considerado uma proteína de qualidade inferior, pois há predominância dos aminoácidos descritos e quantidade mínima ou ausente da maioria dos aminoácidos essenciais, como triptofano, metionina, cistina e tirosina.Apesar disso, sua importância nutricional torna-se estabelecida por seu perfil atípico de aminoácidos que estimula a síntese de colágeno nas cartilagens e na matriz extracelular de outros tecidos.

O colágeno, assim como as demais proteínas ingeridas, não é absorvido como colágeno. A maior parte da digestão proteica, cerca de 80%, ocorre no duodeno e jejuno pela ação do suco pancreático e apenas 10-20% no estômago pela ação do ácido clorídrico e da pepsina. No intestino delgado ocorre a hidrólise luminal de proteínas e polipeptídios em aminoácidos (AA) livres e pequenos peptídeos pela ação da enteropeptidase, que, em pH neutro, ativa o tripsinogênio e a tripsina, que, por sua vez, promove a ativação das outras propeptidases do suco pancreático. Os AA e pequenos peptídeos são hidrolisados pelas peptidases da borda em escova a AA, di e tripeptideos, que são absorvidos principalmente pelo jejuno proximal por difusão simples, difusão facilitada ou transferência ativa por co-transporte. Os AA são destinados a inúmeras funções, inclusive para a síntese do próprio colágeno.

No tecido conjuntivo, o colágeno tipo I é o mais abundante e a partir dele são obtidos o colágeno parcialmente hidrolisado (gelatina) e o colágeno hidrolisado. A diferença entre o colágeno hidrolisado e a gelatina é que o colágeno hidrolisado é de fácil digestão e absorção,  e apresenta prevalência da glicina e prolina em sua composição. Esses aminoácidos são essenciais para a estabilidade e a regeneração das cartilagens.

O efeito positivo da proteína com a constituição óssea está relacionado à composição, ou seja, 50% do osso é formado por colágeno e a outra metade, por cálcio. Portanto, uma dieta inadequada, não apenas em cálcio, mas também em proteína limitaria a reconstrução óssea.

Algumas pesquisas destacam um conceito de causa diferente à do envelhecimento para as osteoartrites (OA), cuja proposta terapêutica deve abranger todos os aspectos da doença. A patogênese da OA resulta de fatores inflamatórios e mecânicos: inflamatória, em respostas mediadas por condrócitos e sinovióticos; mecânica, associada ao movimento e força física concentrada principalmente nas articulações. A OA seria o resultado da inflamação da articulação na tentativa de corrigir o estresse mecânico anormal. As respostas inflamatórias são maiores em pacientes com OA e aumentadas no envelhecimento, enquanto os mecânicos compõem uma combinação de fatores entre fisiológicos e genéticos, e em ambos a obesidade seria fator agravante. A obesidade eleva a carga sobre a articulação e ativa produção de adipocinas pró-inflamatórias em receptores presentes na superfície dos condrócitos, osteoblastos, membrana sinovial e subcondral.

Existe um consenso de que os efeitos promovidos pela ingestão de peptídeos de colágeno estão relacionados à sua forma hidrolisada. Para os autores, a suplementação alimentar e a farmacológica de CH são justificadas porque apresentam funções biológicas benéficas muito além da redução da dor em pacientes com OA. Além de estarem envolvidos na síntese de matriz de cartilagem, alguns peptídeos de colágeno exibem atividade anti-hipertensiva e cardioprotetora, por meio da regulação do óxido nítrico e da molécula de adesão intercelular e inibição da enzima conversora de angiotensina I, além de atividades antioxidantes em diferentes sistemas oxidativos.

Tanto o envelhecimento quanto a má alimentação podem afetar a demanda de colágeno no corpo. Essas alterações não são perceptíveis nos primeiros estágios da vida, mas vão ficando evidentes na maturidade, fase na qual a ingesta alimentar não supre as necessidades recomendadas tanto de energia, quanto de macro e micronutrientes.Também nessa fase as possibilidades de desenvolver disfunções ósseas e articulares são maiores. Nutrição balanceada é essencial não só para prevenir doenças crônicas, mas também para manter a saúde do corpo e garantir seu funcionamento adequado.

O colágeno hidrolisado tem função terapêutica positiva na osteoporose e osteoartrite, com potencial aumento da densidade mineral óssea, efeito protetor da cartilagem articular e principalmente no alívio sintomático em quadros de dor. Embora não exista na literatura científica pesquisada consenso sobre a dosagem de colágeno hidrolisado a ser administrada, com a suplementação de 8g diária observa-se aumento da concentração de glicina e prolina no plasma e doses equivalentes a 12g diária promovem melhora significativa nos sintomas de osteoartrite e osteoporose. Entretanto, mais estudos são necessários para determinar os fatores patogênicos envolvidos na osteoporose e osteoartrite, seu diagnóstico precoce, e a partir de que estágio da vida seria recomendado o início da suplementação e a dosagem adequada para alcançar significativo potencial terapêutico.

Referência bibliográfica

PORFÍRIO, Elisângela; FANARO, Gustavo Bernardes. Suplementação com colágeno como terapia complementar na prevenção e tratamento de osteoporose e osteoartrite: uma revisão sistemática. Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia, v. 19, p. 153-164, 2016.

VELOSA, Ana Paula P.; TEODORO, Walcy R.; YOSHINARI, Natalino H. Colágeno na cartilagem osteoartrótica. Revista Brasileira de Reumatologia, v. 43, n. 3, p. 160-166, 2003.

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COLÁGENO HIDROLISADO E SEUS BENEFÍCIOS PARA A SAÚDE

Por Isabella Brescia

O colágeno é uma proteína de origem animal, cuja função no organismo é contribuir com a integridade estrutural dos tecidos em que está presente. O colágeno é encontrado nos tecidos conjuntivos do corpo, tais como os ossos, tendões, cartilagens, veias, pele, dentes, bem como nos músculos e na camada córnea dos olhos. Porém, com o início da fase adulta, a deficiência de colágeno começa a ser notada, pois o organismo diminui sua produção.

O colágeno tem sua produção em queda após aos 30 anos, conforme essa diminuição na produção de colágeno ocorre no organismo, é preciso aumentar a ingestão de proteínas para aumentar a síntese de colágeno. As proteínas são nutrientes extremamente importantes para o corpo, desde o DNA até as estruturas da pele, músculos e os órgãos. Por conta dessa alta demanda, o organismo passa a dar menos prioridade para as estruturas como unhas, cabelos, pele e passa a dar mais prioridade ossos, músculos, órgãos e tecidos. Dessa forma a ingestão alimentar, as vezes, se torna insuficiente e por isso a suplementação em alguns casos é necessária para aumentar o aporte de colágeno.

O colágeno representa 30% de todas as proteínas do organismo. Todo o processo de cicatrização necessita do colágeno. Pela diminuição na síntese de colágeno, é perceptível o aumento de rugas, enfraquecimento ósseo, queda de cabelo, unhas quebradiças e processos mais patológicos que necessitam de suplementação. Existem diversos tipos de colágeno, são conhecidos 29 tipos que se diferenciam pela composição de aminoácidos, nos arranjos, no diâmetro e na localização dos tecidos.

Os tipos de colágeno são:

  • Tipo I: é o tipo mais abundante dos colágenos, representa aproximadamente 90% de todo o colágeno corporal. Encontrado em: tendões, na derme, ossos e dentes.
  • Tipo II: é encontrado na cartilagem das articulações e discos intervertebrais, diminuindo o atrito causado nas articulações, gerando uma proteção.
  • Tipo III: é o segundo mais abundante, presente nos músculos lisos tais como vasos sanguíneos, estômago, intestinos, baço, fígado, rins, pulmões e coração.
  • Tipo IV: esse tipo tem função de sustentação e revestimento, presente principalmente no tecido epitelial. Encontrado na pele, no revestimento estomacal, na bexiga, na uretra, nas paredes da cavidade torácica, em glândulas endócrinas, como a tireoide.

O predomínio de aminoácidos como glicina, prolina, lisina, hidroxiprolina, hidroxilisina e alanina, e a ausência da maioria dos aminoácidos essenciais como o triptofano, faz com que o colágeno seja considerado uma fonte proteica pobre para a dieta humana. Por outro lado, o colágeno é um exemplo claro do relacionamento da estrutura proteica e a função biológica, pois fornece resistência e elasticidade nas estruturas anatômicas na qual está presente. Assim, a falta de aminoácidos essenciais do colágeno não o torna inutilizável, pois suas frações apresentam um importante papel na dieta humana por se comportarem como fibra solúvel e por constituírem uma fonte de proteína animal.

Um avanço na medicina nutricional é a prevenção e o tratamento das disfunções gastrointestinais pelo consumo de fibras dietéticas, uma vez que esses compostos mantêm o funcionamento normal do trato gastrointestinal, aumentando o volume do conteúdo intestinal e das fezes, o que reduz o tempo de transição intestinal e ajuda a prevenir a constipação. Sua presença nos alimentos induz à saciedade no momento das refeições. Alguns estudos demonstram como o colágeno, e particularmente suas frações, obtidas por uma variedade de técnicas, provou ser mais eficiente do que as fibras de origem vegetal – como, por exemplo, na absorção de água e gelificação, promovendo sensação de saciedade e aumento do bolo fecal.

Além dos benefícios antienvelhecimento o colágeno hidrolisado auxilia no processo de cicatrização, no funcionamento intestinal e no controle da sarcopenia.

O colágeno hidrolisado é uma excelente fonte de aminoácidos de boa tolerância, digestibilidade e biodisponibilidade. A ingestão de 10 a 20 gramas diariamente estimula e facilita a síntese do colágeno tecidual e, portanto, ajuda a melhorar a regeneração dos tecidos colágenos, prevenindo e tratando doenças degenerativas que os afetam e também deterioração dérmica.

Devido à sua funcionalidade para a saúde, os grupos populacionais para os quais a suplementação está particularmente indicada são aqueles que estão mais em risco de deterioração (ou já sofrem dele) dos tecidos colágenos, seja devido à idade (em geral, a partir dos 40 anos), uso excessivo (esporte e atividade física intensa) ou outras circunstâncias como sobrepeso, menopausa, trauma, queimaduras, intervenções cirúrgicas, implantes dérmicos ou dentários e tratamentos oncológicos agressivos.

Referência bibliográfica

BLANC, Gisely. Efetividade da terapia nutricional enteral no processo de cicatrização das úlceras por pressão. Tese de doutorado da Universidade Federal do Paraná, 2013.

DE LA HOZ, Jaime Escalada. REVISIÓN DE LOS EFECTOS DEL COLÁGENO. Nutr Hosp, v. 32, n. Supl 1, p. 62-66, 2015.

Silva TF, Penna ALB. Colágeno: Características químicas e propriedades funcionais. Rev Inst Adolfo Lutz. São Paulo, 2012; 71(3):530-9

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CROCUS SATIVUS E OS BENEFÍCIOS PARA A SAÚDE

Por Isabella Brescia

O açafrão verdadeiro é extraído dos estigmas e parte do estilete das flores de Crocus sativus, uma planta da família das Iridáceas, que começa a aparecer no início do outono, no final de setembro de cor roxa. É utilizado desde a antiguidade como especiaria, principalmente na culinária do Mediterrâneo, região de origem. É considerado como uma das mais caras especiarias do mundo uma vez que, para se obter um quilo de açafrão seco, são processadas manualmente, de 150.000 a 200.000 flores.

A análise química dos estigmas de C. sativus mostrou a presença de cerca de 150 compostos voláteis e não voláteis. Menos de 50 constituintes, no entanto, foram identificados até agora. Os três principais compostos biologicamente ativos são: Crocina, pigmento carotenóide responsável pela cor amarelo-alaranjada da especiaria; Picrocrocina, trazendo o sabor amargo do açafrão; e o Safranal, um composto volátil responsável pelo aroma e cheiro tão específico do açafrão.

A crocina é um carotenóide raro na natureza, facilmente solúvel em água. Em comparação com outros carotenóides, a crocina tem uma aplicação mais ampla como corante em alimentos e medicamentos, principalmente devido à sua alta solubilidade. A picrocrocina é o principal fator que influencia o sabor amargo do açafrão, que pode ser cristalizado por hidrólise. O safranal é responsável pelo aroma (representa 70% da fração volátil), tem pouca ou nenhuma presença em estigmas frescos, sua concentração depende das condições de secagem e conservação do açafrão.

Além da crocina e da picrocrocina, os principais compostos do açafrão são antocianinas, flavonóides (como o kaempferol), vitaminas, aminoácidos, amido, matéria mineral e gomas Também possui muitos componentes ativos não voláteis, muitos dos quais são carotenóides, incluindo zeaxantina, licopeno e vários α- e β-carotenos. Os voláteis, que têm um odor muito forte, são consistentes com mais de 34 componentes, que são principalmente terpenos, álcoois terpenos e seus ésteres.

A qualidade do açafrão depende da concentração desses três metabólitos principais, proporcionando a cor e o sabor únicos dos estigmas. Seus conteúdos dependem do ambiente e das práticas culturais. A composição química das amostras de açafrão de muitos países indica que os valores relatados dependem fortemente dos métodos usados ​​para secagem, extração e análise de estigma.

Desde os tempos antigos, as plantas têm sido usadas em todas as civilizações, em todo o mundo, como fonte de medicina tradicional. Por mais de 3.000 anos, o açafrão foi considerado uma panacéia, de acordo com os medicamentos ayurvédicos, mongóis, chineses, egípcios, gregos e árabes. Algumas propriedades terapêuticas atribuídas ao açafrão são:

Antidepressivo

O uso do açafrão como antidepressivo tem uma longa tradição, desde a antiguidade até os tempos modernos. A depressão é uma das cinco doenças mais prevalentes em todo o mundo e afeta cerca de 11,6% da população mundial. Semelhante aos antidepressivos alopáticos o açafrão pode exercer seu efeito antidepressivo modulando o nível de certas substâncias químicas no cérebro, incluindo a serotonina. A serotonina, ou 5-hidroxitriptamina, é um neurotransmissor que eleva o humor sintetizado a partir do triptofano. Embora não apareça como uma erva medicinal usada tradicionalmente, as pétalas de açafrão são significativamente mais baratas do que os estigmas, levando os pesquisadores a examinar seu potencial no tratamento da depressão. Assim, um estudo comparando a eficácia de pétalas e estigmas sugere que eles são igualmente eficazes no tratamento de depressão leve a moderada.

Tratamento da disfunção sexual

O açafrão, assim como outras especiarias, sempre teve a reputação de afrodisíaco em diferentes civilizações egípcias, gregas, romanas e outras. Tradicionalmente, muçulmanos, fenícios e chineses usam açafrão como estimulante sexual. Foram avaliadas as atividades afrodisíacas do extrato aquoso de estigmas de C. sativus e seus constituintes, safranal e crocina. Parece que o açafrão pode, sem risco, combater efetivamente certos distúrbios sexuais induzidos pela fluoxetina em mulheres, como excitação, lubrificação ou dor. O açafrão mostrou um efeito positivo na função sexual com um aumento no número e duração das ereções em pacientes com disfunção erétil – mesmo após o tratamento por apenas 10 dias.

Antioxidante

Os carotenóides, crocina e crocetina, desempenham um papel importante na saúde, agindo como antioxidantes naturais. Eles protegem células e tecidos dos efeitos prejudiciais dos radicais livres e espécies reativas de oxigênio (ROS). A crocina é o ingrediente ativo mais estudado no que diz respeito às propriedades antioxidantes do açafrão. No entanto, não age sozinho, mas graças ao trabalho em sinergia com outros componentes como safranal, dimetilcrocetina e flavonóides. Outros estudos centraram-se nos efeitos negativos do stress oxidativo no nosso cérebro, uma vez que é o órgão mais exposto à oxidação, devido ao elevado teor de fosfolípides das membranas neuronais e à ligação existente com o desenvolvimento de patologias neurodegenerativas como a doença de Alzheimer, cujo tratamento com o açafrão pode prevenir a agregação e deposição do peptídeo β amilóide no cérebro humano e pode, portanto, ser útil na doença de Alzheimer.

Anticarcinogênico

O câncer é a principal causa de morte no mundo. Evidências epidemiológicas indicam que existe uma correlação entre uma dieta rica em antioxidantes e uma menor incidência de morbidade e mortalidade. Entre os remédios naturais, o açafrão e seus ingredientes (especialmente seus carotenóides) têm atividades antitumorais e anticancerígenas, mas não exercem nenhum efeito citotóxico nas células saudáveis. Uma grande variedade de substâncias naturais foi identificada como tendo a capacidade de induzir apoptose em várias células tumorais. Entre as muitas propriedades biológicas relatadas com açafrão, esses anti-carcinogênicos são de grande interesse e são extensivamente estudados por experimentos in vitro e in vivo. O extrato de açafrão de ocorrência natural – em combinação com dois compostos sintéticos – selenito de sódio ou arsenito de sódio, pode ter um papel importante na prevenção dos danos provocados pela quimioterapia do câncer. O pré-tratamento com açafrão por cinco dias consecutivos antes da administração de drogas antitumorais, incluindo cisplatina, inibiu significativamente o dano ao DNA celular induzido por drogas antitumorais.

Antiespasmódico e digestivo

Foram atribuídas ao açafrão em relação ao sistema gastrointestinal e genital, em particular, as de estimular o estômago, reduzir o apetite, tratar hemorróidas, tratar prolapso do ânus, limitar fermentações intestinais, ajudar no tratamento da amenorreia ou estimular a menstruação – e não mencionar seu poder abortivo. Safranal normalizou o volume gástrico e o pH, reduziu a superfície da úlcera gástrica e produziu proteção gástrica. 

Anti-inflamatório e analgésico

Há um grande interesse em compostos naturais, como suplementos alimentares e remédios de ervas usados ​​há séculos para reduzir a dor e a inflamação. Extratos e tinturas de açafrão têm sido usados ​​para tratar febre, feridas, dor lombar, abscessos e gengivite, bem como dor relacionada à erupção dos primeiros dentes em bebês. Extratos aquosos e alcoólicos de estigmas e pétalas de açafrão têm atividade antinociceptiva (que anula ou reduz a percepção da dor) e anti-inflamatória para dor aguda e crônica.

Efeito antiobesidade e sobre os níveis de colesterol

Beliscar é um dos hábitos alimentares de difícil controle, predispondo ao ganho de peso e, consequentemente, à obesidade e consequentes complicações metabólicas (dislipidemia, diabetes não insulino-dependente, distúrbios circulatórios, hipertensão, doença renal crônica). Acomete principalmente a população feminina e está frequentemente associada ao estresse. Devido à presença de crocetina, o açafrão ajuda indiretamente a diminuir os níveis de colesterol no sangue e, portanto, a gravidade da aterosclerose, reduzindo o risco de ataque cardíaco. O efeito hipolipidêmico da crocina é atribuído à inibição da lipase pancreática, limitando assim a absorção de gorduras e colesterol.  Estudos anteriores concluíram que o açafrão mostrou efeitos antiobesidade e anorexígenos em modelos de ratos obesos. Isto graças ao seu efeito na redução da ingestão calórica, bloqueando a digestão das gorduras alimentares através da inibição da lipase pancreática; a sensação de saciedade devido ao aumento do nível de neurotransmissores sem esquecer o seu papel na melhoria do metabolismo da glicose e dos lipideos. Além disso, a crocina mostrou uma diminuição significativa na taxa de ganho de peso corporal e deposição total de gordura.

Efeito sobre a resistência à glicose no sangue e à insulina

O uso de crocetina em altas doses (40 mg/kg) neutraliza o desenvolvimento de resistência à insulina, evitando hiperinsulinemia compensatória; de fato, limita a dislipidemia mantendo os valores de ácidos graxos livres, triglicerídeos e LDL-c (Low Density Lipoprotein) dentro das normas e evita a hipertensão induzida por uma dieta suplementada com frutose.

Efeitos nos olhos

O açafrão tem sido usado tradicionalmente por diferentes nações para várias doenças oculares, como doenças da córnea, olhos doloridos, catarata e infecção ocular purulenta. As investigações atuais mostram que o extrato de açafrão pode reduzir doenças oculares como catarata, degeneração da retina, morte celular fotorreceptora mediada por luz, e melhora da circulação sanguínea e função da retina.

A ingestão de menos de 1,5 g de açafrão não é tóxica para humanos, é considerada tóxica quando ingerida em doses superiores a 5 g e pode ser fatal se for tomada em cerca de 20 g/dia. Toxicidade leve com açafrão causa tontura, náusea, vômito e diarreia, enquanto toxicidade mais grave pode causar dormência, formigamento nas mãos e pés, pele e olhos amarelados devido à precipitação de pigmentos amarelos na pele e na conjuntiva e sangramento espontâneo.

Referência Bibliográfica

MZABRI, Ibtissam; ADDI, Mohamed; BERRICHI, Abdelbasset. Usos tradicionais e modernos do açafrão (Crocus sativus). Cosméticos , v. 6, n. 4, pág. 63, 2019.

SRIVASTAVA, R. et al. Crocus sativus L.: uma revisão abrangente. Revisões de farmacognosia , v. 4, n. 8, pág. 200, 2010.

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Cúrcuma e seus benefícios para a saúde

A planta medicinal açafrão da terra representa uma espécie botânica da família dos Zingiberaceae, de nome científico Curcuma longa Linn.

Por Isabella Brescia

Existem inúmeras  ervas  naturais que possuem substâncias com ação antioxidante   e   anti-inflamatória,   compostos fenólicos, flavonoides, alcaloides, tais substâncias   atuam   no   sistema   imune,   na microbiota  intestinal,  e  em  vários  processos metabólicos, controlando quadros inflamatórios. A  cúrcuma  (cúrcuma  longa),  também  conhecida  como açafrão da terra possui vários princípios ativos, o  principal  deles  é  a  curcumina  sendo  um potente antioxidante e anti-inflamatório.

A planta medicinal açafrão da terra representa uma espécie botânica da família dos Zingiberaceae, de nome científico Curcuma longa Linn. Seu pó dourado também é conhecido como turmérico. Trata-se de uma planta nativa da Ásia e Índia.

Historicamente, a Curcuma longa L. é conhecida mundialmente por suas aplicações terapêuticas e dietéticas em atividades medicinais (medicamentos), culinárias (tempero, corante alimentar natural e conservante), cosméticas e religiosas, sendo sua origem marcada pela população chinesa e indiana. A Índia domina até os tempos atuais a maior escala de produção, exportação e consumo deste vegetal multifuncional.

O açafrão da terra se apresenta como um medicamento popular, de baixo custo e fácil acesso,  com propriedades medicinais altamente eficazes. Está sendo disseminado dentro da medicina integrativa sua potencialidade medicinal e benefícios à saúde, agindo em  inúmeras doenças clínicas e crônicas como artrite, diabetes, colesterol, hepatite, malária.

Dentre os seus componentes químicos ativos destaca-se a curcumina que é extraída dos rizomas da planta, empregada na indústria alimentícia (conservante, corante, tempero, alimento e suplemento dietético, inibidor de apetite e termogênico no controle da obesidade), na indústria de cosméticos (óleos essenciais, cremes e pomadas para a pele), na indústria farmacêutica (antioxidante, anticoagulante, anti-inflamatório, antitumoral, antiviral, anticancerígeno, neuro protetor e outras fisiopatologias), na medicina tradicional (medicamento caseiro em forma de chá, decocção, maceração e infusão), na fitoterapia (utilizando-se as partes secas e frescas para extratos, chás, óleos, pomadas, comprimidos e cremes).

O açafrão da terra apresenta propriedades medicinais relevantes e abrangentes, agindo em atividades biológicas e farmacológicas capazes de atuarem com eficácia em ações terapêuticas, antimicrobiana, antitumoral, anticancerígena, antibacteriana, antifúngica, antimalárica, anticoagulante, antiespasmódica, antiflatulenta,  hipolipemiante, cicatrizante, neuro protetora, imunomoduladora, colerética, colagoga, e outras.

Os problemas ligados ao trato gastrointestinal envolvendo estômago, esôfago, intestino e órgãos auxiliares como vesícula, pâncreas e fígado recebem benefícios dessa planta medicinal, por formar uma camada protetora e eliminar resíduos tóxicos que podem causar constipação, gastrite, úlcera, cálculos biliares e vesiculares, dentre outros desajustes ligados a este tão importante órgão do corpo humano.

O mecanismo de ação anti-inflamatória do princípio ativo da Curcuma longa L. age na cascata do ácido araquidônico, também conhecida como cascata da inflamação, inibindo as moléculas envolvidas no processo inflamatório. Esta inibição se dá de forma modular e envolve diversos fenômenos biológicos que interferem nas ativações celulares e nos sinalizadores moleculares, denominando a atividade terapêutica anti-inflamatória.

Ressalta-se ainda que os fatores Necrose Tumoral Alfa (TNF-a), Cicloxigenase-2 (COX-2) e NF-kB responsáveis por várias patologias inflamatórias, momento em que a curcumina trabalha na diminuição produtiva de TNF-a interferindo na sua mediação celular, eliminando as funções biológicas do COX-2, eliminando o NF-kB, agindo como propriedade medicinal anti-inflamatória.

Os fatores reumáticos, artrite e artrose podem ser eliminados com a ação anti-inflamatória da curcumina, agindo de forma eficaz em músculos, nervos e ossos, proporcionando o alívio da dor e melhorando os movimentos articulares.

A  formulação   de   cápsulas contendo   curcumina   em   soluções   lipídicas aumenta  sua  biodisponibilidade,  comprovado por análise plasmática após utilização. Outra  forma  de  utilização  da  cúrcuma é na produção e preparação de alimentos não somente  como  corante.  Estudos  demostram que   sua   capacidade   antioxidante   e   seus princípios ativos se mantem após o cozimento.

Com base nos achados na literatura é possível  afirmar  que  a  cúrcuma  longa  possui vários  benefícios  contra  diferentes  patologias por     possuir     compostos     fenólicos      antioxidantes  e  anti-inflamatórios  que atuam  na prevenção  e  tratamento  de várias  alterações do metabolismo. Seu  uso  é  considerado  seguro,  visto que  não  demonstrou  efeitos  colaterais  mesmo quando administrado em altas doses.

Referência bibliográfica

CARNEIRO, Josiane Aparecida; MACEDO, Darla Silvério. Cúrcuma: princípios ativos e seus benefícios para a saúde. RBONE-Revista Brasileira de Obesidade, Nutrição e Emagrecimento, v. 14, n. 87, p. 632-640, 2020.

MORETES, Débora Nogueira et al. Os benefícios medicinais da Curcuma longa L.(Açafrão da terra). 2019.

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ADOÇANTES ARTIFICIAIS

Por Isabella Brescia

Adoçantes artificiais são aditivos alimentares de valor energético nulo ou baixo, que fornecem doçura aos alimentos e bebidas, substituindo o açúcar. Encontrados em uma variedade de alimentos e bebidas comercializados como: doces, pães, sucos, sorvetes, geleias, gomas de mascar, refrigerantes, produtos lácteos e dezenas de outros alimentos e bebidas. A utilização de adoçantes artificiais pode ser recomendada/adequada para pessoas que apresentam certas restrições dietéticas, isto é, pessoas diabéticas e/ou obesas.

Sacarina

O primeiro adoçante artificial descoberto foi a substância sacarina, sua descoberta ocorreu em 1879. É comumente utilizada em refrigerantes, assados, geleias, chicletes, doces, vitaminas, medicamentos, produtos cosméticos (pasta de dente, enxaguante bucal e brilho labial). Em 1900, a referida substância começou a ser utilizada e teve sua aprovação pela FDA em 1970.  A sacarina é 300 vezes mais doce que a sacarose e apresenta 0 kcal/g, considerando a ingestão de 16 mg da referida substância. Ela não é absorvida ou metabolizada no trato gastrointestinal, sendo excretada pelos rins, o que não afeta os níveis de insulina no sangue.

No entanto, sabe-se que a sacarina é consumida por dezenas de milhões de pessoas e por isso as preocupações quanto à sua ingestão são de grande interesse para a saúde pública. Para tanto, segundo a Organização Conjunta de Agricultura e Alimentação/Comitê de Peritos da Organização Mundial da Saúde sobre Alimentos, sua ingestão diária aceitável é de 5 mg/kg de peso corporal.

Efeitos nocivos da sacarina

Na literatura são descritos diversos estudos a respeito dos efeitos nocivos que a ingestão de sacarina pode ocasionar para a saúde, podendo resultar em danos mutagênicos, câncer de bexiga e danos significativos ao estômago, de acordo com estudos em roedores. Acredita-se que a ingestão desta substância esteja diretamente relacionada ao aumento de apetite, podendo resultar em ganho de peso. Além disso, em 1994, foram registrados casos de hepatoxicidade em indivíduos que haviam ingerido medicamentos que apresentavam sacarina em sua composição. Como a sacarina apresenta potencial efeito carcinogênico, sua comercialização foi proibida no Canadá e nos Estados Unidos em 1991. Entretanto, a substância voltou a ser comercializada como aditivo alimentar em 2000, após os dados não serem ratificados, uma vez que os trabalhos voltados a carcinogenicidade em modelos animais utilizaram doses muito elevadas, podendo chegar a 2 g/Kg.

Aspartame

O adoçante aspartame foi descoberto em 1965 e é um dipeptídeo composto por dois aminoácidos: fenilalanina e aspartato. Em 1996 foi aprovado pela FDA para uso em alimentos e bebidas. Desde então, ele tem sido utilizado por centenas de milhões de pessoas mundialmente em mais de 6000 produtos, sendo frequentemente encontrado em refrigerantes, doces, alimentos e medicamentos. O aspartame é cerca de 200 vezes mais doce que a sacarose e apresenta 4 kcal/g. Uma vez ingerido, o aspartame é degradado no lúmen intestinal em fenilalanina, aspartato e metanol.

Efeitos nocivos do aspartame

O consumo de aspartame pode apresentar efeitos nocivos ao organismo. Estudos realizados com roedores revelaram o potencial carcinogênico (linfoma, leucemia, tumores do trato urinário e tumores neurológicos) do aspartame em uma dose diária de 20 mg/kg, mesmo sendo a ingestão diária máxima aceitável de 40 mg/kg de peso corporal. Segundo estes mesmos estudos, há também forte associação de aspartame com diabetes tipo 2, parto prematuro, nefrotoxicidade, hepatoxicidade e alterações histopatológicas nas glândulas salivares. Vale ressaltar que a produção de fenilalanina, resultante da degradação de aspartame, pode atingir níveis tóxicos em pessoas portadoras de fenilcetonúria (PKU), doença hereditária causada pela deficiência ou ausência da enzima fenilalanina hidroxilase, necessária para converter fenilalanina em tirosina. Trata-se de um distúrbio caracterizado pelo acúmulo de fenilalanina  no sangue, nos tecidos e na urina, podendo causar deficiência intelectual, convulsões e outros problemas médicos.

Além disso, aspartame pode ser tóxico para o Sistema Nervoso Central (SNC), podendo atingir regiões que afetam significativamente a memória, a aprendizagem e o comportamento do indivíduo, como o córtex cerebral e o córtex cerebelar, causando neurodenegeração e, consequentemente, a Doença de Alzheimer.

Acessulfame de potássio

O  acessulfame de potássio ou acessulfame-K foi descoberto em 1967 e obteve sua aprovação pela FDA em 1988 para ser utilizado em doces, bebidas, gomas de mascar, produtos lácteos e panificação. O poder adoçante de acessulfame-K é 200 vezes maior que a sacarose e apresenta 0 kcal/g. Ele não é metabolizado pelo organismo, entretanto, a ingestão máxima permitida é de 9 a 15 mg/Kg de peso corporal.

Efeitos nocivos do acessulfame-K

O consumo de acessulfame-K pode apresentar efeitos nocivos ao organismo. Testes com roedores em uma dose de 37,5 mg/Kg/dia do adoçante por um período de quatro semanas. Analisando-se os resultados, foi possível observar que eles apresentaram significativo aumento de peso. Além disso, verificou-se que a ingestão de acessulfame-K provocou o aumento de bactérias no intestino dos animais alterando significativamente a composição da microbiota intestinal. Posteriormente, constatou-se que o consumo do adoçante favoreceu a ocorrência de alterações genéticas, isto é, o decréscimo dos genes envolvidos no metabolismo energético.

Sucralose

Em 1976 a sucralose foi descoberta, e em 1998 foi aprovada pela FDA. Em 2008, mais de 80 países aprovaram a sua comercialização como adoçante. É comumente utilizado em sucos naturais, gelatinas, sobremesas à base de laticínios, chás, produtos de panificação, entre outros. A sucralose é 600 vezes mais doce que a sacarose. Ela não é metabolizada ou armazenada pelo organismo como fonte de energia, logo apresenta 0 kcal/g. Então, depois de consumida, ela é rapidamente absorvida pelo trato gastrointestinal, removida pelos rins e excretada na urina.

Efeitos nocivos da sucralose

O produto hidrolisado de sucralose, entra no cérebro através da corrente sanguínea, inibindo o processo de transporte da D-glicose realizado no epitélio. Ela compete com a captação de glicose no cérebro, contribuindo para o aumento da concentração de açúcar no sangue e a diminuição da concentração de D-glicose no cérebro. Como os neurônios dependem de glicose  na corrente sanguínea para atender a demanda energética, a falta deste substrato compromete significativamente o funcionamento cerebral.

Num teste com roedores a fim de verificar a influência da ingestão de sucralose no funcionamento da memória, observou-se uma porcentagem mínima de apoptose celular na área do hipocampo. Neste caso, cerca de 97% da substância é excretada pela urina, não sendo, portanto, metabolizada pelo organismo. A substância não provocou danos neuronais significativos. Em contrapartida, um dos componentes químicos da sucralose, a 6-cloro6-deoxiglicose, ocasionou lesão nos núcleos do tronco cerebral, cerebelo e medula espinhal. Além disso, a sucralose foi capaz de alterar os níveis de ácidos biliares da microbiota intestinal, os quais facilitam a absorção de vitaminas, bem como a homeostase do colesterol.

Ciclamato de sódio

O ciclamato de sódio foi descoberto em 1937 e em 1949 foi aprovado pelo FDA, desde então passou a ser amplamente utilizado na indústria alimentícia em adoçantes e na composição de alimentos light, diet e zero açúcar, bem como na indústria farmacêutica. O adoçante ciclamato de sódio é de 30 a 40 vezes mais doce que a sacarose, sendo ingestão diária máxima aceitável de 11 mg/Kg da substância. Ele, por si só, apresenta baixo nível de toxicidade. Entretanto, ao ser metabolizado pelas bactérias intestinais, forma-se cicloexilamina, aumentando significativamente o nível de toxicidade do adoçante em questão e podendo causar efeitos nocivos à saúde.

Efeitos nocivos do consumo de ciclamato de sódio

O alto consumo de ciclamato de sódio pode provocar efeitos colaterais graves sobre a flora intestinal. Estudos foram realizados com roedores, os quais foram submetidos à ingestão diária de 100 mg de ciclamato de sódio por um período de 4 meses. Houve redução significativa no número de clostridium, uma classe de bactérias presente na flora intestinal. Além disso, foi verificado que a cicloexilamina, formada pelo processo de metabolização de ciclamato de sódio é potencialmente cancerígena e compromete o funcionamento da flora intestinal, podendo ser, portanto, tóxica ao organismo.

Adicionalmente, um estudo com 21 macacos com 24 anos de idade, de origem africana, os que foram submetidos à ingestão de 100 mg/kg e 500 mg/kg de ciclamato de sódio, durante cinco dias por semana. Foi observado tumor maligno no cólon intestinal e carcinoma hepatocelular relacionados com a dose de 500 mg/kg de ciclamato de sódio e adenocarcinoma de próstata, em relação a dose de 100 mg/kg. Tumores benignos também foram relatados na glândula tireoide, bem como leiomioma no útero de fêmeas após ingestão nas doses de 100 e 500 mg/kg da substância. Além disso, anormalidade na produção de espermatozoides foi observada em alguns macacos. Isso indica, portanto, os potenciais efeitos cancerígeno e tóxico da substância.

A obesidade é uma das doenças crônicas de maior ocorrência mundial, devido principalmente a péssimos hábitos alimentares, sedentarismo e/ ou disfunções hormonais. Sendo assim, tem sido incessante a busca pelo consumo de adoçantes dietéticos ou com baixo valor calórico, sejam eles naturais ou sintéticos. Grandes avanços foram alcançados no âmbito da redução do potencial calórico dessas substâncias, embora, é importante ressaltar que isso não significa um ganho direto na saúde ou qualidade de vida. Dessa forma, foram mostrados os efeitos nocivos que essas substâncias podem causar à saúde, tais como doenças neurodegenerativas, doenças cardiovasculares, distúrbios gastrointestinais, entre outros.

Referência Bibliográfica RIBEIRO, T. R.; PIROLLA, N. F. F.; NASCIMENTO-JÚNIOR, N. M. Adoçantes Artificiais e Naturais: Propriedades Químicas e Biológicas, Processos de Produção e Potenciais Efeitos Nocivos. Revista Virtual de Química, v. 12, n. 5, p. 1-41, 20

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Bem estar saúde

Adoçantes naturais

Os adoçantes naturais são opções mais saudáveis para substituição ao açúcar refinado.

Escrito por Isabella Brescia

Há cerca de 11500 anos, a espécie humana passava por uma grande transição que ficaria conhecida como “Revolução Neolítica” ou “Revolução Agrícola”, onde, em diversas regiões, passou-se a cultivar plantas e domesticar animais, o que levou os homens primitivos a armazenarem os alimentos e cozinhá-los, aumentando a importância de alguns condimentos, como por exemplo, o mel, já utilizado pelos hominídeos, ainda que sem qualquer tipo de processamento, como adoçante, juntamente com a polpa de algumas frutas doces, como figos e tâmaras, durante os períodos da Antiguidade Clássica, passando pela Idade Média, quando era usado para preservar carnes e frutas, chegando até a Renascença. Essas substâncias são obtidas por meio de fontes naturais, como plantas ou animais, como o agave, estévia e mel de abelha. O mel ficou conhecido durante muito tempo como único adoçante disponível, até que, com a descoberta de outras fontes naturais, como açúcar de cana-de-açúcar, de beterraba, de milho e mais recentemente, de coco, teve sua utilização diminuída proporcionalmente.

Outro grande concorrente na classe dos adoçantes naturais, é o xarope de milho rico em frutose (HFCS), obtido do amido de milho. Surgiu como um substituto do açúcar na década de 1970, quando esse último passava por um período de alta nos preços e mesmo após isso continuou no mercado, sendo amplamente utilizado na indústria de bebidas, alimentos processados e adoçantes.

Com a crescente preocupação mundial pela melhoria da qualidade de vida, para manter uma boa forma física e valorizando principalmente a saúde, o açúcar passa a dividir espaço com uma quantidade de adoçantes que vem aumentando no mercado. Criado originalmente, com o intuito de alcançar uma pequena parcela da população com restrição de açúcar, os diabéticos, os adoçantes compõem hoje uma parte significativa da alimentação mundial.

Os adoçantes naturais são opções mais saudáveis para substituição ao açúcar refinado e podem conter vitaminas, minerais e antioxidantes importantes para o funcionamento do organismo, como o mel e o açúcar de coco, mas vale ressaltar que esses não são recomendados para diabéticos, alguns possuem baixo índice glicêmico e calórico e auxiliam no controle da diabetes e obesidade.

O açúcar branco, seja refinado ou cristal, passa por um processo de clarificação, o qual visa eliminar qualquer tipo de material corante presente no caldo, bem como diminuição da viscosidade, preservação contra alguns microorganismos e prevenção do amarelamento do açúcar como produto final.

 O açúcar demerara difere do açúcar cristal apenas no processo de clarificação, levando-o a coloração amarronzada ou castanho claro em seus cristais. Com níveis nutricionais elevados, próximos aos do açúcar mascavo, esse açúcar possui nutrientes como cálcio (Ca), fósforo (P), potássio (K), magnésio (Mg), além das vitaminas B e C, preservados devido a um refinamento mais brando e à pequena quantidade de aditivos químicos ao qual é submetido em sua produção.

O açúcar mascavo é um tipo não refinado de açúcar de coloração escura, com aspecto úmido, com um forte sabor de melaço, que não passa por nenhum processo de beneficiamento. Geralmente obtido de forma artesanal, é produzido pela desidratação do caldo de cana e não é sujeitado a técnicas de clarificação do caldo ou à produtos químicos para retirada de impurezas. Apresenta uma pequena porcentagem de umidade e altas taxas de minerais, como potássio (K), magnésio (Mg), ferro (Fe) e cálcio (Ca), além de quantidade traço de vitaminas e vários fitoquímicos originários da cana-de-açúcar, que lhe conferem um elevado valor nutricional e medicinal com inúmeros efeitos para a saúde humana (efeitos anticariogênicos, antitóxicos, citoprotetores e antioxidantes), portanto é mais nutritivo que os açúcares clarificados.

A isomaltulose (ou palatinose) apresenta cerca de 30-40% de doçura relativa à sacarose. Sua produção ocorre a partir do rearranjo enzimático desse açúcar de mesa, podendo substituí-lo adequadamente, devido principalmente às suas propriedades não cariogênicas, além de reduzir a resposta glicêmica pós-prandial, o que o torna uma alternativa bastante viável para diabéticos e pré-diabéticos. Esse edulcorante é completamente hidrolisado em glicose e frutose, e absorvido no intestino delgado, para ser assim metabolizado pelo organismo, mesmo ingerido em altas quantidades. O excedente à necessidade energética é excretado pela urina.

O açúcar do milho é obtido a partir do amido de milho, um polissacarídeo complexo, e é enviado à indústria na forma de maltodextrina, glicose, frutose e xarope de milho. A maltodextrina é utilizada nas indústrias alimentícias, como substituinte da gordura de leite em iogurtes, sorvetes, sobremesas, produtos de panificação como fonte de carboidratos em bebidas isotônicas e nas indústrias farmacêuticas como espessante e surfactante.

O xarope de milho encontrado em refrigerantes, sucos, além de cereais matinais e produtos de panificação, está cada vez mais presente na mesa dos consumidores.  Além disso, existem outras vantagens para sua utilização, como maior solubilidade em soluções aquosas, resistência a cristalização, bem como seu emprego em menor quantidade nos produtos que se destina a adoçar, com significativa redução do valor calórico. Seu consumo excessivo pode apresentar riscos à saúde, principalmente devido à completa absorção e rápida metabolização da frutose no organismo, mais especificamente no fígado. A sobrecarga desse importante órgão estimula a lipogênese, resultando no acúmulo de gorduras nos adipócitos, também contribuindo para a resistência à insulina, ocasionando a intolerância à glicose e posterior desenvolvimento de doenças metabólicas.

O açúcar de coco tem cada vez mais espaço no mercado mundial. Produzido em indústrias de pequeno e médio porte, esse açúcar pode se apresentar na forma cristalizada ou líquida, com coloração marrom, próxima ao açúcar mascavo. Para sua obtenção, após a extração, a seiva do coqueiro é filtrada e transferida para o cozimento, adiciona-se óleo de coco e cloreto de cálcio, depois de algumas horas com agitação ocasional, o caldo se tornará mais grosso e pronto para o resfriamento e posterior cristalização.

O mel além de seu valor nutricional superior e de sua gama de propriedades benéficas, o mel é o único adoçante extraído de fonte animal, produzido pelas abelhas após a coleta de néctar das flores. O néctar é extraído pelas abelhas, através do trajeto da polinização, e já no caminho de volta à colmeia as mudanças se iniciam, causadas pelas enzimas da saliva e do suco gástrico do inseto, resultando em uma mistura de açúcares invertidos e frutose. Largamente utilizado na indústria alimentícia, principalmente como adoçante, o mel também é muito empregado na indústria farmacêutica e na área medicinal, em misturas para tosse, xaropes e expectorantes, assim como no preparo de cremes e loções, além de atuar no plasma sanguíneo melhorando a capacidade antioxidante do organismo, sendo esta última extremamente dependente da fonte floral de onde o néctar foi obtido.

O néctar de agave ou mais comumente conhecido xarope de agave, é um adoçante líquido extraído da seiva da planta Agave tequilana, popularmente conhecida como agave-azul. Em sua composição se pode encontrar xilose, frutose, glicose, sacarose e maltose, além de carboidratos mais complexos, como seu principal polissacarídeo, chamado inulina que é convertida por meio de hidrólise ácida ou enzimática em frutose (concentração igual a 90%). Mesmo apresentando alta concentração de frutose, o agave contém nutrientes antioxidantes, fitoquímicos que podem auxiliar na manutenção da saúde cardiovascular.

A estévia é extraída do arbusto chamado de Stevia reubadiana, nativo do Paraguai, também cultivado na China, Brasil, Europa, Canadá e Japão. Utilizado em licores destilados, confeitos, molho de soja, alimentos para bebês, laticínios e adoçantes de mesa. A produção de estévia ocorre por meio de extração, no qual se retira compostos glicosilados presentes na planta, como esteviol, esteviosídeo

(presente em maior quantidade) e o rebaudiosídeo (presente em menor teor – com maior poder edulcorante), que podem ser de 200 a 300 vezes mais doce do que a sacarose, de acordo com análise sensorial. Além de ser livre de calorias, esse edulcorante natural amplamente utilizado, tem apresentado efeitos benéficos na regulação dos níveis séricos de glicose e insulina, sendo utilizada em vários países pelo mundo para o controle natural do diabetes. Destaca-se também por, após a ingestão, seus metabólitos serem completamente eliminados pela urina, não sendo armazenados.

Açúcares de polióis

Também conhecidos como álcoois polihídricos, os polióis são compostos obtidos através da hidrogenação de seus respectivos açúcares. Alguns exemplos dessa classe e seus precursores são, respectivamente: xilitol e xilose, sorbitol e glicose, eritritol e eritritose, isomaltitol e isomaltulose, maltitol e maltose, assim como lactitol e lactose. Geralmente, eles não diferem muito entre si quanto ao processo de obtenção e a forma de absorção pelo organismo. São considerados adoçantes naturais dietéticos, podendo em alguns casos serem ingeridos por diabéticos, sem limitações quanto à quantidade. Porém, em grandes quantidades, a absorção dos polióis é diminuida, pois não seriam completamente digeridos, sendo fermentados no intestino grosso, mais especificamente no cólon. Neste caso, os efeitos adversos são comumente observados no final do sistema digestório, tais como diarreia, flatulência e frequentes ruídos intestinais.

O xilitol é empregado em produtos alimentícios como adoçante, sendo explorado, principalmente devido à sua característica de prevenir a formação de cáries dentárias, por não ser metabolizado pelas bactérias causadoras dessa doença bucal. Pertencente a classe dos polióis, esse açúcar de álcool, pode ser encontrado em pequenas quantidades em frutas, vegetais e cogumelos, além de ser gerado como um intermediário durante o metabolismo de glicose no organismo. Quimicamente sua obtenção se dá por meio da hidrogenação catalítica de xilose, conhecido como açúcar da madeira.

Xilitol pode ser metabolizado por duas vias: direta e indireta, sendo a primeira majoritariamente absorvida pelo fígado, e a segunda pela microbiota intestinal, através de degradação fermentativa, metabolizando a porção não absorvida pela via direta, além de ter absorção incompleta, podendo ser baixa e lenta. Mesmo possuindo poder adoçante semelhante à sacarose e estando presente em dietas baseadas em baixo valor de carboidratos, seus efeitos adversos são sintomas gastrointestinais, que incluem diarreia, acúmulo de gases, dor e desconforto abdominal, em alguns casos causados pela ingestão de altas doses, devido, principalmente à baixa absorção.

Com mais de 60 anos no mercado, além de edulcorante, atualmente o sorbitol é utilizado nas indústrias alimentícia e farmacêutica, principalmente por ser um ótimo conservante e aditivo que afere melhor sabor ao produto que se destina. É obtido por meio da hidrogenação catalítica  de glicose, da sacarose e também do amido, sendo a glicose amplamente empregada devido ao seu baixo custo e sua elevada disponibilidade comercial. Esse adoçante apresenta porcentagem de doçura relativa a sacarose entre 50 e 70%. Quando sorbitol ingerido em altas quantidades pode levar a dor abdominal, danos aos rins, aos tecidos nervosos e a retina.

Os açúcares de álcoois são produzidos majoritariamente pela hidrogenação catalítica de dissacarídeos e monossacarídeos, com exceção de eritritol.  Além de possuir menor valor calórico, difere dos demais constituintes desse grupo quanto a sua maior tolerância digestiva, podendo ser empregado em diversos ramos, como adoçante de baixa caloria na forma de pó ou em bebidas e em pastilhas mastigáveis, na indústria alimentícia, podendo também ser utilizado como hidratante na indústria de comésticos. Mesmo derivando de um monossacarídeo, como eritritose, seu processo de obtenção ocorre através de fermentação, utilizando microorganismos como: Aspergillus niger e Penicillium herquei, assim como Moniliella magachiliensis, Candida magnoliae e Yarrowia lipolytica. Com doçura entre 60 a 80% em relação à sacarose,esse poliol é prontamente absorvido pelo intestino delgado (cerca de 90% do total ingerido por via oral) e excretado pela urina sem qualquer degradação. A porção restante é fermentada pelas bactérias intestinais, o que lhe confere um valor energético nulo, uma vez que não é metabolizado pelo organismo.

Referência Bibliográfica RIBEIRO, T. R.; PIROLLA, N. F. F.; NASCIMENTO-JÚNIOR, N. M. Adoçantes Artificiais e Naturais: Propriedades Químicas e Biológicas, Processos de Produção e Potenciais Efeitos Nocivos. Revista Virtual de Química, v. 12, n. 5, p. 1-41, 2020.

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Lactobacillus reuteri

Por Isabella Brescia

Os probióticos são definidos como “microrganismos vivos que, quando administrados em quantidades adequadas, conferem um benefício à saúde do hospedeiro” pela Organização Mundial da Saúde. Embora a ideia de usar probióticos para benefícios à saúde não seja nova, o interesse aumentou significativamente nos últimos anos, devido, em parte, ao aumento da resistência a antibióticos, particularmente no tratamento de doenças do sistema gastrointestinal (GI), e um desejo crescente do público por promotores naturais de saúde. Os microrganismos probióticos que demonstraram possuir propriedades benéficas incluem Lactobacillus spp., Bifidobacterium spp., Saccharomyces boulardii, Propionibacterium spp., Streptococcus spp., Bacillus spp., Enterococcus spp. , e algumas cepas específicas de Escherichia coli.

Existem certos critérios que um probiótico deve ter para ser considerado eficaz. Estes incluem a capacidade de sobreviver no trato GI, uma alta resistência aos ácidos gástricos, a falta de quaisquer genes de resistência a antibióticos transferíveis e a capacidade de exercer benefícios claros no hospedeiro. Os probióticos são benéficos ao corpo humano através de diversos mecanismos que incluem resistência à colonização, produção de ácidos graxos de cadeia curta (AGCC), regulação do trânsito intestinal, normalização da microbiota, aumento da renovação de enterócitos e exclusão competitiva de patógenos. Embora não seja amplamente observado, existem muitos efeitos entre espécies probióticas específicas. Por exemplo, algumas cepas probióticas podem melhorar a digestão dos alimentos do hospedeiro metabolizando o sal biliar ou complementando as funções das enzimas digestivas.

Lactobacillus spp. são um dos probióticos mais utilizados e podem ser encontrados em uma grande variedade de produtos alimentícios pois desempenha um papel importante na fermentação de alimentos e no sistema GI de humanos e animais em quantidades variáveis, dependendo da espécie, idade do hospedeiro ou localização no intestino.

Estudos em animais e resultados pré-clínicos mostraram que os lactobacilos podem ajudar na prevenção e tratamento de vários distúrbios do trato GI. Entre esses distúrbios estão infecções entéricas, diarreia associada a antibióticos, enterocolite necrosante em recém-nascidos prematuros, doença inflamatória intestinal, câncer colorretal e síndrome do intestino irritável. Embora o trato GI seja o local onde acredita-se que os Lactobacillus mostrem mais benefícios, foram relatadas aplicações probióticas de algumas cepas de Lactobacillus em outros locais do corpo. Estes incluem a prevenção e tratamento de doenças urogenitais e vaginose bacteriana em mulheres, doença atópica, hipersensibilidade alimentar e prevenção de cárie dentária.

Lactobacillus reuteri ( L. reuteri ) é uma bactéria probiótica bem estudada que pode colonizar um grande número de mamíferos. Em humanos, a L. reuteri é encontrada em diferentes locais do corpo, incluindo o trato gastrointestinal, trato urinário, pele e leite materno. A abundância de L. reuteri varia entre diferentes indivíduos. Vários efeitos benéficos de L. reuteri foram observados desde sua descoberta em 1962.

O L. reuteri pode produzir moléculas antimicrobianas, como ácidos orgânicos (ácido lático e acético), etanol e reuterina (capaz de inibir uma ampla gama de microrganismos, principalmente bactérias Gram-negativas). Devido à sua atividade antimicrobiana, é capaz de inibir a colonização de microorganismos patogênicos e remodelar a composição da microbiota comensal no hospedeiro.  Com a síntese dessas substâncias, L. reuteri demonstrou ser eficaz contra uma variedade de infecções bacterianas gastrointestinais. Essas infecções incluem Helicobacter pylori, E. coli, Clostridium difficile e Salmonella. Uma das ilustrações mais notáveis ​​da eficácia de L. reuteri como probiótico contra infecções é o uso de L. reuteri para tratar H. pyloriA infecção por H. pylori é uma das principais causas de gastrite crônica e úlceras pépticas, bem como um fator de risco para malignidades gástricas.

Existem 13 vitaminas essenciais para os seres humanos devido à incapacidade do corpo humano de sintetizá-las. Como muitos outros Lactobacillus spp., várias cepas de L. reuteri são capazes de produzir diferentes tipos de vitaminas, incluindo vitamina B12 (cobalamina) e B9 (folato).

L. reuteri também pode beneficiar o sistema imunológico do hospedeiro, reduzindo a produção de citocinas pró-inflamatórias enquanto promovem o desenvolvimento e a função de células T reguladoras. 

As barreiras físicas, bioquímicas e imunológicas compreendem a função de barreira intestinal, necessária para bloquear a entrada de antígenos e toxinas exteriores. Se ocorrer alguma anormalidade na barreira intestinal, a permeabilidade pode aumentar, resultando em um intestino permeável. Vários probióticos são conhecidos por suas habilidades de melhorar a função de barreira da mucosa, dos quais L. reuteri é um exemplo bem conhecido. Tendo a capacidade de fortalecer a barreira intestinal, a colonização de L. reuteri pode diminuir a translocação bacteriana do lúmen intestinal para os tecidos. A translocação através do epitélio intestinal pode ser um iniciador da inflamação. Portanto, doenças inflamatórias, incluindo aquelas localizadas no intestino, bem como em outros tecidos, podem ser melhoradas aumentando a colonização de L. reuteri . 

Houve uma diminuição na abundância de L. reuteri em humanos nas últimas décadas provavelmente causada pelo estilo de vida moderno (uso de antibióticos, dieta ocidental, higiene melhorada). Tal diminuição coincide com maiores incidências de doenças inflamatórias. Embora faltem evidências para estabelecer a correlação, pode ser útil aumentar a colonização de L. reuteri e/ou facilitar suas funções probióticas como uma estratégia nova e relativamente segura contra doenças inflamatórias. Além disso, por meio de regulação direta ou modulação indireta via microbiota do hospedeiro, L. reuteri desempenha um papel importante na eliminação de infecções e na atenuação de doenças gastrointestinais. A segurança e tolerância de L. reuteri foi comprovado por numerosos estudos clínicos. 

Referência Bibliográfica

MU, Qinghui; TAVELLA, Vicente J.; LUO, Xin M. Papel do Lactobacillus reuteri na saúde e doenças humanas. Frontiers in microbiology , v. 9, p. 757, 2018.

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CAFEÍNA E SUA AÇÃO ERGOGÊNICA

Por Isabella Brescia

A utilização de suplementos nutricionais como recursos ergogênicos tem sido empregada por meio de manipulações dietéticas capazes de retardar o aparecimento da fadiga e aumentar o poder contrátil do músculo esquelético e/ou cardíaco, aprimorando, portanto, a capacidade de realizar trabalho físico, ou seja, o desempenho atlético. Os principais efeitos desejáveis obtidos com o uso de tais suplementos incluem aumento das reservas energéticas, aumento da mobilização de substratos para os músculos ativos durante os exercícios físicos, aumento do anabolismo proteico, diminuição da percepção subjetiva de esforço e reposição hidroeletrolítica adequada. Nesse sentido, a cafeína tem sido utilizada com grande frequência, de forma aguda, previamente à realização de exercícios físicos, com o intuito de protelar a fadiga e consequentemente aprimorar o desempenho físico, principalmente em atividades de longa duração.

A cafeína é uma substância rapidamente absorvida pelo intestino, atingindo sua concentração máxima na corrente sanguínea entre 15 e 120 minutos após a sua ingestão. Sua ação pode atingir todos os tecidos, pois o seu carreamento é feito via corrente sanguínea, sendo posteriormente degradada pelo fígado e excretada pela urina na forma de coprodutos. Ela acelera os batimentos cardíacos, estimula o cérebro, aumenta o fluxo urinário, a produção de ácidos digestivos, relaxa os músculos lisos e os que controlam os vasos sanguíneos e as vias respiratórias.

Apesar de apenas uma pequena quantidade de cafeína ser excretada (0,5 a 3%), sem alteração na sua constituição química, sua detecção na urina é relativamente fácil. Vale ressaltar que alguns fatores como a genética, a dieta, o uso de algumas drogas, o sexo, o peso corporal, o estado de hidratação, a prática de exercícios físicos, podem afetar o metabolismo da cafeína e, consequentemente, influenciar na quantidade de cafeína total excretada pela urina.

A cafeína tem sido considerada um ergogênico nutricional por estar presente em vários produtos consumidos diariamente, como o café, refrigerantes, chás e chocolates, embora não apresente qualquer valor nutricional, sendo classificada como uma droga com efeitos farmacológicos de ação estimulante presente também em alguns medicamentos.

Quando utilizada dentro dos limites de 3 a 6 mg por quilograma de peso corporal, a cafeína vem a ser uma substância efetiva para a melhora do desempenho físico, podendo ou não ser utilizada por um tempo contínuo, dependendo da gama de fatores que influenciam o usuário como o tipo de exercício físico utilizado, o estado nutricional, o estado de aptidão física individual, além da tolerância à cafeína. Com base nos estudos mais recentes, nota-se a melhora no desempenho físico em atividades de longa duração e baixa intensidade, bem como nas de curta duração e alta intensidade. Com relação à força muscular, estudos recentes têm apontado um aumento da força muscular acompanhado de uma maior resistência à instalação do processo de fadiga muscular após a ingestão de cafeína.

Baixas doses de cafeína estão associadas a poucos ou nenhum efeito colateral. A ingestão de 3 mg/kg  de  cafeína produziu  efeitos  colaterais durante  as horas  seguintes  à  ingestão, principalmente relacionadas a distúrbios do sono. A administração de cafeína no final da tarde (17:00 horas) levou a interrupções significativas, incluindo uma maior dificuldade em adormecer  (início  prolongado  do  sono),  diminuição  da  proporção  de  tempo  gasto  adormecido (eficiência  do  sono  reduzida),  bem  como  menor  tempo  total  de  sono  e  sono  REM  (rapid  eyes movement). Esses resultados podem ser prejudiciais à recuperação e adaptação de treinamento para atletas, especialmente durante torneios onde o uso de cafeína pode abranger vários dias consecutivos. Além dos distúrbios do sono doses excessivas de cafeína podem provocar ansiedade, irritação, aceleração dos batimentos cardíacos, tremores e aumento da frequência urinária.

Referência Bibliográfica

ARAÚJO, Sávio Nogueira de et al. Efeitos da cafeína como recurso ergogênico na atividade física: uma revisão. 2019.

PEREIRA, Sandra Mariano de Andrade et al. Cafeína: ergogênico nutricional no esporte. 2021.

RODRIGUES, Antonio Yony Felipe et al. Efeitos da cafeína na atividade física: uma revisão sistemática com metanálise. Brazilian Journal of Development, v. 6, n. 11, p. 91046-91069, 2020.

SANTOS, Matheus Vasconcelos; SALOMON, Ana Lúcia Ribeiro. Suplementação de cafeína: benefícios do efeito ergogênico no treinamento por praticantes de atividade física de alta e baixa intensidade.

SILVA, Michel Santos. Os efeitos da cafeína relacionados à atividade física: uma revisão. Revista Digital, v. 9, n. 66, p. 1, 2003.