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O triptofano e o sono

Triptofano é um aliado para o tratamento das desordens do sono.

Escrito por Isabella Brescia

O sono é um processo biológico que apresenta alternância com períodos de vigília, modulado por hormônios e funções neuronais, tais como mecanismos fisiológicos que modificam a temperatura corporal, produção de hormônios e função cardíaca, levando a um estado neurológico restaurador essencial ao crescimento aprendizado/memória e funcionamento do organismo. Anormalidades no sono podem acarretar má qualidade de vida e a longo prazo em hipertensão, diabetes, obesidade, depressão, ataque cardíaco e acidente vascular cerebral.

Vários produtos farmacológicos são usados para melhorar os sintomas da sonolência ou do sono pobre em duração e qualidade. O uso de ansiolíticos e hipnóticos tem aumentado muito na última década, entretanto, o uso por longo período não é recomendado, principalmente em idosos, devido ao risco de desenvolvimento de dependência e de outros efeitos adversos, que podem manifestar-se por sonolência, vertigem, cansaço, confusão mental, cefaleia, ansiedade, letargia, ataxia, hipotensão postural, amnésia retrógrada, acidentes, tolerância, dependência e aumento na frequência de quedas.

Acredita-se que um aliado para o tratamento das desordens do sono seja o triptofano (TRP), que por sua vez, é um aminoácido precursor da melatonina e serotonina. O TRP e alguns dos seus produtos metabólicos, como serotonina e melatonina, participam da regulação do humor, do sono e dos ritmos circadianos e são usados para tratar insônia e apnéia do sono.

O consumo de alimentos como leite, frutas frescas, vegetais, grãos integrais, fontes de proteínas com baixo teor de gordura, vitaminas do complexo B, minerais e carboidratos não refinados têm sido relacionados à qualidade do sono. Entre esses alimentos, aqueles que afetam a disponibilidade de triptofano e a síntese de serotonina e melatonina podem interferir no ciclo sono-vigília. 

Quando a concentração de triptofano na corrente sanguínea aumenta, sua passagem pela barreira hematoencefálica é facilitada e, no cérebro, esse aminoácido é metabolizado seguindo duas vias principais: a via da quinurenina e a via do 5-hidroxitriptofano. A enzima triptofano-2,3-dioxigenase (TDO) catalisa o primeiro passo da via da quinurenina, onde o triptofano é convertido em niacina (vitamina B3). A niacina, por sua vez, suprime a atividade da TDO, priorizando o caminho da formação do 5-hidroxitriptofano. Nesse caminho, o triptofano é convertido em serotonina, que, por meio de um processo enzimático dependente de ácidos graxos, é convertida em melatonina na glândula pineal.

A secreção da melatonina ocorre exclusivamente à noite, iniciando-se cerca de 2 horas antes do horário habitual de dormir atingindo níveis plasmáticos máximos entre 03:00 e 04:00 horas, variando de acordo com o cronotipo (ciclo fisiológico de 24 horas) do indivíduo.

Entre as várias ações da melatonina já comprovadas, se destacam: imunomodulatória (agindo sobre linfócitos, citocinas, entre outros), antiinflamatória (inibindo prostaglandinas e regulando a COX-2), antitumoral (inibindo mitoses e suprimindo a recaptação do ácido linoléico, regulando assim receptores de estrogênio), antioxidante (regulando pró-oxidantes envolvidos na síntese do óxido nítrico e lipoxigenases), e cronobiológica (regulando os ritmos biológicos).

As condições do indivíduo (temperatura, sonolência) e do ambiente (luzes acesas, postura durante o sono) no momento da administração da melatonina parecem ser importantes e influenciam a eficácia, independentemente da dose. Administração de 2 mg às 17:00 horas sem qualquer controle da luz do ambiente ou da postura do paciente provoca sonolência somente após cerca de 3 a 4 horas, enquanto pequenas doses (0,1 a 10 mg) administradas a indivíduos em deitados e sob luz fraca induzem o sono rapidamente. Posteriormente, evidenciou-se que tais resultados diferiam devido à postura, pois o decúbito facilita a sonolência.

Para análise da eficácia de drogas sobre o sono, são avaliados os seguintes critérios: latência para o início do sono; eficiência do sono; duração total do sono; sentimento de sono restaurador; melhora da funcionalidade no período diurno. Considerando os três primeiros critérios (por serem objetivos) observamos os efeitos benéficos do triptofano e da melatonina com poucos ou nenhum efeito adverso relatado, mas com garantia de boa qualidade do sono. Assim, a suplementação com triptofano ou melatonina pode representar uma excelente alternativa terapêutica no tratamento da insônia no sentido de promover ao paciente a redução dos efeitos adversos e a eficácia terapêutica almejada, contribuindo com o uso racional de medicamentos hipnóticos.

Referências Bibliográficas

DE ANDRADE, Eduarda Aparecida Franco et al. L-Triptofano, ômega 3, magnésio e vitaminas do complexo B na diminuição dos sintomas de ansiedade. Id on Line Revista de Psicologia, v. 12, n. 40, p. 1129-1138, 2018.

GONÇALVES, Laura Faustino; HAAS, Patrícia. Impacto da alimentação associada ao hábito do sono: uma revisão sistemática. Research, Society and Development, v. 9, n. 11, p. e57791110238-e57791110238, 2020.

LIMA, Leonardo da Silva; SILVA, Carla Pequeno da. Triptofano no sono: uma revisão sistemática baseada no método PRISMA. Id on Line Rev.Mult. Psic., 2018, vol.12, n.42, Supl. 1, p. 397-407. ISSN: 1981-1179.

MARINS, Lais et al. Dieta rica em triptofano pode influenciar a qualidade do sono em diferentes fases da vida. DEMETRA: Alimentação, Nutrição & Saúde, v. 15, p. 44327, 2020. SILVA, Daiany Bordini da et al. Benefícios do uso da melatonina no tratamento da insônia e qualidade do sono. CuidArte, Enferm, p. 75-80, 2020.

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Vitamina D

A vitamina D pode vir de fontes alimentares ou através da exposição À luz solar.

Escrito por Isabella Brescia

O papel da vitamina D na regulação do metabolismo fósforo – cálcio, assegurando, entre outras funções, uma mineralização óssea normal, é há muito conhecido. Evidências recentes correlacionam níveis insuficientes de vitamina D com um risco aumentado de desenvolvimento de outras patologias não ósseas: doenças cardiovasculares, hipertensão, neoplasias, diabetes, esclerose múltipla, demência, artrite reumatoide, doenças infeciosas. Os diferentes efeitos da vitamina D são mediados por vários receptores em diferentes órgãos além dos ossos e intestino, como cérebro, próstata, mama, células do sistema imunitário, do músculo liso vascular e em miócitos cardíacos, que regulam mais de 200 genes. Valores plasmáticos suficientes de vitamina D são, portanto, fundamentais para manter uma boa saúde em geral.

A vitamina pode ser sintetizada na pele a partir da exposição à luz solar (radiação ultravioleta na faixa de 290-315  nm) ou vir de fontes alimentares (entre 100-200  UI por dia)  como peixes de águas geladas, gema de ovo, laticínios e cogumelos.

A síntese de vitamina D através da pele é bastante variável, dependendo da pigmentação, latitude, estação do ano, vestuário, idade, uso de protetor solar e condições meteorológicas locais. Os níveis de vitamina D são consideravelmente mais baixos na raça negra do que na raça branca, devido à maior pigmentação da pele. Nas latitudes nórdicas, estes níveis nivelados cerca de 20% desde o final do verão até a ocorrência do inverno, no entanto, 30 minutos de exposição corporal ao sol durante o verão rapidamente originam vitamina D suficiente.

Os níveis de vitamina D podem ainda variar de acordo com fatores hormonais, genéticos e nutricionais. Por exemplo, o Índice de Massa Corporal (IMC) correlaciona-se de forma indireta com os valores séricos de vitamina D, que são menores em obesos. Esta diferença pode ser parcialmente explicada pela diminuição da atividade física e exposição solar em obesos.

Como discutido anteriormente, a deficiência de vitamina D não é somente um fator para doenças ósseas como raquitismo, osteomalácia e osteoporose, mas também pode ter participação no desenvolvimento de doenças malignas, inflamatórias e autoimunes. Adequada concentração sérica desta vitamina é muito importante para todos os estágios de vida, desde o desenvolvimento fetal até a senescência. É consenso que o nível sérico da 25-OHD3 é o melhor indicador de suficiência de vitamina D. Os níveis séricos tidos como adequados ou não ainda são muito discutidos na literatura. Bischoff-Ferrari e col., em 2006, avaliaram qual seria a concentração sérica ótima da 25- OHD3 para resultados não esqueléticos de significante importância para a saúde pública, incluindo função das extremidades baixas, quedas, saúde dental e prevenção de câncer colorretal durante a vida adulta. Os autores concluíram que a concentração sérica que traria maiores benefícios seria aquela em torno de 75 nmol/l (30ng/ml), mas que melhor ainda seria entre 90 e 100 nmol/l 36-40 ng/ml).

A vitamina D usada para fins de suplementação ocorre em 2 formas principais: o colecalciferol (vitamina D3, a forma animal natural) e o ergocalciferol (vitamina D2, derivado das plantas). Estudos sugerem que estas 2 vitaminas são equivalentes; ambas aumentam os níveis séricos de 25(OH)D de forma semelhante, sugerindo uma absorção equivalente. Foi demonstrado, no entanto, que, apesar dos aumentos dos níveis séricos de 25(OH)D serem semelhantes após 3 dias nos doentes tratados com vitamina D3, os níveis séricos de 25(OH)D continuam a aumentar atingindo valores máximos após 14 dias. Nos doentes tratados com vitamina D2 os níveis séricos de 25(OH)D caem rapidamente; ao 14.° dia estes valores são idênticos aos observados antes do tratamento.

Sugere-se que todos os adultos com défice de vitamina D sejam tratados com 50.000 IU de vitamina D3, uma vez por semana, durante 8 semanas, ou o seu equivalente de 6.000 IU/dia de vitamina D3, para atingir um nível sérico de 25(OH)D acima de 30 ng/ml, seguida de terapêutica de manutenção com 1.500-2.000 IU/dia.

Em doentes obesos, doentes com síndromes de mal absorção e doentes sob medicação que afeta o metabolismo da vitamina D, sugere-se uma dose mais elevada (2-3 vezes maior; no mínimo 6.000-10.000 IU/dia) de vitamina D para corrigir o défice de vitamina D e manter um nível sérico de 25(OH)D acima de 30 ng/ml, seguida de terapêutica de manutenção com 3.000-6.000 IU/dia.

Segundo dados da Food and Nutrition Board da National Academy of Sciences dos EUA não foi observado toxicidade com o uso continuado da vitamina D3 em doses até 10.000  UI / dia, numa população adulta saudável. Também o uso de doses elevadas (100.000  UI de vitamina D3, de 4 em 4 meses) se revelou seguro numa população adulta e saudável com idade superior a 65 anos.

Casos de intoxicação por vitamina D são muito raros. Podem ocorrer devido a superdosagens em decorrência de erros na formulação de medicamentos, suplementos e alimentos fortificados, quando a vitamina D é adicionada em quantidade excessiva, ou devido ao abuso da ingestão de suplementos. Longa exposição ao sol e excessiva ingestão de alimentos naturalmente ricos em vitamina D não causam intoxicação dessa vitamina. A intoxicação de vitamina D pode levar à hipercalcemia e/ou hipercalciúria e hiperfosfatemia, resultando em perda óssea, litíase renal e calcificação de vasos sanguíneos e rins, se não for tratada por um longo período. Os sintomas da toxicidade incluem perda de apetite, náuseas, vômito, constipação, poliúria, polidipsia, desorientação, perda de peso e, em alguns casos, pode causar  insuficiência renal.

Referências Bibliográficas

ALVES Márcia; BASTOS Margarida; LEITÃO Fátima; MARQUES Gilberto; RIBEIRO Graça; CARRILHO Francisco. Vitamina D–importância da avaliação laboratorial. Revista Portuguesa de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo, Volume 8, Issue 1, 2013, Pages 32-39, ISSN 1646-3439, https://doi.org/10.1016/j.rpedm.2012.12.001. (https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1646343913000084)

PLUDOWSKI P; HOLICK MF; PILZ S; WAGNER CL; HOLLIS BW; GRANT WB et al. Vitamin D effects on musculoskeletal health, immunity, autoimmunity, cardiovascular disease, cancer, fertility, pregnancy, dementia and mortality-A review of recent evidence. Autoimmun Rev 2013;28: doi: 10.1016/j. autrev.2013.02.004.

HOLICK MF; BINKLEY NC; BISCHOFF-FERRARI HA; GORDON CM; HANLEY DA; HEANEY RP et al. Evaluation, treatment, and prevention of vitamin D deficiency: an Endocrine Society clinical practice guideline. J Clin Endocrinol Metab 2011;96(7):1911-30.

BISCHOFF-FERRARI HA, GIOVANNUCCI E, WILLETT WC, DIETRICH T, DAWSON-HUGHES B. Estimation of optimal serum concentrations of 25-hydroxyvitamin D for multiple health outcomes. Am J Clin Nutr 2006;84(1):18- 28.

ROMAGNOLI E; MASCIA ML; CIPRIANI C; FASSINO V;  MAZZEI F;  D’ERASMO E; et al. Short and long-term variations in serum calciotropic hormones after a single very large dose of ergocalciferol (vitamin D2) or cholecalciferol (vitamin D3) in the elderly. J Clin Endocrinol Metab, 93 (2008), pp. 3015-3020 ARMAS LA; HOLLIS BW; HEANEY RP. Vitamin D2 is much less effective than vitamin D3 in humans. J Clin Endocrinol Metab, 89 (2004), pp. 5387-5391

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O papel da Vitamina C

A vitamina C é vital para o processo de cura do corpo.

Escrito por Isabella Brescia

As vitaminas são substâncias orgânicas de pequeno peso molecular, que agem em pequenas doses, sem qualquer valor energético intrínseco; devem ser fornecidas ao organismo que é incapaz de assegurar sua biossíntese, a fim de promover o funcionamento adequado do organismo.

A descoberta do ácido ascórbico (Vitamina C) foi originada dos estudos realizados para detectar a substância existente nas frutas e verduras, que impedia a proliferação do escorbuto entre os marinheiros em longas viagens. Durante as aventuras transoceânicas, os homens do mar alimentavam-se de carne de charque bovina ou de porco, com pão e rum. Não havia em sua dieta frutas e verduras. Dentro deste contexto surgia o escorbuto comprometendo as articulações e provocando inflamações das gengivas, perdas dos dentes e hemorragias causadas pelo rompimento das paredes dos vasos sanguíneos, o sistema imunológico deteriorava-se e o indivíduo morria.

A absorção do ácido ascórbico ocorre no jejuno e no íleo, que são porções distais do intestino delgado, sendo para isto necessária a presença de sódio na luz intestinal. A capacidade que o intestino tem de absorver o ácido ascórbico é de aproximadamente 1 200 mg/24h. Quando o suprimento em ácido ascórbico aumenta muito, a absorção diminui, passando de 49,5% para uma dose oral igual a 1,5 g, a 16,1% para dose igual a 12 g.

O ácido ascórbico distribui-se amplamente em todos os tecidos do organismo. Alguns tecidos, como a glândula supra-renal, a hipófise e a retina, são ricos em ácido ascórbico (1 a 2 mg/g); outros como o fígado, os pulmões, o pâncreas e os leucócitos têm teores médios (0,1 a 1 mg/g). Ainda outros, como os rins, os músculos e os eritrócitos, têm pequenos teores de ácido ascórbico. As reservas corporais totais variam no homem de aproximadamente zero a 3 000 mg; um estoque de 3 000 mg só pode ser mantido com elevados níveis de ingestão, ou seja maiores que 1 g/dia.

A vitamina C participa na hidroxilação da prolina para formar hidroxiprolina na síntese do colágeno e para a integridade do tecido conjuntivo, das cartilagens, da matriz óssea, da dentina, da pele e dos tendões. Está também envolvida na cicatrização, fraturas, contusões, hemorragias puntiformes e sangramentos gengivais. Também reduz a suscetibilidade às infecções (Jacob, 1988). O ácido ascórbico acelera a absorção intestinal dos íons de ferro e sua mobilização, mesmo na presença de fatores inibidores (fitatos, polifenóis, fosfatos, carbonatos e taninos), e influenciando sua distribuição dentro do organismo. Tem sido demonstrado experimentalmente que a vitamina C pode inibir a síntese de Desoxyribonucleic Acid (DNA) e Ribonucleic Acid (RNA) de tumores e reduzir a produção de vírus por interferir na interação célula/vírus. No aspecto clínico, parece desenvolver um papel protetor durante a resposta imune, e a hipótese de que ela pode evitar algumas doenças virais (resfriado) e outras doenças infecciosas têm sido discutida. Outros pesquisadores têm relatado ainda que a vitamina C pode contribuir para alguma melhoria imunológica em pessoas infectadas com HIV.

Vários autores evidenciaram uma diminuição dos teores circulantes de vitaminas com a idade. Assim, é normal observarem teores séricos de ácido ascórbico muito baixos em pessoas idosas, sem manifestação clínica. Essa diminuição da ascorbemia foi observada em idosos institucionalizados, apesar da ingestão de vitamina C, parecer satisfatória.

As recomendações dietéticas baseadas na idade podem ser falhas. Assim uma alternativa seria a especificação segundo os indivíduos das recomendações para cada nutriente, incluindo para tal fatores como: idade, sexo, doença, uso de drogas, estado bioquímico e nutricional e atividade física.

Efeitos de uma hipervitaminose C têm sido relatados. O mais notável é a diarréia, provavelmente determinada pelo carreamento de grande quantidade de água para o interior do intestino. Podem acontecer ainda, náuseas, vômitos, um aumento da absorção do ferro e um problema potencial do rim e da bexiga, em razão do aumento de suas excreções, porque o ácido ascórbico é parcialmente convertido em ácido oxálico, podendo com isso induzir à litíase oxálica. Deste modo, os pesquisadores recomendam limitar a ingestão a 2g de ácido ascórbico por dia para pessoas com propensão a formar pedras nos rins.

Quanto a sua carência, os primeiros sinais de hipovitaminose C podem iniciar-se durante o primeiro mês de privação, dependendo da taxa de catabolismo. A deficiência grave surge após os níveis séricos terem caído abaixo de 0,2 mg por 100 ml. Na hipovitaminose C, o paciente apresenta anemia, astenia, dificuldade na cicatrização de feridas, baixa resistência às infeções, queratose folicular, levando a hemorragias perifoliculares com equimoses nas zonas de pressão ou irritação. A pele dos membros inferiores apresenta um aspecto que lembra as nervuras da superfície da madeira, que evolui para ulceração cutânea. Hemorragias gengivais, gengivite hiperplásica também estão presentes.

Atualmente, novas visões sobre as funções das vitaminas e seus efeitos sobre a saúde têm sido evidenciadas. Alguns pesquisadores têm sugerido que a suplementação de vitamina pode servir para promover respostas imune, para evitar câncer, doença cardíaca e para retardar a formação de catarata.

Em 2007, no Centro de Pesquisa de Diabetes Yazd, no Irã, foi realizado um estudo que avaliou o efeito de diferentes doses de vitamina C sobre os níveis de glicemia em jejum, triglicerídeos, colesterol total,  lipoproteína  de  baixa  e  alta  densidade,  hemoglobina  glicada  e  insulina  sérica  antes  e  após  o  consumo desta vitamina. Um total de 84 pacientes, homens e mulheres, com diabetes tipo 2, receberam aleatoriamente 500 mg ou  1.000  mg  diários  de  vitamina  C  durante  seis  semanas.  Foi observada uma  diminuição  significativa  na  glicemia,  nos  triglicerídeos,  nas  lipoproteínas  de  baixa  densidade,  na  hemoglobina  glicada  e  na  insulina  sérica  no  grupo  suplementado  com  1.000  mg  de  vitamina  C.  No entanto,  a  dose  de  500  mg  não  produziu  qualquer  alteração  significativa  em  qualquer  dos  parâmetros  estudados. Os resultados indicaram que o consumo diário de 1.000 mg de vitamina C pode ser benéfico para a diminuição da glicose no sangue e lipídios em pacientes com diabetes tipo 2 e assim reduzir o risco de complicações.

De acordo com Bendich & Langseth (1995), a partir de uma revisão da literatura, populações que consomem a longo prazo níveis de vitamina C maiores que os recomendados seja na alimentação e/ou em suplementos, têm reduzido os riscos de vários tipos de cânceres, doenças cardiovasculares e catarata. O ácido ascórbico é o antioxidante mais eficaz no sangue humano e pode ser importante na proteção como oxidante em doenças relatadas de estresse e degeneração.

As principais fontes de ácido ascórbico são: camu-camu, acerola, caju, goiaba, manga, mamão, morango, laranja, limão, tangerina, tomate, folhas e vegetais crus.

Referências bibliográficas

ARANHA, Flávia Queiroga et al. O papel da vitamina C sobre as alterações orgânicas no idoso. Revista de Nutrição [online]. 2000, v. 13, n. 2 [Acessado 27 Outubro 2021] , pp. 89-97.

AFKHAMI-ARDEKANI, M.; SHOJAODDINY-ARDEKANI, A. Effect of vitamin C on blood glucose, serum lipids & serum insulin in type 2 diabetes patients. Indian Journal of Medical Research, New Delhi, v. 126, n. 5, p. 471-474, nov. 2007

BENDICH, A., LANGSETH, L. The health effects of vitamin C supplementation: a reviewAmerican Journal of Clinical Nutrition, Bethesda, v.14, n.2, p.124-136, 1995.

GUILLAND, J.C., LEQUEU, B.As vitaminas do nutriente ao medicamento São Paulo : Santos, 1995. 375p. SANTOS, J. T., KRUTZMANN, M. W., BIERHALS, C. C., & FEKSA, L. R. (2019). Os efeitos da suplementação com vitamina C. Revista Conhecimento Online1, 139–163. https://doi.org/10.25112/rco.v1i0.1187

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Suplementação de creatina em idosos

A creatina é capaz de promover melhoras na composição corporal. Foto: Homem foto criado por karlyukav – br.freepik.com

Escrito por Isabella Brescia

Nas últimas décadas, a expectativa de vida da população mundial aumentou, alcançando a média global de aproximadamente 70 e 80 anos em países desenvolvidos. De acordo com dados demográficos, estima-se que até 2050 o número de indivíduos com mais de 60 anos salte dos 605 milhões para 2 bilhões de pessoas em todo o mundo (WHO, 2014). O processo de envelhecimento é acompanhado de uma série de alterações fisiológicas e funcionais. Com o decorrer dos anos torna-se cada vez mais necessário procurar soluções para minimizar e até evitar essas alterações ocasionadas pelo envelhecimento. Dentre essas alterações destacam-se as profundas modificações na composição corporal.

Alterações no padrão de composição corporal, especificamente a redução da massa corporal magra e o aumento do tecido adiposo, se associam à diminuição da força e potência muscular, e como consequência, limitam a capacidade funcional e a autonomia dos idosos, aumentando a propensão ao risco de quedas. Além da redução da massa magra, o envelhecimento gera uma redução entre 20 a 30% na água corporal total dos indivíduos, comprometendo o estado nutricional, interferindo no envelhecimento sadio e ativo. Diversos autores verificaram que o treinamento resistido pode atenuar ou retardar a perda da força muscular, acarretando significantes respostas neuromusculares por meio do aumento da capacidade contrátil dos músculos esqueléticos.

Aliada aos benefícios de programas de treinamento resistido, outras estratégias têm sido implementadas para potencializar os seus efeitos. Entre elas, figura-se a suplementação com creatina, verificada como um auxílio ergogênico eficaz no incremento do desenvolvimento de força, retardo da perda de massa muscular, o processo de remodelamento ósseo e o aumento na retenção hídrica ao tecido muscular.

A creatina é um aminoácido naturalmente presente em humanos, acumula-se, maiormente no músculo esquelético (95%), na forma livre (40%) e em sua forma de fosfocreatina (60%). O corpo humano pode sintetizar creatina o bastante para suprir o funcionamento normal do organismo, ela é formada a partir de três aminoácidos: arginina, glicina e metionina. A creatina é considerada um carnonutriente, sendo disponível apenas por meio de alimentos com origem animal, especialmente nos músculos esqueléticos ou via suplementação, sendo boa parte da necessidade diária obtida por meio de uma dieta onívora típica e o restante sintetizado endogenamente.

A obtenção de creatina via alimentação é cerca de 1-2g em uma alimentação habitual normal, quantidade suficiente para saturar o estoque muscular em 60 a 80%. Neste sentido, a suplementação de creatina possui o intuito de preencher 20 a 40% da creatina muscular. O protocolo de saturação baseia-se na ingestão de 0,3 g de creatina monoidratada por quilo corporal (ou 5 g), administrada 4 vezes ao dia durante um período de 5 a 7 dias consecutivos. Já o protocolo de manutenção dos estoques consiste na ingestão de 3-5g/dia. De acordo com a Sociedade Internacional de Nutrição Esportiva (ISSN), a administração de creatina monoidratada é considerada segura em curto e longo prazo para diferentes faixas etárias, inclusive em idosos. Sua captação muscular é potencializada quando a ingestão é combinada com carboidratos (KREIDER et al., 2017).

Embora estudos com indivíduos muito idosos (> 90 anos) e gravemente frágeis permaneçam escassos, o efeito benéfico da creatina sobre a massa magra e a função muscular parece ser aplicável a esta população, independente do sexo, forma física ou estado de saúde. É indispensável destacar que a creatina em conjunto com o treinamento de resistência pode resultar em maiores adaptações no músculo esquelético em comparação ao treinamento sozinho.

 Em idades avançadas, a síntese de proteínas é mais lenta do que em populações jovens após estímulos anabólicos. Somado a isto, os idosos possuem resistência anabólica, sendo preciso um maior consumo de proteínas para alcançar o mesmo grau de síntese proteica de indivíduos mais novos.

De um modo geral a maioria dos estudos demonstrou que o treinamento resistido melhora a funcionalidade e autonomia dos indivíduos idosos. O treinamento resistido associado à suplementação com creatina foi capaz de promover melhoras na composição corporal, evidenciando aumentos significativos na massa corporal magra, massa muscular e densidade mineral óssea, além de promover redução na massa corporal gorda. Em alguns estudos nos quais houve a adição de proteína (whey protein) os efeitos sobre a massa corporal magra demonstraram ser otimizados.

Referência Bibliográfica

MELO, Aline L.; ARAÚJO, Valbério Cândido; REIS, Washington A. Efeito da Suplementação de creatina no treinamento neuromuscular e composição corporal em jovens e idosos. Revista Brasileira de Nutrição Esportiva, São Paulo. v. 10. n. 55. p.79-86. Jan./Fev. 2016. ISSN 1981-9927

SILVA et al. Suplementação de creatina e treinamento de força em idosos: uma revisão sistemática. Caderno de Educação Física e Esporte, Marechal Cândido Rondon, v. 16, n. 1, p. 247-257, jan./jun. 2018. http://e-revista.unioeste.br/index.php/cadernoedfisica/index KREIDER, R.B., KALMAN, D.S., Antonio, J. et al. International Society of Sports Nutrition position stand: safety and efficacy of creatine supplementation in exercise, sport, and medicine. J Int Soc Sports Nutr14, 18 (2017). https://doi.org/10.1186/s12970-017-0173-z

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Aspectos nutricionais da Fibrose Cística

Mês de conscientização e divulgação da Fibrose Cística.

Escrito por Isabella Brescia

A fibrose cística ou mucoviscidose é a doença genética caracterizada por infecções crônicas e recorrentes do pulmão, insuficiência pancreática e elevados níveis de cloro no suor. É comum na raça branca e atinge igualmente ambos os sexos. O paciente portador dessa doença apresenta secreções mucosas espessas e viscosas, obstruindo os ductos das glândulas exócrinas, que contribuem para o aparecimento de três características básicas: doença pulmonar obstrutiva crônica, níveis elevados de eletrólitos no suor, insuficiência pancreática com má digestão/má absorção e consequente desnutrição secundária.

A insuficiência pancreática, leva a má-absorção de nutrientes especialmente de proteínas e lipídeos e a complicações gastrintestinais tais como prolapso retal, síndrome da obstrução intestinal, constipação e cirrose hepática. A importância do estado nutricional para aumento da sobrevida e bem-estar dos pacientes com fibrose cística é bem documentada na literatura, no entanto, a desnutrição continua sendo um sério problema para os pacientes. Nos Estados Unidos, o peso e a estatura de cerca de 20% das crianças e adolescentes com fibrose cística estão abaixo do percentil 5.

Os problemas nutricionais e as consequências da fibrose cística são multifatoriais e relacionadas com a progressão da doença. Fatores interdependentes, como deterioração da função pulmonar, anorexia, vômitos, insuficiência pancreática e complicações biliares e intestinais são responsáveis pelo aumento das necessidades energéticas, ingestão diminuída e aumento das perdas atribuídas à inadequação nutricional, com consequente perda da massa magra e depressão da função imunológica.

A meta do tratamento nutricional é alcançar e manter o peso ideal para a altura, aumentar e equilibrar a ingestão energética, reduzir a má absorção e má digestão e controlar a ingestão de vitaminas e minerais. Para tanto, o cuidado nutricional adequado deve incluir: terapia de reposição enzimática, dietas hiperenergéticas, e suplementação de micronutrientes.

Em relação à terapia de reposição enzimática, Wood et al. citam que a suplementação enzimática deve ser individualizada, evitando a oferta insuficiente que leva à desnutrição e a excessiva, que causa complicações intestinais, como a colonopatia fibrosante. Segundo estes mesmos autores, a quantidade ideal deve ser ajustada pelo médico em conjunto com a família, de acordo com o ganho de peso, número de evacuações e característica das fezes do fibrocístico.

Com relação às necessidades energéticas, Dowsett cita que para compensar as carências comuns aos fibrocísticos, o tratamento nutricional deve incluir uma recomendação de ingestão para gênero e idade de 120% a 150% das necessidades diárias recomendadas (RDA) para energia. Outros autores 28,47 afirmam que, em relação à recomendação de lipídeos, estes devem corresponder a 40% da distribuição energética total diária, as proteínas devem suprir de 150% a 200% da RDA. Ainda, segundo MaCDonald, a ingestão diária de carboidratos deve ser em torno de 40% a 50% do valor energético total da dieta.

Caso o paciente não consiga ingerir todo o volume energético recomendado é importante fazer uso de suplementos energéticos juntamente com a terapia de reposição enzimática.

A suplementação de vitaminas e minerais faz parte da terapia nutricional. As vitaminas hidrossolúveis são bem absorvidas nos fibrocísticos, embora a vitamina B12 precise ser suplementada em pacientes com ressecção do íleo. Já as lipossolúveis são pouco absorvidas, devido à má absorção de gorduras. Para fazer uma adequada reposição desses nutrientes é importante realizar exames sanguíneos frequentes para identificar qual a real necessidade de suplementação. A maioria dos pacientes está em risco de desenvolver deficiências subclínicas de várias vitaminas lipossolúveis, dentre eles estão os que apresentam má absorção, os que apresentam baixa adesão ao tratamento, doença hepática, ressecção intestinal, ou o atraso no diagnóstico.

 A deficiência da vitamina A nos fibrocísticos é comum, e níveis baixos desse nutriente pode persistir, apesar da terapia de reposição enzimática e de suplementação. Esses pacientes estão com risco maior de desenvolverem hipovitaminose A, porque além da má-absorção ainda existe o estresse inflamatório da doença pulmonar e lesão hepática. No entanto, observa-se maior reserva hepática desse nutriente nestes indivíduos, quando comparados com pessoas hígidas, o que indica um fracasso no transporte ou, mobilização da vitamina A do fígado para os tecidos, ou seja, pode indicar uma deficiência na proteína carreadora de retinol (PCR), e isso é tão grave quanto as infecções, má-absorção e a própria deficiência de vitamina A.

Segundo Sinaappel et al. e MacDonald, a ingestão de vitamina A deve ser elevada o suficiente para alcançar a concentração sérica normal sem provocar efeitos colaterais, geralmente empregando-se doses diárias, que variam de 4.000 a 10.000UI (aproximadamente 2400µg).

Reiter et al. encontraram baixos níveis de metabólitos de vitamina D em pacientes fibrocísticos, apesar de receberem 1.000UI de vitamina D por dia, provavelmente associada à reduzida exposição solar. Thompson demonstrou que pacientes com fibrose cística tinham menor nível de vitamina D no inverno que no verão. A deficiência desta vitamina tem sido associada ao decréscimo na densidade mineral óssea e osteopenia, demonstrando decréscimo nos níveis de cálcio (Ca) e fósforo (P). MacDonald e Vieth citam que, para manter os níveis sanguíneos adequados de vitamina D, é recomenda uma dose diária de 400 a 2 000UI (aproximadamente 20µg) por dia.

Em estudo desenvolvido por WinklhoferRoob et al. foi observado que 45% dos pacientes suplementados com vitamina E apresentaram baixos níveis plasmáticos desse nutriente, enquanto 87% dos pacientes não suplementados eram deficientes. Similarmente, 17% dos pacientes suplementados apresentaram deficiência em vitamina E eritrocítica, enquanto 50% dos pacientes não suplementados estavam deficientes.

Assim, MacDonald afirmam que a suplementação de vitamina E deve ser recomendada, com doses diárias de 50mg até 1 ano de idade, 100mg entre 1 a 10 anos, e 200mg para adolescentes e adultos.

 Os fatores de risco para desenvolver deficiência de vitamina K em fibrocísticos são insuficiência pancreática, doença hepática, ressecção intestinal, e antibioticoterapia. A suplementação dessa vitamina pode ser recomendada, porém não há consenso sobre a dose diária.

Níveis reduzidos de zinco, selênio, cobre e ferro são descritos na fibrose cística. Porém a suplementação com ferro não é recomendada, devido à formação de radicais livres e ao aumento do crescimento da bactéria P. aeruginosa (patogênico oportunista, que raramente causa doenças em um sistema imunológico saudável, mas explora eventuais fraquezas do organismo para estabelecer um quadro de infecção). O zinco é um elemento importante na composição de muitas enzimas, podendo tornar-se deficiente devido à má-absorção de gorduras em pacientes com fibrose cística, pois forma complexos com a gordura e o fósforo.

As crianças fibrocísticas podem perder sal na forma de cloreto de sódio, especialmente em clima quente, ou quando estiver presente febre e/ou diarréia, sendo necessário suplementar 2-4 mmol/kg/dia de cloreto de sódio.

Contudo, há poucos estudos clínicos que avaliam as necessidades nutricionais ideais para os fibrocísticos. As recomendações atuais de ingestão diária são baseadas no quadro patológico de infecção e de má absorção, assim como é recomendado para qualquer paciente com essas disfunções. O uso de proteases e outras enzimas, como a amilase pancreática, também precisa ser melhor avaliado, pois na literatura só há relatos da suplementação com lipases.

A fibrose cística normalmente é diagnosticada na infância, pelos programas de triagem neonatal ou pelo teste do suor. Devido aos vários sistemas envolvidos e à variabilidade e cronicidade da doença, uma abordagem multidisciplinar é essencial para auxiliar o paciente e sua família a compreenderem a doença e aderirem ao tratamento. A terapia atual da fibrose cística inclui a manutenção do estado nutricional, a remoção das secreções das vias aéreas com fisioterapia e mucolíticos, o uso de antibióticos para prevenção e tratamento de infecções, a prescrição de suplementos energéticos, dietas hiperlípidicas e hiperprotéicas, bem como a suplementação de minerais e vitaminas lipossolúveis.

Além dos cuidados com a alimentação do fibrocístico, o vínculo entre pais e filhos portadores deste problema deve ser estimulado. Os pais devem ser informados sobre a doença, os cuidados especiais que ela exige e a importância da adesão ao tratamento, para a melhor qualidade de vida do paciente.

Referência Bibliográfica

DOWSETT J. An overview of nutritional issues for the adult with cystic fibrosis. Nutrition. 16(7/ 8):566-70, 2000.

MACDONALD A. The diet in cystic fibrosis: why is it important? Curr Paed. 10(3):155-61. 48, 2000.

REITER EO, Brugman SM, Pike JW, Pitt M, Dokoh S, Haussler MR, et al. Vitamin D metabolites in adolescents and young adults with cystic fibrosis: effects of sun and season. J Pediatr., 106(1): 21-6. 52, 1985.

ROSA Fernanda Ribeiro;  DIAS Fernanda Gomes;  NOBRE Luciana Neri;  MORAIS Harriman Aley. Fibrose cística: uma abordagem clínica e nutricional. Revista Nutrição, Campinas, 21(6):725-737, nov./dez., 2008

SINAASAPPEL M, Stern M, Littlewood J, Wolfe S, Steinkamp G, Heijerman HGM, et al. Nutrition in patients with cystic fibrisis: a European Consensus. J Cyst Fibros.; 1(2):51-75. 34, 2002.

THOMPSON GN. Determinants of serum vitamin D levels in preadolescent cystic fibrosis children. Acta Paediatr Scand., 76(6):962-5. 53, 1987.

WOOD LG, Gibson PG, Garg ML. Circulating markers to assess nutritional therapy in cystic fibrosis. Clin Chim Acta., 353(1/2):13-29. 28, 2005.

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saúde

Conhecendo a dieta enteral

Administração de dieta via nasal. Foto ilustrativa. Fonte: site Prodiet.

Escrito por Isabella Brescia

A dieta enteral  é o alimento para fins especiais, industrializado, apto para uso por sonda e, opcionalmente, por via oral, consumido somente sob orientação médica ou de nutricionista, especialmente processado ou elaborado para ser utilizado de forma exclusiva ou complementar na alimentação de pacientes com capacidade limitada de ingerir, digerir, absorver ou metabolizar alimentos convencionais ou de pacientes que possuem necessidades nutricionais específicas determinadas por sua condição clínica; em regime hospitalar, ambulatorial ou domiciliar, visando a síntese ou manutenção dos tecidos, órgãos ou sistemas.

As dietas enterais industrializadas podem ser em pó ou líquidas. A dieta em pó deve ser diluída em água filtrada e/ou fervida em temperatura ambiente, respeitando a quantidade de pó e água prescritos. A dieta líquida está pronta para uso e é fornecida em dois tipos de embalagens:

  • Embalagem de sistema aberto: necessita de envase no frasco descartável e deve ser infundida por um período máximo de 4 horas.
  • Embalagem de sistema fechado: não necessita de envase em frasco descartável, a embalagem já está preparada para receber o equipo e o período de infusão varia de acordo com o fabricante.

É muito importante que alguns cuidados com a higiene sejam tomados para que não ocorra a contaminação da dieta durante o preparo e a administração das dietas enterais. Essa contaminação pode ser proveniente dos equipamentos, utensílios e superfícies higienizadas inadequadamente, das condições de higiene dos manipuladores ou do armazenamento inapropriado dos ingredientes ou da dieta pronta.

A fórmula da dieta enteral pode ser padrão ou modificada:

  • Fórmula padrão para nutrição enteral: fórmula para nutrição enteral que atende aos requisitos de composição para macro e micronutrientes estabelecidos com base nas recomendações para população saudável. A quantidade de proteína deve ser de 10 a 20%, podendo ser de origem vegetal ou animal, de lipídeos de 15 a 35%, e de carboidratos de 45 a 75% do valor energético total do produto. A fórmula padrão pode ser acrescida de fibras, respeitando o total de 2 gramas de fibra por 100kcal. A densidade calórica deve ser de 0,9 a 1,2 kcal/ ml
  • Fórmula modificada para nutrição enteral: fórmula para nutrição enteral que sofreu alteração em relação aos requisitos de composição estabelecidos para fórmula padrão para nutrição enteral, que implique ausência, redução ou aumento dos nutrientes, adição de substâncias ou de proteínas hidrolisadas. O conteúdo de nutrientes da fórmula modificada para nutrição enteral deve ser baseado nos requisitos de composição específicos para as fórmulas padrão para nutrição enteral, contendo as modificações destinadas a atender as necessidades especiais de pacientes em decorrência de alterações fisiológicas, alterações metabólicas, doenças ou agravos à saúde.

Além da dieta enteral nutricionalmente completa, a indústria desenvolveu os módulos para nutrição enteral que são compostos somente por um dos principais grupos de nutrientes: carboidratos, lipídios, proteínas, fibras alimentares ou micronutrientes (vitaminas e minerais). O módulo de proteína pode ser constituído por proteínas intactas, proteínas hidrolisadas ou aminoácidos, isolados ou associados. O módulo de micronutrientes pode ser constituído por vitaminas ou por minerais, isolados ou associados.

A escolha da dieta enteral e do uso de módulos pelo profissional deve levar em consideração:

  • Quadro clínico do paciente (patologias e estado nutricional)
  • Densidade calórica e a quantidade de líquido recomendada
  • Fórmula adequada para o tipo de administração e posição da sonda
  • Fonte e complexidade dos nutrientes
  • Composição da fórmula e indicação clínica.

Referência Bibliográfica

DIESTEL, Cristina Fajardo. Apostila Terapia Nutricional Enteral.

Nestlé Health Science. Manual de orientação nutricional enteral em domicílio.

Resolução RDC 21 de 13 de maio de 2015 Resolução RDC 503 de 27 de maio de 2021

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saúde

Conhecendo a Terapia Nutricional Enteral

Terapia nutricional enteral. Foto Ilustrativa.

Escrito por Isabella Brescia

A Terapia Nutricional Enteral  (TNE) compreende um conjunto de procedimentos terapêuticos para a manutenção ou recuperação do estado nutricional do paciente, por meio da ingestão de nutrientes através de uma sonda posicionada ou implantada no estômago, duodeno ou jejuno.

Ela é indicada quando houver risco de desnutrição, ou seja, quando a ingestão oral for inadequada para prover de dois terços a três quartos das necessidades diárias nutricionais, quando o trato gastrointestinal está total ou parcialmente funcionante e o paciente não pode alimentar-se pela boca. Essa terapia está contraindicada nas situações em que o trato gastrointestinal não se encontra íntegro ou funcionante, como por exemplo, no íleo paralítico, nas obstruções intestinais e hemorragias digestivas altas .

A TNE é segura, eficaz, não é isenta de complicações e deve ser rigorosamente monitorizada com a finalidade de detectá-las precocemente. As complicações relacionadas com a terapia podem ser gastrointestinais, mecânicas, metabólicas, respiratórias, infecciosas e psicológicas.

Dentre as complicações gastrointestinais encontramos quadros de diarreia, cólicas, distensão abdominal, náusea, vômito, obstipação intestinal, refluxo, estase gástrica ou intestinal, e outros. Mas na maioria das vezes essas intercorrências são atribuídas à condição clínica do paciente ou ao tratamento medicamentoso (sedativos, analgésicos, opiáceos) que pode reduzir o esvaziamento gástrico e alterar a motilidade intestinal. Além disso, destacam-se as condições e situações clínicas como cirurgias, pancreatites, gastroparesia, neuropatias e outros.

Dentre as complicações mecânicas a mais frequente é a obstrução da sonda nasoentérica, relacionada com a retenção de resíduos da fórmula enteral em seu lúmen, em consequência da alta osmolalidade; da formação de complexos insolúveis fórmula-medicamento; de comprimidos macerados inadequadamente e injetados pela sonda e da precipitação da fórmula em razão da acidez do conteúdo gástrico.

As vias de acesso em Terapia Nutricional Enteral podem estar dispostas no estômago, duodeno ou jejuno, conforme o quadro clínico de cada paciente. A alimentação intragástrica é preferencialmente escolhida, pois o estômago tolera uma variedade de fórmulas mais facilmente do que o intestino delgado; aceita normalmente grandes sobrecargas osmóticas sem cólicas, distensão, vômitos, diarreia ou desvios hidroeletrolíticos, o mesmo não ocorrendo no intestino delgado. Além disso, o estômago exibe uma enorme capacidade de armazenamento e aceita mais facilmente as dietas intermitentes.

Quando a sonda se localiza em porções distais ao piloro (duodeno ou jejuno), o gotejamento da dieta deve ser observado com atenção, uma vez que o escoamento rápido pode ocasionar cólica e diarreia, com consequente queda no aproveitamento nutricional e prejuízo ao paciente. Essa via é preferida para pacientes com gastroparesias, retardo do esvaziamento gástrico, alto risco de aspiração e no período pós-operatório imediato.

O método de administração da Terapia Nutricional Enteral depende da tolerância do paciente, da conveniência e do custo. Pode ser contínua ou intermitente, em bolo ou gravitacional.

 -Intermitente:

a) gravitacional – é utilizada a força da gravidade para a administração de “porções” da dieta;

b) em bolo: é administrado, através de uma seringa, 200 a 300 ml a cada 2-4 horas. A regularidade e o volume dependem da condição do paciente. Geralmente o volume administrado demora menos de 15 minutos. A alimentação é infundida de 4 a 8 vezes ao dia. Esse método de administração é preferível na alimentação em posição gástrica para pacientes estáveis, pois permitem que eles realizem outras atividades.

-Contínua: é o método administrado por gotejamento lento e contínuo ou, preferencialmente, por meio de bomba de infusão, volumétrica (ml/h) ou peristáltica (gotas/h). É utilizado sempre que a sonda estiver em posição pós-pilórica, ou pode ser empregado quando houver dificuldade de esvaziamento gástrico, distensão e risco de aspiração. A diarreia pode ser também uma indicação. Permite que a TNE seja dada em pequenas quantidades, por um longo período iniciando-se, geralmente, com 25 ml/h para possibilitar o desenvolvimento gradual de tolerância ao volume e a osmolaridade da fórmula. A velocidade final, de cerca de 80 a 125 ml/h, é geralmente eficaz para induzir balanço nitrogenado positivo e progressivo ganho de peso, sem produzir cólicas abdominais ou diarreia.

No próximo post falaremos sobre a  Nutrição Enteral (NE) , que é o alimento para fins especiais, com ingestão controlada de nutrientes, na forma isolada ou combinada, de composição definida ou estimada, especialmente formulada e elaborada para uso por sondas ou via oral, industrializado ou não, utilizada exclusiva ou parcialmente para substituir ou complementar a alimentação oral em pacientes desnutridos ou não, conforme suas necessidades nutricionais, em regime hospitalar, ambulatorial ou domiciliar, visando a síntese ou manutenção dos tecidos, órgãos ou sistemas (RDC 503).

Referência Bibliográfica

FUJINO Vanessa; NOGUEIRA Lucimar A.B.N.S. Terapia nutricional enteral em pacientes graves: revisão de literatura. Arq Ciênc Saúde 2007 out-dez;14(4):220-6

Nestlé Health Science. Manual de orientação nutricional enteral em domicílio. Resolução RDC 503 de 27 de maio de 2021

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saúde

Coenzima Q10 se mostra eficaz na prevenção da enxaqueca

Coenzima Q10 na saúde neuronal. Foto ilustrativa.

Escrito por Isabella Brescia.

A enxaqueca é caracterizada por uma dor pulsátil e intensa, que pode afetar um lado da cabeça ou ambos, que se inicia repentinamente podendo ser antecedida ou acompanhada por vários sintomas como gastrointestinais, visuais ou/e neurológicos. Pode iniciar-se em qualquer idade, mas ocorre principalmente em pessoas com idades entre os 10 e 30 anos, afetando mais mulheres do que homens. Estima-se que 12% da população adulta mundial sofrem de enxaqueca. Os desencadeantes mais comuns da enxaqueca são stress, sono irregular, luz solar, menstruação, obesidade e os relacionados a alimentação.

Os desencadeantes alimentares que frequentemente são relacionados ao início de uma crise de enxaqueca são: jejum prolongado, desidratação, consumo de bebidas alcoólicas (vinho tinto, vinho branco, cerveja ou bebidas destiladas) e produtos alimentícios como chocolate, queijos amarelos, frutas cítricas (laranja, limão, abacaxi), linguiça, salsicha e outras conservas de coloração avermelhada que usam nitritos e nitratos como conservantes, café, chá e refrigerante a base de cola, sorvete, alimentos fritos ou ricos em gorduras, aspartame e glutamato monossódico. No entanto, esta relação é controversa e difícil de ser estabelecida uma vez que a sensibilidade as substâncias feniletilamina, tiramina, aspartame, glutamato monossódico, nitratos e nitritos, álcool e cafeína, contidas nestes alimentos, é muito variável entre os pacientes.

Além de agentes farmacológicos, novas estratégias terapêuticas vêm sendo utilizadas na profilaxia e tratamento da enxaqueca, como o uso de nutracêuticos ou suplementos vitamínicos como magnésio, riboflavina e Coenzima Q10. Estudos realizados, na última década, têm indicado que a enxaqueca pode ser causada por uma diminuição na energia mitocondrial, sendo o uso da Coenzima Q10 eficaz na profilaxia desta doença.

A Coenzima Q10, uma vitamina lipossolúvel, sintetizada endogenamente, comumente conhecida como ubiquinona (sua forma oxidada) ou ubiquinol (sua forma reduzida), está envolvida na transferência de elétrons na cadeia mitocondrial, cuja principal função é a produção de ATP, sendo essencial em várias atividades relacionadas ao metabolismo energético. A CoQ10 pode ser encontrada em todas as células do corpo humano, porém as maiores concentrações são observadas nos tecidos do coração, fígado, cérebro e músculo esquelético. Localiza-se na membrana interna das mitocôndrias, possui a capacidade de proteger proteínas da membrana mitocondrial, fosfolipídeos e o DNA dos danos oxidativos, além de poder regenerar outros antioxidantes como o ácido ascórbico e o α-tocoferol.

 A CoQ10 é sintetizada pelas células do corpo humano, mas também pode-se obtê-la a partir de dieta, podendo contribuir para a concentração desta enzima no organismo. Pequenas quantidades são encontradas em ovos, cereais, produtos lácteos, frutos secos como nozes e nos vegetais (principalmente espinafre e brócolis), carne vermelha, peixe e aves são fontes ricas em CoQ10. Ela também é comercializada como suplemento alimentar ou nutracêutico.

Em 2002, Rozen et al. elaboraram um estudo para avaliar a eficácia desta vitamina no tratamento preventivo das enxaquecas. O estudo envolveu 32 pacientes que receberam uma dose de 150mg de Coenzima Q10 por dia. Destes pacientes, 61,3% tiveram uma redução superior a 50% no número de dias com migrânea. O número médio de dias com enxaqueca durante o período inicial foi 7,34 e isso diminuiu para 2,95 após três meses de terapia. A média de redução na frequência da enxaqueca após 1 mês de tratamento foi de 13,1%, aumentando para 55,3% até ao final de três meses. A média de frequência de ataques que era de 4,85 durante o período inicial diminuiu para 2,81 ataques até ao final do período de estudo.

Em outro estudo randomizado, duplo-cego controlado por placebo, onde 42 pessoas receberam 100mg de Coenzima Q10 três vezes por dia, durante três meses, verificou-se que a taxa de resposta dos que receberam a vitamina foi de 50%, contra 14% dos que ingeriram o placebo. O número de ataques de enxaqueca por mês foi reduzido no grupo de tratamento de 4,4 para 3,2, sem alterações no grupo do placebo. Além disso, os participantes que receberam CoQ10 também tiveram menos dias com dor de cabeça e náuseas (SANDER et al., 2005).

Dados publicados referentes a estudos de determinação de riscos para a saúde humana indicaram que a CoQ10 apresenta baixa toxicidade, não induz sérios efeitos adversos no ser humano, e que a administração exógena (respeitando o limite máximo de 12 mg/kg/dia) não tem influência sobre a sua biossíntese endógena ou acúmulo no plasma e tecidos após o término da suplementação.

Referências Bibliográficas

FELIPE, M. R.; CAMPOS, A.; VECHI, G.; MARTINS, L. Implicações da alimentação e nutrição e do uso de fitoterápicos na profilaxia e tratamento sintomático da enxaqueca – uma revisão. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 35, n. 2, p. 165-179, ago. 2010.

JACOBS, MONICA A. P., ACCURSIO, WILMAR. Coenzima Q10, Aplicações Clínicas. BWS Journal, Artigo de Revisão, p. 1-7, 03 de nov de 2020. MAP Jacobs, W Disponível em: <bwsjournal.emnuvens.com.br>

OLIVEIRA, CATARINA I. A. Aspectos farmacológicos da Coenzima Q10. Universidade Fernando Pessoa, Porto. 2012.

ROZEN, T. D.; OSHINSKY, M. L.; GEBELINE, C. A.; BRADLEY, K. C.; YOUNG, W. B.; SHECHTER, A. L.; SILBERSTEIN, S. D. Open label trial of coenzyme Q10 as a migraine preventive. Cephalalgia, v. 22, n. 2, p. 137-141, 2002 SÁNDOR, P. S.; DI CLEMENTE, L.; COPPOLA, G.; SAENGER, U.; FUMAL, A.; MAGIS, D.; SEIDEL, L.; AGOSTI, R. M.; SCHOENEN, J. Efficacy of coenzyme Q10 in migraine prophylaxis: A randomized controlled trial. Neurology, v. 64, n. 4, p. 713-715, 2005. SCHOENEN , J.; JACQUY, J.; LENAERTS, M

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saúde

Imunonutrição – Preparo imunológico do paciente cirúrgico

Ação dos micronutrientes no sistema imunológico. Foto ilustrativa.

Escrito por: Isabella Brescia – Nutricionista

O preparo de uma cirurgia, no geral, envolve exames bioquímicos e de imagem realizados nos dias que antecedem a cirurgia, no entanto, estar saudável e com a imunidade fortalecida faz toda a diferença na recuperação pós cirúrgica. Estar com a imunidade fortalecida significa a capacidade do organismo em se defender de agentes agressores que em um processo cirúrgico podem ocasionar complicações pós-operatórias, incluindo infecções, tromboembolismo, complicações do estado geral, recuperação mais lenta, maior tempo de internação e readmissões.

Para este preparo existem nutrientes específicos que auxiliam no reforço do sistema imunológico, entre esses nutrientes temos a arginina, ômega-3 e nucleotídeos entre os mais estudados principalmente em sinergia, atenuando a resposta inflamatória, fortalecendo o sistema imunológico e estimulando a cicatrização.

A L-arginina, aminoácido cujo caráter é semi-essencial, em estados de estresse passa a ser considerada condicionalmente essencial, possui importante efeito imunomodulador, podendo atuar sobre atividades biológicas, fisiológicas e imunológicas. A L-arginina atua sobre a proliferação e maturação de linfócitos T, os quais exercem papel fundamental no sistema de defesa, está envolvida na regulação da pressão sanguínea, perfusão tecidual, metabolismo celular e síntese do óxido nítrico, sendo fatores chave no processo de cicatrização, além de estar relacionada a síntese de hormônios como a insulina, glucagon e hormônio do crescimento.

Os ácidos graxos poli-insaturados ômega-3, são considerados essenciais, e fontes de docosaexaenoico (DHA) e ácido eicosapentaenoico (EPA), derivados do óleo de peixe. Estes exercem importantes efeitos anti-inflamatórios por meio da redução da agregação plaquetária e dos efeitos da resposta inflamatória sistêmica, uma vez que aumentam a proliferação de citocinas anti-inflamatórias como interleucinas (IL) IL-10 e IL-13. Além disso, são importantes na transdução de sinais e síntese da membrana celular, uma vez que compõem os fosfolipídeos que são responsáveis pela fluidez da membrana. Os ácidos graxos poli-insaturados são ainda capazes de suprimir o crescimento tumoral por meio da promoção da apoptose celular, e estão envolvidos na diferenciação de receptores de antígenos e produção de anticorpos.

Já os nucleotídeos, moléculas precursoras de ácidos nucleicos, ácido desoxirribonucleico (DNA) e ácido ribonucleico (RNA), são importantes fatores na síntese proteica e manutenção da homeostase de linfócitos, sendo responsáveis pela redução da susceptibilidade a infecções e na reconstituição da parede intestinal principalmente em casos de nutrição parenteral. Em situações de estresse as necessidades estão aumentadas, e a deficiência pode levar a perda da função dos linfócitos T e redução das interleucinas anti-inflamatórias.

Nos últimos anos, estudos relacionam a melhora do estado nutricional e sistema imunológico por meio da utilização de fórmulas enterais com o objetivo de fornecer nutrientes necessários e adequados, sendo ainda buscadas novas estratégias terapêuticas que permitam modular a resposta metabólica causada pelo estresse. A European Society for Clinical Nutrition and Metabolism (ESPEN) recomenda o uso de nutrição enteral com fórmulas imunomoduladoras tanto no pré quanto no pós-operatório de pacientes cirúrgicos, sendo a recomendação de uso de cinco a sete dias independente do risco nutricional apresentado pelo indivíduo, podendo ser estendida a 14 dias em casos de desnutrição, visando a redução do risco de surgimento de complicações.

Referências bibliográficas

CARMO SG, FORTES RC. EFEITOS DO USO DE FÓRMULAS IMUNOMODULADORAS EM PACIENTES CIRÚRGICOS PORTADORES DE CÂNCER DO TRATO GASTROINTESTINAL. Rev. Cient. Sena Aires. 2019; 8(1): 96-111.


ROSINA, Kelli Trindade de Carvalho; COSTA, Célia Lopes da. USO DE TERAPIA NUTRICIONAL IMUNOMODULADORA EM PACIENTES POLITRAUMATIZADOS: UMA REVISÃO DA LITERATURA / USE OF IMMUNOMODULATION NUTRITIONAL THERAPY IN POLYTRAUMA PATIENTS: A LITERATURE REVIEW. CERES: Nutrição & Saúde (Título não-corrente), [S.l.], v. 5, n. 2, p. 89-100, ago. 2011. ISSN 1981-0881. Disponível em: <https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/ceres/article/view/1915>. Acesso em: 20 jul. 2021. PEREIRA, Ana Bárbara Costa. EFEITOS DA IMUNONUTRIÇÃO NA RECUPERAÇÃO CIRÚRGICA DE DOENTES COM CANCRO GÁSTRICO. Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto. Porto, 2019. Disponível em: https://repositorio-aberto.up.pt/bitstream/10216/122142/2/350047.pdf. Acesso em: 20 jul. 2021.

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saúde

Ômega 3 e COVID 19

Ômega-3 pode melhorar os resultados clínicos de pacientes criticamente enfermos no estado agudo fase da SDRA. Foto ilustrativa.

Escrito por Isabella Brescia

Os ácidos graxos ômega-3 são ácidos graxos poli-insaturados (PUFAs) que estão disponíveis em abundância na natureza. Dentro da família ômega-3, podemos encontrar o ácido linolênico (LNA) e seus derivados, incluindo o ácido α-linolênico (ALA), o ácido eicosapentaenóico (EPA) e o ácido docosahexaenóico (DHA). Todos os quais são elementos cruciais para as funções de várias células e órgãos, como cérebro, olhos, sistemas cardiovascular e imunológico. Os ácidos graxos ômega-3 pertencem ao grupo de ácidos graxos essenciais e estudos demonstraram que nossos corpos não podem sintetizá-los, portanto, devem ser obtidos na dieta.

Em cerca de 10% dos pacientes infectados com SARS-CoV-2, os sintomas da doença coronavírus-2019 (COVID-19) são complicados com um dano pulmonar grave denominado Síndrome do desconforto respiratório agudo (SDRA), que costuma ser letal. A SDRA está associada principalmente a uma superprodução descontrolada de células imunes e citocinas, chamada de “síndrome da tempestade de citocinas”; aparece 7-15 dias após o início dos sintomas, levando a inflamação sistêmica e falência de múltiplos órgãos. Os PUFAs poderiam ajudar a melhorar a resolução do equilíbrio inflamatório, limitando, portanto, o nível e duração do período inflamatório crítico. Os ômega-3 também podem interagir em diferentes estágios da infecção viral, principalmente na entrada e replicação do vírus. O uso de ômega-3 merece, portanto, ser considerado, com base em estudos clínicos anteriores que sugerem que a suplementação de ômega-3 pode melhorar os resultados clínicos de pacientes criticamente enfermos no estado agudo fase da SDRA.

Nesse contexto, é fundamental lembrar que os níveis de ingestão alimentar de PUFA ômega-3 nos países ocidentais permanecem amplamente abaixo das recomendações atuais, considerando tanto o precursor ômega-3 do ácido α-linolênico (ALA) quanto derivados de cadeia longa, como o ácido eicosapentaenóico (EPA) e ácido docosahexaenóico (DHA). Um status otimizado de PUFAs ômega-3 pode ser útil para prevenir doenças infecciosas, incluindo COVID-19.

Os ácidos graxos ômega-3 têm sido investigados repetidamente desde 1994, quando os benefícios à saúde foram estabelecidos pela primeira vez. Descobriu-se que eles reduzem o risco de trombose em doenças cardiovasculares e podem impactar positivamente em doenças inflamatórias, função cerebral e saúde mental, entre uma infinidade de outros benefícios.  Os ácidos graxos ômega-3 melhoram a função dos macrófagos, secretando citocinas e quimiocinas, promovendo a capacidade de fagocitose e ativando macrófagos. Os ômega-3 também são conhecidos por regular negativamente o Fator Nuclear-κ Beta (NF-κB). O NF-κB é considerado um fator de transcrição envolvido na sinalização celular para iniciar uma resposta inflamatória pelo sistema imunológico inato. O estudo mostra que o óleo de peixe aumenta a resposta antiviral induzindo interferon (IFN), que inibe a replicação viral, portanto, podem ser usados ​​para modular as respostas de citocinas a invasores virais.

Todas as pessoas correm o risco de ser infectadas pelo SARS-CoV-2 se expostas; no entanto, nem todos desenvolvem infecções graves com risco de vida. Pacientes que são mais suscetíveis a desenvolver infecções graves incluem pacientes com comorbidades como diabetes mellitus, doença pulmonar obstrutiva crônica, doença pulmonar intersticial, insuficiência cardíaca crônica, doenças das artérias coronárias, cardiomiopatias, síndrome metabólica e hipertensão. A faixa etária mais velha (especialmente acima de 85 anos de idade) e com condições médicas subjacentes, como doença renal crônica, doença falciforme, fibrose cística, doenças cerebrovasculares, doenças hepáticas, tabagismo, talassemia, doenças neurológicas como demência e estado imunocomprometido devido ao transplante de órgão sólido, obesidade, uso de esteróides / outras drogas imunomoduladoras, transplante de medula óssea também estão em risco aumentado. Os ômega-3 podem desempenhar um papel no COVID-19, reduzindo os marcadores inflamatórios e diminuindo as complicações.

Os ácidos graxos ômega-3 são suplementos reconhecidamente seguros e raramente causam alguns efeitos adversos leves, como gosto desagradável, mau hálito e alteração no odor corporal, náuseas, vômitos, fezes amolecidas e aumento da frequência das fezes, podem estar associados ao consumo de ácidos graxos ômega-3. Poucos pacientes relatam sintomas leves neurológicos, como tontura e insônia. A combinação de PUFA de cadeia longa, como óleo de peixe, com outros anticoagulantes, como varfarina e aspirina, aumentam o risco de sangramento devido a inibição da agregação plaquetária.

Existem vários benefícios dos ácidos graxos ômega-3 e tomá-lo como suplemento pode estar associado à prevenção da entrada do vírus pela alteração da composição das gorduras na membrana bilipídica das células. Os ômega-3, como DHA e EPA, desempenham seu papel sendo incorporados na membrana celular e afetando a aglomeração de receptores, evitando sinais que ativam NF-κB e ajudam a melhorar as complicações de COVID-19 pela menor produção de mediadores pró-inflamatórios. DHA e EPA são precursores de partículas chamadas resolvinas D e E, que reduzem os mediadores pró-inflamatórios, reduzindo assim o recrutamento de neutrófilos pulmonares, aumentando a apoptose por macrófagos e, subsequentemente, diminuindo a produção de IL-6 bronco-alveolar e, como resultado, diminuindo a inflamação do pulmão.

Vários ensaios clínicos estão sendo conduzidos para investigar o tratamento mais apropriado para SARS-CoV-2. Devido às suas propriedades anti-inflamatórias, imunomodulatórias e outras várias propriedades benéficas, o ácido graxo ômega-3 pode desempenhar um papel como uma escolha de suplemento durante a pandemia.

Referência Bibliográfica

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